Hilton Lacerda estreia série 'Chão de Estrelas', filmada no Recife
Produção conta a história de um grupo teatral que luta para não perder a sua sede
A nova série do pernambucano Hilton Lacerda aporta hoje no Canal Brasil, às 22h30, com estreia simultânea nos serviços de streaming Canais Globo e Globoplay + Canais ao Vivo. Tendo o Centro Histórico do Recife como cenário, “Chão de Estrelas” é uma espécie de derivado de “Tatuagem” (2013), primeiro longa-metragem do diretor.
“Não queria fazer somente uma extensão do filme. O que fiz foi pegar emprestado o nome do grupo de teatro que aparece no longa e trazê-lo para a contemporaneidade, deixando claro a permanência do discurso da arte como instrumento político de transformação e resistência”, aponta o cineasta, que dividiu a direção com Milena Times.
Com uma primeira temporada composta por sete episódios, que vão ao ar sempre às sextas-feiras, a série é focada em um coletivo teatral anárquico batizado de Chão de Estrelas. Reunindo integrantes das mais diferentes origens, o grupo se dedica a realizar montagens experimentais em um antigo casarão.
O proprietário do imóvel sede da companhia é o artista plástico Dionísio (Paulo André), que acaba perdendo a casa para uma construtora em um leilão. Os artistas que ocupam o espaço, no entanto, resolvem deixar as diferenças de lado para tentar reverter o despejo e manter o prédio como um ponto dedicado à cultura. Nash Laila, Gustavo Patriota, Uiliana Lima, Lívia Falcão e Titina Medeiros são outros nomes no elenco.
As filmagens foram realizadas em 2019 e tiveram como principal locação um casarão na Rua da Glória, no Bairro da Boa Vista. Durante décadas, funcionou no imóvel Espaço Cultural Inácia Raposo Meira, criado por Socorro Raposo, atriz e produtora cultural que faleceu no mês de agosto. Também serviu de sede, entre 2020 e 2021, para os trabalhos do coletivo teatral Magiluth, responsável pela preparação de elenco da série.
Giordano Castro, um dos fundadores do Magiluth, está presente na série na pele do ator e diretor Adão. Em entrevista à Folha de Pernambuco, o artista pernambucano falou sobre as coincidências entre a história contada na trama e o que seu grupo vive atualmente, após uma mudança recente de sede.
“Parece que realidade e ficção se encontraram nesse momento. É um sentimento muito misturado. No mundo real, a gente encara que nossa saída do casarão é o diagnóstico de uma falta de preocupação com a cultura, principalmente nessa gestão de pandemia. Pouco foi feito e acabamos perdendo o espaço por não termos como mantê-lo”, aponta.
Assim como em outras produções assinadas por Hilton, o Recife aparece como personagem da trama. “Recife faz parte de mim. Mesmo quando estou em outros lugares, a experiência que acumulo aqui é o que me leva a refletir sobre o mundo. As contradições nacionais se encontram aqui de maneira muito próxima e clara”, diz o diretor.
Em “Chão de Estrelas”, os artistas comandam um movimento para manter o centro cultural de pé. Para isso, eles precisam enfrentar de frente a especulação imobiliária e a pressão do conservadorismo, além de conflitos internos próprios da convivência em grupo. A história lança um olhar para a realidade política e social brasileira atual , com especial atenção para o papel dos artistas.
“Parece que com a inteligência dele, Hilton consegue prever coisas que estão prestes a explodir. A história foi criada em um momento já muito difícil para o País e que agora a gente consegue ver de forma mais radicalizada. Acho que a série consegue dialogar com essa situação de uma forma muito poética, mostrando como é possível falar desses movimentos revolucionários que vivem dentro de nós com muita alegria”, comenta Giordano.