Bolsonaro ouve tema de 'Missão Impossível' e dá tiro de artilharia em treino da Marinha
Exercício militar foi justificativa usada para desfile visto como tentativa de intimidar Congresso na semana passada
A demonstração da Marinha na semana passada usada como justificativa para o criticado desfile de blindados em frente ao Palácio do Planalto teve nesta segunda-feira (16), em Formosa (GO), tiros de artilharia disparados pelo presidente Jair Bolsonaro e pelo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), um dos principais líderes do centrão.
A agenda de Bolsonaro nesta manhã foi praticamente toda ocupada para acompanhar a Operação Formosa, maior exercício anual da Marinha realizada no Planalto Central.
É a primeira vez que um presidente da República assiste o exercício, que durou aproximadamente duas horas e foi transmitido pela TV Brasil, rede de comunicação do governo.
No início da demonstração, Bolsonaro e Ciro foram chamados a disparar peças de artilharia que simularam o bombardeio de posições inimigas. As peças eram obuseiros de 105 mm, com alcance de 17 quilômetros, segundo explicou o cerimonial do Ministério da Defesa.
A simulação ocorre numa área militar em Formosa (GO), a cerca de 80 km de Brasília.
Além de Bolsonaro e Ciro, estiveram os ministros Walter Braga Netto (Defesa), Augusto Heleno (Segurança Institucional), Marcelo Queiroga (Saúde) e Gilson Machado (Turismo). Os comandantes da Marinha, almirante Almir Garnier, e do Exército, general Paulo Sérgio, também compareceram.
Os exercícios foram acompanhados ainda de dezenas de adidos militares e por parlamentares aliados do Planalto, entre eles o senador Marcos Rogério (DEM-RO).
Embora a presença de Bolsonaro estivesse confirmada desde a semana passada, a participação do presidente numa demonstração de tiro de artilharia não foi avisada previamente pelo Ministério da Defesa.
A Operação Formosa, realizada desde 8 de julho com o deslocamento de equipamento e veículos do Rio de Janeiro, envolve cerca de 2.500 militares das três Forças. A demonstração na manhã desta segunda foi uma parte dos exercícios e buscou simular situações de combate após um desembarque anfíbio.
A simulação começou com voos de reconhecimento e de bombardeio, seguidos dos disparos de artilharia.
Na etapa posterior, militares fizeram demonstração de destruição de objeto suspeito de apresentar risco químico ou biológico. A ação dos militares nesse ponto ocorreu ao som da música tema do filme de ação Missão Impossível.
A simulação teve ainda disparos de armamentos em blindados, tanques, helicópteros e aviões, além de lançadores de foguetes.
Houve ainda salto de um grupo de paraquedistas que entregou uma bandeira do Brasil a Bolsonaro. O presidente não deu declarações aos jornalistas que estavam no local.
Na semana passada, o desfile militar armado para entregar o convite a Bolsonaro foi criticado por diversos parlamentares, que viram na exibição de tanques e blindados pela Esplanada dos Ministérios uma tentativa de intimidar o Parlamento.
O desfile ocorreu no dia em que a Câmara analisou -e rejeitou- uma PEC (Proposta da Emenda à Constituição) que buscava instituir o voto impresso no país, uma bandeira bolsonarista.
A insistência do mandatário na defesa do voto impresso tem sido apontada por críticos como um caminho para que ele conteste o resultado das eleições de 2022, caso seja derrotado.
Bolsonaro tem afirmado, sem nunca apresentar provas, que haverá fraude no pleito do ano que vem. A escalada de declarações golpistas abriu uma crise com o Judiciário.
No fim de semana, Bolsonaro disse que pediria ao Senado a abertura de processos contra os ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, ambos do STF (Supremo Tribunal Federal).