ECONOMIA

Risco de estagflação existe, avaliam economistas após resultado do PIB do 2° tri

Desemprego, crise hídrica e a alta dos preços pode gerar quadro

Supermercado - Tânia Rêgo/Agência Brasil

O quadro de estagflação (combinação de fraqueza econômica e preços em alta) para a economia brasileira não pode ser descartado, na avaliação de economistas, sobretudo caso não volte a chover no quarto trimestre do ano e se mantenha a pressão sobre os preços da energia.

Nesta quarta-feira (1°), o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontou uma queda de 0,1% no PIB do segundo trimestre, frustrando as expectativas do Ministério da Economia. Analistas consultados pela agência Bloomberg estimavam crescimento de 0,2% ante o trimestre anterior.


O desempenho da economia no trimestre vem do resultado negativo da agropecuária (-2,8%) e da indústria (-0,2%). Por outro lado, os serviços avançaram 0,7% no período, segundo a instituição.

Para Armando Castelar Pinheiro, coordenador de Economia Aplicada do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas), em certo sentido, o país teve uma estagflação no segundo trimestre, sem crescimento e com inflação alta.

Ele ressalta, no entanto, que a crise precisaria piorar muito para que esse cenário se mantivesse, com um agravamento da crise hídrica e maior pressão sobre a inflação. "Hoje, a expectativa para o terceiro trimestre é de uma alta do PIB na faixa de 0,8%, ou 3,3% em valores anualizados."

O professor Otto Nogami, do Insper, diz que, sem dúvida, é preciso considerar um cenário de estagflação e o resultado do segundo trimestre já mostra isso.

"Estamos com inflação alta e a economia andando de lado. Já tem gente falando em uma inflação de dois dígitos em dezembro e esse era um fantasma que a gente imaginava ter domado."

A alta no preço da energia é um dos principais fatores de pressão na inflação, que deve superar os 7% em 2021, segundo projeções de agentes financeiros reunidas pelo relatório Focus, do Banco Central.

Nogami acrescenta que problemas no horizonte para o segundo semestre vão se agravando pela falta de ação mais efetiva do governo para minimizar o problema.

"Já se falava nos problemas no setor energético e na possibilidade de racionamento desde janeiro e só agora o ministro das Minas e Energia resolveu fazer um pronunciamento?"

Na última terça-feira (31), o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, disse que a crise hídrica se agravou e voltou a pedir esforço da população e empresas para reduzirem o consumo de energia elétrica.
Mais cedo, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) havia anunciado a elevação do custo da conta de luz, com uma nova bandeira tarifária. Chamada de "Escassez Hídrica", ela custa R$ 14,20 a cada 100 kWh (quilowatt-hora).

Claudio Considera, coordenador do Monitor do PIB, também do Ibre/FGV, não descarta um cenário de estagflação, embora ainda seja cedo para imaginar essa situação.
Já para o ex-diretor do Banco Central José Júlio Senna, a crise hídrica agrava tanto a inflação quanto a recuperação da economia, mas ainda não está dado um cenário de estagflação. "Tal situação pressupõe economia estagnada, mas acredito que teremos um crescimento, ainda que modesto."
Há duas semanas, um relatório da RPS Capital já apontava para os riscos de estagnação econômica mais inflação, em um cenário de agravamento da crise hídrica. Na visão dos analistas da consultoria, a economia brasileira tem absorvido vários choques ao longo do ano, com desorganização de cadeias globais.
"Se o período úmido for ruim, a gente pode ter complicações e o risco não é pequeno. O cenário de estiagem precisa passar até outubro, quando ocorre a transição desse período mais chuvoso", diz Gabriel Barros, da RPS.
Na última terça-feira (31), a equipe de macroeconomia do Itaú Unibanco também dobrou as perspectivas de risco de racionamento, de 5% para 10%.
As chuvas abaixo da média desde abril têm levado o país a um cenário preocupante, o que aumenta os temores de um racionamento, lembra Mario Mesquita, economista-chefe do banco.
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