Haiti

Terremoto deixa hospitais do Haiti saturados e tempestade tropical severa se aproxima do país

Enquanto ainda mensura as perdas humanas e materiais do terremoto, o Haiti se prepara para receber, no início da semana, a tempestade tropical Grace

Hospital saturado no Haiti após grande terremoto com milhares de vítimas - Reginald Louissaint Jr./AFP

Instalados em bancos, acomodados em cadeiras ou deitados no chão sobre lençóis, os feridos no terremoto que atingiu o sudoeste do Haiti, no sábado (14), lotam o serviço de emergência do hospital de Les Cayes, que começou a receber reforços, neste domingo (15).

"No momento do terremoto, havia apenas três médicos em serviço", lembra o Dr. Michelet Paurus. “Esta manhã está melhorando porque recebemos ortopedistas, cirurgiões e também 42 residentes que estão distribuídos em todos os hospitais do departamento”, explica o médico emergencista.

Rudolphe Steven Jacques, médico de 26 anos, é um dos profissionais de saúde que chegou da capital, Porto Príncipe.

“A falta de material é crônica, depende das chegadas. Olha, essa mulher está me esperando para fazer a sutura há algum tempo, mas não tenho bandeja para isso no momento”, lamenta o jovem médico, mostrando uma grande ferida na perna de um paciente sentado em um canto.

Nas pequenas salas deste hospital, pacientes e médicos se acotovelam.

“Ainda chegam muitos feridos esta manhã, eu não esperava: são os que vêm de áreas mais remotas. Como vocês podem ver, o atendimento de emergência é muito procurado, mas estamos fazendo todo o possível para atender as pessoas”, garante à AFP o Dr. Jacques.

Imediatamente após o violento terremoto de magnitude 7,2, os hospitais da terceira cidade do país ficaram saturados diante do afluxo maciço de feridos.

“Quando o terremoto aconteceu, eu estava em casa. Uma vibração me fez voar pelo ar e cair sobre o meu braço. Vizinhos vieram me ajudar a pegar um táxi. Passei por vários hospitais, mas estavam sobrecarregados”, lembra Venel Sénat, um corpulento quadragenário.

"Esta manhã eu vim aqui e eles finalmente me trataram. Eles me fizeram um raio-X de graça e colocaram esse gesso em mim, também de graça", diz ele aliviado, mostrando o braço direito em uma tipoia.

Morador de Les Cayes, com a casa totalmente destruída, Venel Sénat espera no pátio do hospital que um dos medicamentos prescritos para ele esteja disponível na farmácia do estabelecimento, pois as farmácias localizadas no centro da cidade permanecem fechadas.

Após terremoto, tempestade tropical severa se aproxima do país
Enquanto ainda mensura as perdas humanas e materiais do terremoto de sábado (14), o Haiti se prepara para receber, no início da semana, a tempestade tropical Grace, comum nesta época do ano, mas com potencial agravante para o país caribenho.

Formada no Atlântico, a tempestade severa pode chegar a ventos de 100 a 120 km/h e seu núcleo deve passar por cima do território haitiano na segunda ou terça-feira, segundo previsões meteorológicas.

A agência nacional de proteção civil do Haiti anunciou que a tempestade já se aproximava do arquipélago das Antilhas no sábado e pediu que a população fique atenta às recomendações das autoridades. A vizinha República Dominicana emitiu alerta para as costas sul e norte, onde são esperadas fortes chuvas, ventos, inundações e deslizamentos de terra.

De acordo com Leonardo Calvetti, chefe do Centro de Previsões e Pesquisas Meteorológicas da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), a tempestade preocupa não por sua dimensão, mas pela forte vulnerabilidade que vive o Haiti. "Com muitas estruturas perto de cair e hospitais lotados devido ao terremoto, é difícil comportar ventos dessa intensidade."

Uma tempestade com as proporções da Grace, explica Calvetti, da Ufpel, se assemelha às tempestades de verão em São Paulo, comuns no início do ano e que costumam causar quedas de árvores, apagões elétricos, deslizamentos e problemas de mobilidade. Já no estado é possível observar as consequências, mas a infraestrutura precária do Haiti, fragilizada pelo terremoto, agrava a situação.

"Se fosse em qualquer outra região, isso não seria um problema. Só seria dada dimensão semelhante se fosse um furacão, mas, devido à vulnerabilidade do Haiti, a situação será triste", diz o meteorologista.

O terremoto de sábado pode aumentar a chance de deslizamentos de terra ocasionados pela tempestade tropical, explicou Robbie Berg, do Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos, ao New York Times. "É possível que partes do solo tenham sido deslocadas, o que tornaria os deslizamentos mais fáceis."

A tempestade contornou Porto Rico no domingo e segue para Haiti e República Dominicana. Em seguida, se dirige para a ilha de Cuba antes de ir para o norte, na Costa Leste dos Estados Unidos.

A Grace é a sétima tempestade da temporada de furacões do Atlântico neste ano e vem na esteira da tempestade Fred, que ao longo da semana passou por República Dominicana -onde deixou milhares sem eletricidade e água encanada- Cuba e Flórida (EUA).