Variante Delta ameaça projeções de retomada do BC americano
A mudança acontece num momento crítico, à medida que o banco central dos EUA considera quando começar a reduzir seu apoio econômico emergencial
O ressurgimento da pandemia de Covid-19 desferiu um golpe forte, já que as autoridades do Federal Reserve cancelaram abruptamente sua primeira conferência presencial desde o início da pandemia, levantando questões sobre sua insistência de que a economia enfrenta risco limitado da variante Delta e sobre os planos de reduzir seu estímulo.
O revés, anunciado na sexta-feira (20), com o simpósio anual de Jackson Hole agora virtual pelo segundo ano seguido, é o mais recente em uma série de pequenos sinais que se acumulam de que o novo surto está tendo um impacto maior do que as autoridades do Fed esperavam. O presidente da instituição, Jerome Powell, já iria fazer seu discurso na sexta-feira por webcast.
A mudança acontece num momento crítico, à medida que o banco central dos EUA considera quando começar a reduzir seu apoio econômico emergencial, com a maioria das autoridades ansiosas para começar a reduzir seu programa de compra de ativos até o final deste ano, de acordo com a ata da reunião de política monetária do Fed de 27 e 28 de julho.
O presidente do Fed, Jerome Powell, durante audiência de subcomitê sobre a crise do coronavírus, em Washington
Até agora, Powell minimizou o impacto da variante Delta. Pessoas e as empresas aprenderam a "viver suas vidas apesar da Covid", disse ele, indicando que a perspectiva do banco central de melhora na economia permanece intacta, apesar do ressurgimento de casos da doença e taxas de vacinação desiguais.
"Pessoas e empresas improvisaram e aprenderam a se adaptar", disse Powell em um evento online em 17 de agosto com professores e estudantes. O crescimento econômico dos Estados Unidos ultrapassou os níveis pré-pandemia no segundo trimestre e deve ser revisado para cima no nesta semana.
Quase todas as medidas de recuperação para Estados norte-americanos individuais monitoradas pela Oxford Economics caíram na última semana disponível. Os Estados do Sul registraram as quedas mais acentuadas, liderados por Louisiana, Flórida e Mississippi.
"A maior cautela do consumidor enfraqueceu a demanda e a mobilidade, que caíram para mínimas em várias semanas. O emprego piorou, a produção diminuiu e o indicador da saúde caiu com aumento do contágio pela variante Delta", escreveu a equipe de economistas para os EUA da Oxford.
As contratações por pequenas empresas, monitoradas pela empresa de gerenciamento de tempo Homebase, caíram, enquanto os dados de cartões de crédito e débito do Bank of America mostraram uma queda nos gastos com lazer nos últimos sete dias. As reservas de restaurantes por meio do site OpenTable também caíram nos últimos dias.
O sentimento do consumidor norte-americano também caiu drasticamente no início de agosto, com um índice que acompanha a confiança desse público atingindo seu nível mais baixo em uma década, mostrou uma pesquisa da Universidade de Michigan.
"Conseguimos todas as vitórias fáceis da reabertura, e o fato é que o vírus está nos alcançando. Portanto, há um certo arrefecimento... os economistas ficaram um pouco entusiasmados demais", disse Vincent Reinhart, ex-funcionário do Fed que é economista-chefe do BNY Mellon Asset Management.
Outros alertam para não dar muita importância à desaceleração após um salto na atividade econômica com a reabertura e a demanda reprimida liberada durante o verão (no Hemisfério Norte). "Até agora, os impactos no mundo real têm sido relativamente pequenos e localizados", disse a Jefferies em uma análise de dados em tempo real, observando que as quedas nas reservas em restaurantes foram lideradas por estados com grandes surtos de Covid-19, como Flórida e Texas.