Bolsa inverte o sinal e acumula perdas de 2,59% na semana
Parte da explicação para o tombo das Bolsas vem do receio de um retrocesso econômico
O noticiário internacional intenso e as crescentes preocupações em relação ao cenário político e fiscal no âmbito doméstico fizeram a Bolsa de Valores brasileira reverter o sinal positivo que vinha carregando até agora.
Apesar de ter encerrado a sessão desta sexta-feira (20) em alta de 0,76%, aos 118.052 pontos, o Ibovespa, principal índice acionário brasileiro, terminou a semana com perdas acumuladas de 2,59%.
No ano, a queda é de 0,81% -até a semana passada, o índice acumulava um ganho de 1,83% para o período.
"Tivemos uma semana ruim por vários motivos. Dentre eles, o aumento do número de casos da variante delta e as tensões geopolíticas trazidas pela tomada de poder do Afeganistão no começo da semana", afirmou o presidente da Veedha Investimentos, Rodrigo Marcatti.
Parte da explicação para o tombo das Bolsas vem do receio de um retrocesso econômico, que ganhou força depois que as duas maiores potências mundiais (EUA e China) trouxeram dados fracos de consumo, vendas e produção.
O resultado, aquém do esperado pelo mercado, preocupou agentes financeiros. A tensão só arrefeceu nesta sexta-feira, depois de o presidente da distrital do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de Dallas, Robert Kaplan — que é uma das vozes fortes entre os membros do Fomc (comitê de política monetária do Fed) —, ter afirmado que a variante delta ainda não teve impacto material na economia dos Estados Unidos.
Kaplan disse, porém, que as incertezas envolvendo a pandemia ainda podem forçá-lo a mudar sua avaliação sobre os próximos passos da autoridade monetária. "Manterei minha mente aberta sobre isso e observarei se a delta está tendo um impacto mais negativo a ponto de eu ter que ajustar minhas visões", afirmou.
"A manutenção dos estímulos eleva o apetite ao risco dos investidores, ainda mais nos mercados emergentes, que sofreram neste mês e se encontram em níveis importantes de suporte e um nível de risco retorno mais atrativo", disse o analista da Clear Corretora Rafael Ribeiro.
Enquanto isso, no Brasil, apesar de os bons resultados da última temporada de balanços corporativos terem ajudado a Bolsa a performar melhor ao longo do mês, os investidores ainda seguem cautelosos diante das questões políticas e fiscais.
"Toda hora sai alguma notícia que o teto de gastos pode ser maquiado ou furado e isso, obviamente, desanima muito o mercado", afirmou Marcatti.
O ministro Paulo Guedes (Economia) e sua equipe têm elevado a pressão no Congresso sobre os efeitos no Orçamento do ano que vem, caso o parcelamento das dívidas de precatórios não seja autorizado. Precatórios são dívidas do governo reconhecidas pela Justiça.
Outras pautas econômicas também estão no radar dos investidores. Nesta sexta, Guedes chegou a afirmar que prefere que não haja uma reforma tributária do que ver uma proposta piorar o sistema atual.
A declaração é feita em meio às incertezas sobre os diferentes projetos em discussão entre governo e Congresso.
"O mercado financeiro faz uma leitura mais perigosa em relação ao teto de gastos, com um cenário político e fiscal ainda muito complicado de pano de fundo. Além disso, um presidente acuado também pode cometer ações mais populistas e gastar mais", completou.
Nesta semana, uma pesquisa da XP em parceria com o Ipespe (Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas) apontou que a popularidade do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), caiu ainda mais. O nível de rejeição foi a 54%.
No Ibovespa, as ações da Sabesp tiveram a maior alta da Bolsa nesta sexta, chegando a disparar quase 15% depois de o recém-nomeado secretário de Projetos e Ações Estratégicas de São Paulo, o deputado federal Rodrigo Maia, ter dado declarações sobre a privatização da empresa de saneamento básico paulista.
"Acho que é uma coisa simbólica organizar a privatização, a concessão, deixar isso organizado até o final da minha gestão", afirmou Maia. Os papéis da Sabesp terminaram com alta de 10,86%, a R$ 36,55.
No câmbio, o dólar encerrou em queda de 0,68%, a R$ 5,3850, também refletindo o maior apetite ao risco por parte dos investidores.
A moeda, que chegou a superar os R$ 5,47 nesta sexta, acumula alta de 2,7% na semana. No ano, a divisa tem ganhos de 3,8%.
A desvalorização do real ante o dólar ao longo dos últimos meses também reflete a maior exigência de prêmio de risco dos investidores diante das questões político-fiscais brasileiras e da leitura que os EUA podem cortar estímulos antes do esperado.
Nesta sexta, o real foi a moeda que mais se valorizou ante o dólar em uma cesta de divisas emergentes, seguida pelo peso filipino e pela lira turca.
Nos juros, apesar de as curvas futuras terem aliviado um pouco da pressão vista na véspera, as taxas continuam a marcar os dois dígitos.
As taxas de juros para cinco anos estavam em 10,03% nesta sexta (20) — contra os 10,17% registrados na quinta —, enquanto as taxas para nove anos ficaram em 10,47%, ante 10,66%.
O risco-país, medido pelo CDS de cinco anos, também continua a subir. Só em agosto o indicador acumula alta de 7,57%. No ano, acumula avanço de 32,98%.