Ruídos do novo Bolsa Família fizeram expectativa de inflação do mercado subir, diz Campos Neto
Na simulação do BC, a inflação deve ficar no centro da meta no próximo ano
O presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, afirmou nesta terça-feira (17) que ruídos em torno do novo Bolsa Família, o Auxílio Brasil, foram responsáveis pela elevação das expectativas do mercado para a inflação de 2022 acima do projetado pela autoridade monetária.
Na simulação do BC, a inflação deve ficar no centro da meta no próximo ano, que é de 3,5% com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. Já o mercado, de acordo com o último boletim Focus divulgado pela autarquia, espera que o índice encerre o período em 3,9% -há um mês, a expectativa era de 3,75%.
"Reconhecemos que há grande quantidade de ruído em torno do Bolsa Família e de novas medidas que o governo divulgou", afirmou em referência também à PEC (Proposta de Emenda à Constituição) dos precatórios (dívidas do governo na Justiça).
O titular do BC disse, em evento virtual promovido pelo Bradesco BBI em inglês, que os economistas esperam um déficit fiscal maior do que o esperado neste e no próximo ano, que, segundo ele será de 1,7% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2021 e perto de zero em 2022.
"Isso criou um ambiente que ultrapassa o real fato de que quando olhamos a dívida bruta, vemos que está muito melhor que antes", afirmou.
Segundo ele, dúvidas sobre como será desenhado o novo programa social do governo tem afetado as expectativas do mercado.
"Esse ruído recente em torno de como o novo Bolsa Família será está gerando muito barulho nos dados, isso é um fato. O governo tem que passar uma mensagem forte em relação a isso", disse Campos Neto.
Para o presidente do BC, o governo precisa explicar de onde sairá o dinheiro para financiar o Auxílio Brasil, "porque no fim do dia a sensação [no mercado] é de que o governo vai fazer um programa maior sem ter disciplina fiscal".
Campos Neto ressaltou, no entanto, os dados são melhores que os projetados pelos economistas.
"No fim também tenho que reconhecer que quando olhamos os números em si e as nossas conquistas, temos um cenário melhor do que estávamos esperando no meio da crise da Covid", afirmou.
Ele reiterou que o BC fará o que for necessário para levar a inflação para a meta em 2022 e 2023.
"É importante entender como reagimos com os dados que temos no momento", disse.