Talibãs culpam os Estados Unidos pelo caos no aeroporto de Cabul
Milhares de pessoas se acumulam na tentativa de conseguir voar para outro país
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Os talibãs responsabilizaram, neste domingo (22), os Estados Unidos pelo caos no aeroporto de Cabul, onde milhares de afegãos tentam desesperadamente pegar um avião e fugir do país, arriscando suas vidas.
Para "garantir evacuações seguras e evitar uma crise humanitária", os líderes do G7 realizarão uma reunião virtual na terça-feira, anunciou o primeiro-ministro britânico Boris Johnson, que atualmente preside o grupo.
Desde que entraram em Cabul no domingo passado, os talibãs deixaram o aeroporto nas mãos dos Estados Unidos, que agora acusam de "fracassarem em impor ordem no aeroporto".
"Reina a paz e a ordem em todo o país, mas há caos somente no aeroporto de Cabul", disse Amir Khan Mutaqi, um dirigente talibã, acrescentando que "isso deve acabar o mais rápido possível".
Embora esse movimento islâmico se esforce para prometer uma versão mais moderada de seu regime brutal de 1996 a 2001, milhares de afegãos aterrorizados continuam tentando fugir pelo aeroporto.
Em meio ao caos, sete pessoas morreram no sábado, disse o Ministério da Defesa britânico, sem especificar se foi um único incidente ou vários.
A rede britânica Sky News divulgou no sábado imagens de pelo menos três corpos cobertos com um plástico branco fora do aeroporto e seu repórter Stuart Ramsay disse que as pessoas estavam sendo esmagadas e outras "desidratadas e aterrorizadas".
Anteriormente, viralizaram imagens de um bebê sendo entregue a um soldado sobre o muro aeroporto e cenas de terror de pessoas penduradas em aviões durante a decolagem.
Enquanto isso, várias famílias esperam amontoadas entre os fios que separam os talibãs das tropas americanas, já que as rotas para o aeroporto continuam congestionadas.
Um jornalista que foi evacuado neste domingo junto com um grupo da imprensa e funcionários da universidade explicou à AFP como uma multidão desesperada cercou seu ônibus quando ele entrou naquela área.
“Eles nos mostraram seus passaportes e gritaram para nós: 'Nos leve com você, por favor!'”, explicou o jornalista. "Um combtente talibã em um caminhão disparou para o ar para dispersá-los", acrescentou.
Parto durante a retirada
Os Estados Unidos, que têm milhares de soldados protegendo o aeroporto, estabeleceram 31 de agosto como prazo para concluir as evacuações.
Mas há cerca de 15 mil americanos e 50 mil a 60 mil afegãos que precisam ser retirados, de acordo com o governo Biden.
“Eles querem evacuar 60 mil pessoas até o final do mês. É matematicamente impossível”, advertiu à AFP o chefe de política externa da União Européia (UE), Josep Borrell.
A tarefa tornou-se ainda mais difícil desde que a embaixada dos Estados Unidos em Cabul pediu aos seus cidadãos que não fossem ao aeroporto, citando ameaças à segurança não especificadas.
O Pentágono disse no sábado que 17 mil pessoas foram realocadas desde o início das operações em 14 de agosto, incluindo 2.500 americanos.
Entre eles estava uma mulher afegã grávida que deu à luz em um avião quando estava prestes a pousar em uma base militar na Alemanha. Mãe e filho estão em bom estado, disse a Força Aérea dos Estados Unidos.
Governo talibã
Os talibãs permitiram que os Estados Unidos monitorassem as evacuações enquanto se concentram em como administrar o país quando as forças estrangeiras se retirarem.
O co-fundador do regime talibã, mulá Abdul Ghani Baradar, chegou a Cabul no sábado e o movimento diz que quer formar um "governo inclusivo".
Um alto funcionário talibã disse à AFP que Baradar se reunirá com líderes jihadistas, religiosos e políticos nos próximos dias.
A reunião em Cabul incluiu líderes da rede Haqqani, que os Estados Unidos descrevem como uma organização terrorista.
O regime talibã entrou em Cabul na semana passada, encerrando duas décadas de guerra e chocando o mundo quando as forças do governo afegão se renderam em massa.
Desde então, alguns pequenos sinais de resistência surgiram, com ex-soldados do governo se reunindo no Vale Panshir, uma região montanhosa ao norte de Cabul.
Um porta-voz desse movimento de resistência disse que eles estão preparados para "um conflito de longo prazo", mas preferem tentar a negociação com os talibãs.