Governo Doria vai ao STF se não receber doses da vacina da AstraZeneca até 4ª
O governo de São Paulo decidiu que irá ao Supremo Tribunal Federal contra a União para exigir a entrega de vacinas da AstraZeneca contra Covid-19 para segunda dose caso o Ministério da Saúde não regularize envios para o estado até a quarta (15).
Com isso, é dado mais um passo na queda de braço entre a gestão João Doria (PSDB) e o governo federal de Jair Bolsonaro, que o tucano quer enfrentar nas urnas na eleição presidencial de 2022.
Segundo a reportagem ouviu de autoridades sanitárias paulistas, a ameaça de judicialização é o último recurso, dada a posição do ministro Marcelo Queiroga (Saúde), que passou a bater de frente com Doria neste novo capítulo da chamada guerra das vacinas.
O prazo de quarta considera a promessa feita pela Fiocruz, que formula e envasa o imunizante de origem britânica com insumos vindos da China. Nas duas últimas semanas, houve problemas na linha de produção da vacina, mas o órgão afirmou que 15 milhões de doses começariam a ser entregues a partir desta segunda (13).
Segundo o governo paulista, há um déficit de 1 milhão de doses de AstraZeneca, que desapareceu dos postos de saúde e pontos de vacinação do estado. A Secretaria de Saúde afirma que precisa ao todo de 1,4 milhão de unidades até 20 de setembro para completar seus planos para a segunda dose.
O pedido ao Supremo deverá ser de, na impossibilidade de entrega da AstraZeneca, que seja obrigado o fornecimento da vacina da Pfizer para a segunda dose. O imunizante norte-americano é o mais disponível hoje no país, que também aplica a Coronavac, de origem chinesa e formulada pelo Instituto Butantan, e o da Janssen (EUA).
Este é outro ponto de atrito. Nesta segunda, Queiroga queixou-se de estados por terem começado a aplicar a segunda dose com a Pfizer pessoas que haviam tomado outra vacina na primeira inoculação.
Para ele, isso deveria ser feito de forma coordenada, em recado claro a São Paulo e a outros estados menos densos politicamente que também adotam a prática. A capital paulista começou a chamada intercambialidade vacinal, usando a segunda dose da Pfizer, também nesta segunda.
Queiroga nega que tenha faltado vacina para São Paulo, e sim que o governo usou doses que deveria ter guardado para a segunda aplicação visando ampliar a base de pessoas imunizadas com a primeira dose.
O governo Doria nega isso, afirmando que os sucessivos adiantamentos do calendário de imunização decorreram da disponibilidade de fármacos prevista nas planilhas do Ministério da Saúde.
No mês passado, São Paulo já havia recorrido ao Supremo porque recebeu 228 mil doses a menos da vacina da Pfizer do que o combinado, o que novamente a Saúde negou ter ocorrido.
O ministro Ricardo Lewandowski, que trata desses contenciosos da pandemia, determinou que o governo federal garantisse segundas doses ao estado, mas não analisou ainda o caso do lote específico.
Há divergências de diversas ordens, como sobre qual vacina usar para a terceira dose para idosos e imunossuprimidos, já que a Saúde vetou a Coronavac, ou acerca de um lote de 12 milhões de unidades deste imunizante que foram feitos numa fábrica que o governo federal não reconhece na China.
Um quarto delas já foi aplicado em São Paulo, sem relatos de problemas, mas a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) não aceitou a documentação mesmo após conversar com os chineses no sábado (11), mantendo o impasse.