"Recife Musa": canção une o músico Múcio Callou e o poeta Pedro Américo de Farias
Frevo de bloco, que ganhará videoclipe, foi musicado a partir do poema "Recifensidade"
Poesia e música guardam uma estreita relação, a ponto de tantas vezes uma servir como base para a outra. O cancioneiro brasileiro está repleto de bons exemplos, como o samba “E Agora, José?”, composição de Paulo Diniz a partir do texto poético de Carlos Drummond de Andrade. “Recife Musa”, novo single do pernambucano Múcio Callou, segue a tradição ao beber dos versos escritos pelo poeta Pedro Américo de Farias.
O lançamento oficial da música está previsto para este sábado (4), quando um videoclipe estará disponível para o público através do YouTtbe. Sua letra reproduz fielmente o poema intitulado “Recifensidade”, que integra o livro “Desaboios”, publicado pela Editora Penalux em 2020.
Parceria via redes
A parceria entre músico e escritor se deu por intermédio das redes sociais. Ao ler e elogiar o texto publicado pelo amigo no ambiente virtual, Múcio recebeu comentários que o incentivavam a musicá-lo. “Eu me senti provocado porque Pedro jogou para mim como um desafio a sugestão de trabalhar nisso”, relembra o artista, que diz ter sentido uma identificação imediata com o poema. “Apesar de ter nascido no Interior, moro no Recife desde a adolescência e sou apaixonado pela Cidade, mesmo com todos os seus contrastes”, explica.
É surpreendente descobrir que Pedro Américo de Farias se considera um poeta avesso a bairrismos ou homenagens direcionadas a uma localidade específica. “Recifensidade”, de acordo com ele, nasceu por um acaso. Morando há cinco anos em Minas Gerais, o escritor passou a refletir sobre a saudade que sentia da terra natal e acabou colocando isso no papel.
“Recife, és lema/Musa da poesia/Que em si avalia/O próprio poema”, escreveu o pernambucano, que observa: “Estava preparando um livro com poemas de versos metrificados e rimados. Calhou que esse texto tinha essa linha. É um trabalho em que eu carrego também um pouco de ironia, levando em conta o lado político e tantas desigualdades que existem nessa Cidade”.
Musicar poemas: desafio
Múcio, por sua vez, conta que se viu diante de uma tarefa nada simples. “Sempre considerei trabalhar a partir de um poema algo um pouco complicado, porque você não vai querer mexer no que o autor já criou, mesmo que não combine muito com seu pensamento musical. O desafio é descobrir a métrica que está mais ou menos entranhada no próprio poema e fazer surgir disso a música”, compartilhou.
Para o músico, os versos de Pedro Américo se encaixam perfeitamente em um frevo de bloco, que ele apresenta ao público de maneira estilizada. “Primeiramente, não há o saudosismo comum aos frevos de bloco. O andamento é mais lento do que o tradicional e eu quis dar um toque mais erudito no acompanhamento instrumental”, adianta.
Time de "Recife Musa"
No arranjo criado para “Recife Musa”, há presença de flauta (Rogério Acioli), violoncelo (Leo Guedes), violão (o próprio Múcio), contrabaixo (Fernando Rangel) e bateria (Ricardo Fraga), além da participação do Quarteto Encore, formado por violinos, viola e violoncelo. Múcio ainda convidou e ensaiou nove profissionais de diversos segmentos para integrar um coro feminino amador, numa alusão aos grupos que desfilam pelas ruas do Recife cantando nos carnavais.
Toda a produção do single foi viabilizada com recursos próprios e ajuda de amigos. A mesma lógica independente foi seguida na realização do videoclipe, dirigido e roteirizado por Sandra Arraes. O filme reúne imagens em estúdio e também de pontos importantes do Recife.