Rankings de gastronomia mudam o formato de premiação este ano
Listas como o Guia Michelin precisaram fazer adaptações por conta da pandemia
No final de agosto, o Guia Michelin anunciou que, exclusivamente este ano, não distribuirá suas famosas estrelas aos restaurantes brasileiros por causa da pandemia. Segundo a organização, a limitação de viagem dos jurados, associada às restrições impostas aos estabelecimentos, impediu uma avaliação capaz de distinguir os melhores nos últimos meses.
Embora a decisão não soe estranho em meio aos impactos persistentes do novo coronavírus, o aviso é uma das várias manobras administradas pelas premiações, a fim de contornar a difícil maré ainda enfrentada pelos estabelecimentos. No comunicado do diretor Internacional dos Guias Michelin, Gwendal Poullenec, as experiências são avaliadas presencialmente, seguindo critérios como qualidade de ingrediente, domínio de técnica e sabores.
Mudanças necessárias
O The World’s 50 Best Restaurants também fez adaptações. Em 2020, não aconteceu. Por outro lado, o grupo realizou atividades de apoio para arrecadação de fundos que ajudassem os negócios. Segundo o chairman do prêmio e responsável por montar o júri para a premiação na América Latina, o jornalista gastronômico Josimar Melo, a cerimônia de premiação acontecerá, de fato, no dia 5 de outubro, em formato híbrido.
“A avaliação mundial já tinha sido feita antes da pandemia, por mais de mil pessoas espalhadas no mundo inteiro. No entanto, a organização achou descabida a entrega do prêmio no segundo semestre, com muitos restaurantes fechados lutando para sobreviver. Agora, atualizamos com o júri o voto do ano passado, dando a chance de fazer correção ou mesmo saber se algum endereço fechou”, explica Josimar.
Ele acrescenta que os critérios são simples. “Há eleição dos dez melhores restaurantes visitados nos últimos meses de votação. Não tem uma lista de quesitos, como criatividade e apresentação de pratos, e sim uma consideração de experiência. Há uma porcentagem de chefs e cozinheiros, foodies e não profissionais, na mesma quantidade de homens e mulheres, que fazem essa análise de forma anônima”, explica, com a expertise de quem, por 25 anos, publicou o Guia Josimar com os melhores de São Paulo.
Para movimentar o mercado gastrô
Após 17 anos, a Revista Prazeres da Mesa, fez uma premiação diferente. As escolhas da redação agraciaram a “cervejaria do ano”, a “vinícola do ano” e a “personalidade da gastronomia”. Para o editor Ricardo Castilho, as categorias tratam um consumo que acontece independente da pandemia.
“Não foi possível darmos o prêmio para os ‘Melhores da Gastronomia’, que fazemos todo ano, porque não tivemos como avaliar o trabalho de um chef, que concentrou seus esforços para fazer o seu restaurante sobreviver”, detalha Castilho.
A importância dos rankings
De 1920 para cá, quando o guia Michelin passou a ser vendido com dicas de restaurantes franceses, muitas outras listas surgiram, alcançando mercados como o Brasil. Por aqui, publicações como o Guia 4 Rodas e a Veja Comer & Beber também engrossaram o ranking de indicações, em meio a concordâncias ou não. “Esse é um serviço útil ao consumidor. Tem países na Europa com ótimos lugares espalhados em pequenas cidades, se não tiver quem aponte para elas”, defende Josimar Melo.
Para o chef Jun Sakamoto, que possui uma estrela Michelin no seu restaurante homônimo em São Paulo, bastante conhecido pela personalidade em cozinha e salão, esses prêmios são importantes, mas eles foram mais no passado, quando a mídia estava concentrada em alguns canais. “Hoje, com a mídia social, onde todo mundo consegue falar a respeito e atingir o público, sem que seja um profissional da área, como um influenciador importante, também tem relevância na escolha do público”, explica.
Para Sakamoto, o restaurateur não pode trabalhar em função do reconhecimento dessa mídia. “Isso tem que ser uma consequência e não uma causa”, completa.