Caminhoneiros

Bloqueios de caminhoneiros em estradas caem para 5 estados

O trânsito está liberado nos estados de Rio Grande do Sul, Paraná, Espírito Santo, Mato Grosso, Goiás, Tocantins, Rondônia, Pará e Roraima

Caminhoneiros - Tomaz Silva/Agência Brasil

Em novo dia de protestos, as paralisações de caminhoneiros em rodovias pelo país caíram para cinco estados nesta quinta-feira (9), segundo o Ministério da Infraestrutura. Pela manhã, eram ao menos 15 estados com bloqueios.

O trânsito está liberado nos estados de Rio Grande do Sul, Paraná, Espírito Santo, Mato Grosso, Goiás, Tocantins, Rondônia, Pará e Roraima, com manutenção apenas de pontos de fiscalização a veículos de cargas pela PRF (Polícia Rodoviária Federal).

Entre 8h e 11h, foram liberados corredores logísticos essenciais na BR-116 e BR-101 na Bahia, BR-101 em Sergipe, BR-101 em Pernambuco e a BR-116 e BR-392 no Rio Grande do Sul.

Em São Paulo, segundo a Secretaria de Segurança Pública, até as 12h, 18 manifestações foram encerradas e não há mais bloqueios ou
interrupção total na malha viária estadual. Pontos com fluxo parcial de veículos continuam nos de Bebedouro, Caraguatatuba, Franca e Teodoro Sampaio.

O governo paulista determinou que qualquer paralisação que não seja desfeita por meio de negociações em estradas estaduais seja retirada à força pela Polícia Militar Rodoviária.
 

Um teste ocorreu na manhã desta quinta, quando a PM conseguiu desbloquear a Anhanguera na altura de Limeira (SP). Na noite de quarta, um grupo chegou a interditar o quilômetro 148 da rodovia.

Os protestos tiveram início um dia após os atos de raiz golpista convocados pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Não há apoio formal de entidades da categoria, e os motoristas mobilizados são alinhados politicamente ao governo ou ligados ao agronegócio. Os caminhoneiros dizem que a manifestação continua até a meia noite de hoje.

Em Santa Catarina, a PRF afirmou que, até as 6h30, havia bloqueio em 18 pontos, comprometendo praticamente todas as regiões do estado. O número caiu para 10 por volta das 13h30. Segundo o Sindipetro-SC (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo de Santa Catarina), a distribuição de combustíveis ainda é afetada.

Em Minas Gerais, a principal paralisação ocorreu na BR-381, no trecho que liga Belo Horizonte a São Paulo, no município de Igarapé. As pistas foram completamente fechadas pelos caminhoneiros às 8h20, conforme comunicado da PRF.

Às 11h, a PRF informou que o trânsito no local começava a ser liberado. A concessionária da rodovia informou que a fila de veículos no sentido Belo Horizonte/São Paulo chegou a 5 quilômetros. No trajeto contrário, houve engarrafamento de 7 quilômetros.

Na BR-040, que liga o Rio de Janeiro a Brasília, passando por Minas Gerais, havia bloqueio total dos caminhoneiros no município de João Pinheiro, no sentido Distrito Federal, segundo a concessionária da via. A fila de veículos chegava a 1 quilômetro.

A PRF informou ainda que havia bloqueio na BR-262, que liga a capital ao Triângulo Mineiro. A interrupção do tráfego ocorria em Juatuba, também na Grande Belo Horizonte.

Às 8h30, corredores logísticos que são considerados essenciais para o escoamento de cargas, como BR-040 em Minas Gerais, BR-116 e BR-040 no Rio de Janeiro, BR-101 no Espírito Santo, BR-376 no Paraná e BR-153 em Goiás foram liberadas pela Polícia Rodoviária Federal.

O ministério ainda afirma que não há mais pontos de interdição de pistas na malha rodoviária federal, salvo protesto de grupos indígenas na BR-174 em Roraima.

O governador de Roraima, Antonio Denarium, chegou a fezer um vídeo de apelo aos caminhoneiros nesta quinta, pedindo o desbloqueio da BR-174, estrada que é a única ligação do estado com o resto do país.

"Olá amigos caminhoneiros, empresários e toda a população do estado de Roraima, houve um grande movimento no dia 7 de setembro em prol do presidente Bolsonaro, da democracia, e também um trabalho pela harmonia entre os Poderes, e agora temos que continuar a vida normal", disse Denarium, que é aliado de Bolsonaro e participou do ato de 7 de setembro em Boa Vista.

"Fechar estradas não vai melhorar em nada o estado de Roraima, nós estamos aqui na ponta, se fechar a rodovia lá no Amazonas, eles não perder nada, quem perde é só Roraima. Então, vamos liberar as estradas...Se vier a fechar a rodovia, aqui em Roraima vai faltar alimentos, vai faltar óleo diesel, energia elétrica e vai tumultuar a vida das pessoas."

Caminhoneiros interditaram as duas vias da BR-174 por volta de 16h do dia 8 de setembro, na altura do quilômetro 482, e a polícia rodoviária federal informou à Folha que foi ao local para monitorar a manifestação.

Segundo o jornal Folha de Boa Vista, os caminhoneiros afirmam que o bloqueio foi organizado em apoio ao presidente Bolsonaro e contra o aumento nos preços dos combustíveis, e que manteriam a estrada fechada enquanto "o povo" quisesse. Em entrevista ao jornal na quinta-feira, caminhoneiros afirmaram que só iriam desbloquear a estrada após decisão nacional.

