Economia

Bolsa perde o patamar de 120 mil pontos com incertezas domésticas e cenário internacional

No Brasil, continuam a repercutir entre investidores as desavenças entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o STF (Supremo Tribunal Federal)

Bolsa de valores de São Paulo - Luiz Prado/Divulgação/BM&FBOVESPA;

As incertezas do cenário doméstico somadas aos recentes noticiários internacionais fizeram com que a Bolsa de Valores brasileira perdesse o patamar de 120 mil pontos nesta segunda-feira (16). O Ibovespa, principal índice acionário do país, encerrou em queda de 1,66%, aos 119.180 pontos, no pior patamar desde maio.

No Brasil, continuam a repercutir entre investidores as desavenças entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o STF (Supremo Tribunal Federal). Dúvidas sobre como o governo deve lidar com as questões fiscais em torno do orçamento para 2022 e as discussões em relação à reforma tributária, que pode ser votada ainda nesta semana, também seguem no radar.

"Entre os pontos que preocupam o mercado está essa reforma [tributária], que é extremamente populista e que ao invés de simplificar a vida do contribuinte brasileiro, complica e, provavelmente, ainda sobe carga tributária", afirmou o economista-chefe da Integral Group, Daniel Miraglia.

"O mercado também deve acompanhar de perto a questão institucional, com o embate entre o Judiciário e o Executivo. Isso também tem criado no mercado um receio de instabilidade institucional e tem gerado incertezas sobre o que pode acontecer ao nos aproximarmos das eleições de 2022", completou Miraglia.

No sábado (14), um dia depois da prisão de Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), Bolsonaro afirmou que pedirá ao Senado a abertura de processos de impeachment contra os ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, do STF. Barroso também preside o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Nesta segunda (16), o vice-presidente Hamilton Mourão disse que acha difícil que o Senado aceite o pedido de impeachment, mas defendeu o direito de Bolsonaro de agir contra os ministros.

Para Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora, outro ponto que também repercutiu no ambiente doméstico foi o aumento das projeções para a taxa básica de juros Selic no último relatório Focus, do Banco Central, divulgado nesta segunda (16).

"A curva de juros segue ganhando força diante dos ruídos políticos e dos temores quanto ao rumo do fiscal, fator que, somado ao ritmo da inflação, elevou mais uma vez a expectativa para Selic", afirmou.

A projeção saiu de 7,25% para 7,50% ainda neste ano. A expectativa para a inflação também teve uma nova alta e saiu de 6,88% para 7,05% em 2021. A curva de juros para quatro anos subiu de 9,54% ao ano para 9,76% na comparação intraday (período de um dia de negociação).

Nos mercados internacionais o dia também foi marcado por uma alta volatilidade. Em parte, o mercado repercutiu os dados industriais e de consumo divulgados pela China, que vieram abaixo do esperado.

"Isso fez com que as Bolsas mundiais fossem puxadas para baixo, talvez indicando uma desaceleração ou uma entrega menor do que a prevista para o nível pós-pandemia. O mercado também acompanha o desenrolar da variante delta do coronavírus ao redor do mundo", afirmou o especialista da Valor Investimentos Davi Lelis.

Outro ponto relevante que mexeu com as Bolsas em Wall Street foi a tomada de poder do Afeganistão por parte do Taleban, grupo que virou sinônimo de radicalismo fundamentalista islâmico.

No domingo, as tropas do Talibã entraram em Cabul pela primeira vez desde 13 de novembro de 2001, quando tiveram de se retirar da capital sob as bombas americanas e britânicas, que abriram caminho para as forças da chamada Aliança do Norte.

Segundo Lelis, a volatilidade vista nos índices americanos acabou repercutindo uma certa especulação sobre qual seria o posicionamento da potência mundial em relação à tomada de poder no Afeganistão.
 



"Os Estados Unidos vinham retirando tropas do Afeganistão e, agora, especula-se qual será o posicionamento do país nessa nova fase, depois de o presidente [afegão] ter sido deposto e de acomodação de um governo mais extremista", afirmou.

No final da tarde desta segunda-feira (16), em seu primeiro pronunciamento sobre o caso, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, lavou as mãos sobre a tomada de poder no Afeganistão.

Biden reafirmou sua decisão de retirar as tropas americanas do país e atribuiu a culpa do colapso ao governo e aos militares afegãos.

"Os líderes do país fugiram. Isso comprovou que não devemos estar lá. Não devemos lutar e morrer em uma guerra que os afegãos não querem lutar. Demos a eles todas as chances que podíamos, mas não podíamos dar a vontade de lutar", disse Biden, em discurso na Casa Branca, nesta segunda (16).

Ao final da sessão, os índices Dow Jones e S&P se recuperaram das perdas vistas no início do dia e atingiram novas máximas recordes. Os índices encerraram com ganhos de 0,31% e 0,26%, respectivamente. O Nasdaq Composite fechou em queda de 0,20%.

Por aqui, entre os destaques negativos do Ibovespa, ficaram as ações da Petrobras, que caíram 1,47% (ordinárias, com direito a voto) e 1,53% (preferenciais, sem direito a voto), refletindo a queda nos preços do petróleo no exterior. Os dados chineses também trouxeram baixas para o setor de mineração e siderurgia. Usiminas caiu 4,96%, seguida por Gerdau e CSN, com quedas de 3,13% e 2,72%, respectivamente.

A elevação das projeções para a Selic também refletiu em queda no setor financeiro. Itaú caiu 1,15%, seguido por Bradesco e Santander, que recuaram 0,82% e 0,29%, nesta ordem.

No câmbio, o dólar encerrou em alta de 0,66%, a R$ 5,2810. Além de repercutir os maiores ganhos da divisa no exterior, a valorização da moeda americana ante o real também refletiu uma maior aversão ao risco diante das tensões políticas e fiscais do cenário doméstico.