Crítica: 'Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis' ostenta valor dos heróis B da Marvel
Longa-metragem é protagonizado por herói da Marvel pouco popular nos quadrinhos
Parece que o chamado Universo Cinematográfico Marvel está criando um padrão. Os filmes baseados nos personagens de quadrinhos menos badalados da editora são mais divertidos do que os longas estrelados pelos figurões.
Homem de Ferro, Capitão América, Thor e Hulk aparecem na tela em histórias arrastadas, filmes longos em excesso que tentam estabelecer uma dramaticidade que seus personagens vindos do papel não têm muito como sustentar.
Não por acaso, os melhores resultados no cinema até agora não são os chatérrimos filmes dos Vingadores. Quem se dá melhor são os nomes do time B da Marvel, como o Homem-Formiga, os Guardiões da Galáxia e, agora, Shang-Chi.
Os gibis do personagem, que ganharam no Brasil o título "Mestre do Kung Fu", começaram a ser publicados em 1973, como parte de uma estratégia comercial da Marvel. No início dos anos 1970, as artes marciais entraram na moda, puxadas por Bruce Lee. Filmes chineses de pancadaria e a série de TV americana "Kung Fu" se espalharam pelo mundo. Shang-Chi foi às bancas para surfar nessa onda.
Mesmo tendo uma longa vida, com vários períodos de publicação nos últimos 50 anos, o personagem nunca foi um estouro de vendas. E também nunca foi tão bacana quanto é sua versão cinematográfica. "Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis" é o filme de super-herói que tem a melhor combinação de ação e humor dos últimos tempos. Com Simu Liu no papel do herói, o elenco traz poucos nomes conhecidos.
Exceções para Michelle Yeoh, de produções asiáticas de muito sucesso no Ocidente, como "O Tigre e o Dragão" e "Podres de Ricos", e Awkwafina, de "Jumanji: Próxima Fase", uma das atrizes mais engraçadas da nova geração.
Ela interpreta Katy, a melhor amiga de Shang-Chi, e se depender da torcida da plateia pode virar sua namorada nos próximos filmes. Jovens que trabalham como manobristas de um hotel em San Francisco, os dois têm seus destinos mudados quando um bando de mal-encarados ataca Shang-Chi, que, na América, tinha mudado o seu nome para Shaun.
Os vilões querem roubar um pingente que ele tem no pescoço. A sequência de luta dentro de um ônibus desgovernado pelas ladeiras de San Francisco é simplesmente sensacional, já vale o ingresso. É ali que Katy descobre que Shaun não é exatamente quem ela imaginava.
Poucas horas depois, Katy está no avião com o amigo, que retorna ao Oriente para avisar sua irmã, que ele não vê desde criança, de que o pai deles vai tentar capturar todos. Explicando -Wenwu, pai de Shang-Chi, é o líder milionário da organização Dez Anéis, poderoso grupo do submundo. Ele educou o filho para o caminho do crime, mas ainda adolescente Shang-Chi fugiu de casa depois da trágica morte da mãe.
Os pais transmitiram um potencial enorme para o garoto e sua irmã mais nova, Xialing. O pai, grande guerreiro de séculos passados, ganhou poderes e imortalidade ao dominar os dez anéis mágicos. Jiang Li, a mãe, veio de um reino místico em que todos têm habilidades especiais.
Shang-Chi reencontra a irmã, agora chefe de uma rede clandestina de lutas marciais, e os dois não conseguem fugir do pai. Wenwu está alucinado, acreditando que sua mulher não morreu, mas está prisioneira em sua misteriosa terra natal. Ele quer apoio dos filhos para invadir com seus capangas o lugar místico e resgatar Jiang Li. Mesmo que para isso tenha que destruir todos que estiverem ali.
Shang-Chi tem ódio do pai que o obrigou a se tornar um assassino. Xialing tem ódio do irmão que a abandonou quando fugiu para os Estados Unidos. Wenwu está nutrindo ódio pelos filhos, que tentam atrapalhar seus planos.
Assim, nessa história de questões familiares não resolvidas, o filme é belíssimo e tem coreografias de luta sensacionais. A cada momento surgem monstrengos e monstrinhos inspirados em figuras tradicionais da arte chinesa, como dragões alados e leões gigantes. Tudo leva a crer que até o final Shang-Chi, Katy e Xialing vão enfrentar criaturas ainda mais terríveis.
O segredo do filme é seu ritmo. Não há aquela invasão de sequências arrastadas, muita conversa mole que deixa cada filme dos Vingadores com mais de três horas de duração. "Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis" não dá tempo para o espectador perder o foco.
Seu roteiro enxuto e inventivo liga cenas violentas e plásticas do começo ao fim, das ladeiras de San Francisco às profundezas de um lago habitado por uma criatura gigante e milenar. Uma jornada que leva Shang-Chi de garoto amargurado até um super-herói poderoso. Ele, ao que parece, veio para ficar.