Crítica

Clint Eastwood se desconstrói, aos 91 anos, em 'Cry Macho'

Ator veterano dirige e atua em filme que traz reflexões sobre modelos de masculinidade

"Cry Macho", novo filme de Clint Eastwood - Warner Bros/Divulgação

Há algo de animador em ver Clint Eastwood ainda dirigindo e atuando. Assistir ao ator na tela grande, no auge dos seus 91 anos, traz a esperançosa sensação de que a vida pode mesmo ser longeva e produtiva. “Cry Macho: O Caminho da Redenção”, filme do veterano que chega nesta quinta-feira (16) aos cinemas, é a oportunidade de apreciar o vigor físico e mental que ele segue esbanjando, mas sem deixar de notar as implacáveis marcas do tempo.  

Quem estiver esperando por um longa-metragem regado a trocas de tiros - algo recorrente no currículo de Eastwood - vai se decepcionar. Conhecido por interpretar “caras durões” em filmes cheios de ação, o ator encara a narrativa dramática de um personagem que parece ter sido feito sob medida para desconstruir essa imagem consolidada no audiovisual. 

“Cry Macho” é, na verdade, uma adaptação do romance homônimo escrito por N. Richard Nash e publicado pela primeira vez em 1975. O roteiro foi assinado pelo autor, antes de sua morte, em 2000, ao lado de Nick Schenk. A trama apresenta Mike Milo, um solitário ex-astro de rodeio e criador de cavalos aposentado. Em dívida com o seu antigo empregador, ele aceita a missão de buscar o filho do ex-chefe no México e trazê-lo de volta aos Estados Unidos. Para concluir a tarefa, no entanto, o caubói vai precisar lidar com o comportamento arredio do garoto e o descontentamento de sua mãe. 
 

O filme tem características de um bom road movie, com uma jornada na estrada que proporciona aprendizado e redenção aos personagens. Mike e o jovem Rafo (Eduardo Minett) embarcam juntos - na companhia de um galo de estimação chamado Macho - em uma viagem de carro, cruzando a zona rural mexicana com destino ao Texas. No meio do caminho, enfrentam obstáculos, conhecem novos amigos e, principalmente, descobrem uma conexão inesperada entre eles. É a mesma troca entre gerações e culturas distintas presente em “Menina de Ouro” (2004) e “Gran Torino” (2008), outros dois longas de Eastwood. 

Por trás da aventura vivida pela dupla, há uma importante reflexão sobre a construção de um modelo de masculinidade menos tóxico. Revoltado com os pais, Rafo é um garoto criado nas ruas, rebelde e que não confia em ninguém. Está o tempo todo tentando reafirmar seu papel de “macho”, enxergando na brutalidade a prova maior de sua virilidade. Mesmo com a experiência de quem acumulou perdas e derrotas ao longo da vida, Mike ainda tem dificuldades de encarar os próprios sentimentos. 

É no encontro com Marta (Natalia Traven) e suas netas, donas de um restaurante de um pequeno vilarejo, que os dois realmente aprendem a deixar as armaduras de lado, encontrando na vida em comunidade uma possibilidade de descanso. Unindo doçura e coragem, a cozinheira os ensina o prazer que existe no cuidado com o outro. No convívio com essas mulheres eles são apresentados a um novo mundo, onde laços de afetos são cultivados com empenho e delicadeza. Apresentado pela Warner Bros. Pictures, “Cry Macho” é um filme simples, com um desfecho sem grandes reviravoltas, mas capaz de gerar empatia imediata no público.