Judoca argelino que se recusou a lutar com israelense é suspenso por 10 anos
Segundo o Comitê Olímpico Internacional, a recusa de Fethi Nourine foi uma "violação à Carta Olímpica"
O argelino Fethi Nourine, 30, foi suspenso por dez anos pela FIJ (Federação Internacional de Judô) por desistir de lutar nas Olimpíadas de Tóquio-2020, após ter sido colocado na chave de um judoca de Israel. Amar Benikhle, técnico de Nourine e que apoiou a iniciativa, também foi punido pelo mesmo período.
Na ocasião, o COI (Comitê Olímpico Internacional) afirmou que a recusa de Nourine em lutar foi uma "violação à Carta Olímpica". O atleta e o treinador já haviam sido suspensos preventivamente pela FIJ na ocasião.
O lutador enfrentaria Mohamed Abdalrasool, do Sudão, em sua primeira luta na categoria até 73kg. Se derrotasse o frágil rival na estreia, iria enfrentar o israelense Tohar Butbul na rodada seguinte.
Nourine justificou a desistência dizendo que seu apoio político à causa palestina tornava impossível para ele lutar contra Butbul. Após a suspensão, também criticou o Estado de Israel.
"É uma punição dura, mas era esperada. Isso prova que eles (FIJ) apóiam o terrorismo sionista contra nosso povo em Gaza", afirmou Nourine, em entrevista ao site Middle East Monitor.
"Eles são cúmplices dos crimes da ocupação. Não cometi nenhuma violação. Minha retirada foi simplesmente um ato de solidariedade aos palestinos", acrescentou.
Logo após o anúncio da desistência de lutar, o Comitê Olímpico da Argélia retirou as credenciais olímpicas de Nourine e de Benikhlef e os mandou de volta para casa.
A federação internacional, então, instaurou um processo disciplinar contra os dois em 6 de agosto. Segundo a entidade, a recusa em enfrentar Butbul teria violado o famoso artigo 50 da Carta Olímpica, que proíbe qualquer " tipo de manifestação ou propaganda política, religiosa ou racial", sendo vetado esse tipo de iniciativa "em quaisquer locais, instalações ou outras áreas olímpicas".
A Comissão Disciplinar da FIJ decidiu-se então pela punição mais dura. Segundo a entidade, "é evidente que os dois argelinos, com más intenções, usaram os Jogos Olímpicos como plataforma de protesto e promoção de propaganda política e religiosa, o que é uma violação clara e grave dos Estatutos e ao Código de Ética da FIJ e à Carta Olímpica".
Eles estão proibidos de participar de todas as competições e atividades promovidas pela federação internacional até 23 de julho de 2031. A dupla ainda pode apelar ao TAS (Tribunal Arbitral do Esporte), em Lausanne, na Suíça, última instância de julgamento no esporte.
Apesar de poder enfrentar o fim da carreira no judô -só poderia voltar a competir com 40 anos-, Nourine diz não se arrepender do boicote.
"Pelo contrário, estou orgulhoso de minha decisão. Eu não competiria com um judoca de um país que aterroriza e mata crianças palestinas", afirmou, referindo-se ao conflito entre os países, cujo processo de paz está paralisado há mais de sete anos.
"Queria falar pelos inocentes e fracos da Palestina. Sacrifiquei meu futuro para revitalizar a causa palestina. Foi uma honra para mim poder fazer isso", acrescentou.
Nourine nasceu em Oran, na Argélia, em 1991. Ele treina judô desde os 7 anos. Estreou em competições nacionais em 2007. Em nível internacional, foi três vezes campeão africano.
Não foi a primeira vez que o judoca se retirou de uma competição para evitar enfrentar um israelense. Ele desistiu do Campeonato Mundial de 2019, disputado em Tóquio, pelo mesmo motivo.
A punição é uma das mais longas já dadas a um atleta por um ato durante os Jogos Olímpicos. Como comparação, o velocista Ben Johnson, flagrado por uso do esteroide anabólico estanozolol após vencer os 100 m nas Olimpíadas de Seul-1988, levou um gancho de apenas dois anos. O doping do canadense é considerado um dos maiores escândalos da história olímpica.