Em São Paulo, havia registro de bloqueios nas rodovias Dutra e Régis Bittencourt.

No Paraná, a movimentação era baixa no porto de Paranaguá, mas por um movimento de mercado não relacionado à paralisação dos caminhoneiros, segundo informou a Portos do Paraná, empresa pública responsável pela administração portuária.

O pátio tinha movimento baixo na manhã desta quinta, sem bloqueios, com 599 caminhões em viagem ao porto. Na quarta-feira, 337 caminhões passaram pelo pátio.

Na noite de quarta (8), Bolsonaro pediu a aliados que dialoguem com a categoria para liberar as rodovias. Em áudio, o presidente pediu a desmobilização, afirmando que o movimento prejudica a economia.

"Fala para os caminhoneiros aí que [eles] são nossos aliados, mas esses bloqueios aí atrapalham a nossa economia. Isso provoca desabastecimento, inflação, prejudica todo mundo, em especial os mais pobres. Então, dá um toque nos caras aí, se for possível, para liberar, tá ok? Para a gente seguir a normalidade", diz Bolsonaro.

Aliados do presidente temem que as manifestações prejudiquem o governo caso os efeitos econômicos da paralisação se espalhem.

No Porto de Itapoá (SC), mais de 2.000 caminhões deixaram de transitar entre os dias 8 e 9 de setembro, segundo a assessoria do local.

"O impacto nas operações foi sentido a partir de quarta-feira (8) e se estende no dia de hoje [9] de forma contundente nas operações de
Gate do Terminal. Internamente, as operações de navios operam normalmente", diz a assessoria, em nota.

MOTIVAÇÃO
As principais reinvindicações dos caminhoneiros atualmente são a redução preço do combustível e a fixação de um piso mínimo para o valor do frete. No entanto, a organização dos protesto, na avaliação do governo, é aleatória e não conta com lideranças ou agenda definidas.

"Não há coordenação de qualquer entidade setorial do transporte rodoviário de cargas", afirmou o Ministério da Infraestrutura. Entidades de caminhoneiros corroboram essa posição.

Grupos que representam a categoria fazem a mesma afirmação.

"Não tem pauta caminhoneira na mobilização, é movimento ideológico", diz Joelmis Correia, do Movimento GBN (Galera da Boleia da Normatização Pró-Caminhoneiro). Segundo ele, há "neutralidade da categoria", para que cada motorista decida se quer protestar em apoio ao governo ou não.

"Não há muito o que comemorar."

Desde a véspera dos atos bolsonaristas, o caminhoneiro Marcos Antônio Pereira Gomes, conhecido como Zé Trovão, que está foragido, convoca as pessoas a irem às ruas. Acusado de promover incitação a atos violentos contra o Congresso e o STF, Zé Trovão tem poder de mobilização na ala bolsonarista dos caminhoneiros.

O ministro do STF Alexandre de Moraes, principal alvo de ataque de Bolsonaro, decretou a prisão do caminhoneiro na sexta (3). Em vídeos publicados nesta quinta, Zé Trovão pediu que motoqueiros se unissem a caminhoneiros nas estradas. Disse que estava no México, que em breve poderia ser preso, e pediu impeachment dos ministros do Supremo.

"Para quem não sabe, eu estou no México e a Embaixada brasileira acaba de entrar em contato com o hotel onde estou. Em alguns momentos, provavelmente, a polícia vem aqui me recolher", diz no vídeo.

Outro alvo recente do STF foi a Aprosoja Brasil (Associação Brasileira de Produtores de Soja), que reúne 16 associações estaduais independentes e representa 240 mil produtores. Alexandre de Moraes determinou o bloqueio das contas bancárias da entidade nacional e da mato-grossense para evitar apoio financeiro aos atos do governo.

A entidade, apoiadora aberta de Bolsonaro e em pautas de flexibilização fundiária, afirma que "não concorda e não apoia manifestações que preguem trancamento de rodovias, ações desordeiras e outras quaisquer que prejudiquem o abastecimento de alimentos".

Também diz que não financiou atos violentos contra STF ou contra qualquer autoridade, e que defende a democracia e o equilíbrio entre os Poderes.

Um grande sojicultor de Sorriso, cidade produtora de Mato Grosso, que pediu para não ter o nome divulgado, afirma que as empresas da região apoiam em massa a posição do presidente contra o Supremo e que muitos empresários foram de caminhão até Brasília, com previsão de retorno para esta quinta.

Segundo ele, muitos reagiram mal à fala de Bolsonaro, que pediu para que as vias fossem desobstruídas, embora ele considere que o presidente esteja certo. Ele afirma que caminhoneiros que aderiram à paralisação são contrários ao STF e ao que chamou de censura a apoiadores do governo. Preço de combustível, segundo ele, não foi a motivação.

Marcelo Paz, caminhoneiro e um dos diretores do sindicato dos transportadores autônomos da Baixada Santista, afirma que a mobilização é essencialmente do agronegócio, com alguns motoristas autônomos que foram parando nas vias à medida que viam os bloqueios.

"O agro, pessoal de soja, milho e algodão, colocou seu funcionários em caminhões, mas o autônomo mesmo não aderiu, só alguns, porque a pauta virou política", diz.

A Abrava, entidade comandada por Wallace Landim, o Chorão, um dos líderes da greve de 2018, não apoiou a manifestação. A CNT (Confederação Nacional do Transporte) e o CNTRC (Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas) também são contrários.