Queimadas no cerrado são as piores desde 2012
Só em agosto, foram 15.043 focos de calor, crescimento de 48% em relação ao mesmo mês do ano passado
As queimadas cresceram no cerrado em 2021 e atingiram níveis elevados para a última década. Considerando os primeiros oito meses deste ano, o bioma teve o seu maior número de focos de incêndio desde 2012, segundo dados do Programa Queimadas, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Do primeiro dia do ano até o fim de agosto, foram 31.566 focos de calor no cerrado. É o terceiro maior valor desde 2010, ano no qual foram registrados 60.325 focos. Em segundo lugar, aparece 2012, com 40.567 focos.
Só em agosto, foram 15.043 focos de calor, crescimento de 48% em relação ao mesmo mês do ano passado e o maior valor desde 2014 (15.525 focos).
O mês também foi complicado para a conservação da Amazônia. A floresta registrou em agosto mais de 28 mil focos de queimadas –o terceiro pior resultado para o período nos últimos 11 anos.
No final de agosto, o Pantanal também voltou a sofrer com incêndios no entorno da rodovia turística Transpantaneira, em Mato Grosso.
A situação ainda deve piorar, considerando que setembro, historicamente, é o mês com maior número de incêndios no cerrado, com média histórica acima de 22 mil pontos de queima, segundo o Inpe. Já outubro costuma ter níveis de queimadas próximos aos de agosto.
O fogo em biomas brasileiros, inclusive no cerrado, normalmente está associado a atividades agrícolas, como limpeza de pasto, além de participação no processo de desmatamento. Além disso, pesa no número de focos de calor de 2021 a longa seca pela qual passa o Brasil.
Dados recentemente divulgados pelo MapBiomas Fogo mostram que, nos últimos 36 anos, Amazônia e cerrado foram os biomas que mais queimaram no Brasil. Nesse período, cerca de 20% do país queimou.
O cerrado brasileiro tem forte presença agropecuária –plantação de soja, por exemplo– e a expansão do desmate no bioma para implantação dessas atividades tem causado preocupação na comunidade científica. Com tamanho semelhante ao da Amazônia, o cerrado tem níveis de desmatamento tão elevados quanto o registrado na floresta úmida.
Mesmo participando do ciclo hídrico de importantes rios do país, o bioma ainda tem menor proteção, de acordo com o Código Florestal, e menor área destinada a unidades de conservação, em comparação à Amazônia. E mesmo as áreas protegidas não garantem, necessariamente, a preservação.
Uma pesquisa recente do WWF-Brasil apontou a pressão de propriedades privadas sobre as áreas de proteção no cerrado. Segundo o relatório, 3.344 propriedades estão sobrepostas a unidades de conservação de proteção integral, onde não se pode praticar quaisquer atividades produtivas.
E não é só a proximidade com as atividades agropecuárias que ameaça o cerrado. A vizinhança com áreas urbanas também pode cobrar seu preço. No último remanescente do bioma na Grande SP, o Parque Estadual do Juquery, acredita-se que um balão tenha causado, em agosto, um incêndio que consumiu cerca de 80% da área protegida.
A movimentação em estradas e o descarte indevido de bitucas de cigarro também podem provocar estragos em áreas mais próximas a cidades.