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Incerteza econômica no Brasil e Covid na China fazem Bolsa recuar

Nessa quarta (15), o Ibovespa fechou em queda de 0,96%, aos 115.062 pontos - Nelson Almeida/AFP

 A desconfiança de investidores na economia brasileira segue derrubando a Bolsa de Valores. Nessa quarta (15), o Ibovespa fechou em queda de 0,96%, aos 115.062 pontos. Além dos problemas internos, a desaceleração da indústria e do consumo na China contribuiu significativamente com o resultado negativo.

O dólar fechou em queda de 0,41%. "Tivemos um dia atípico, com dólar caindo e a Bolsa caindo, considerando que o mercado americano fechou em alta", diz Flávio de Oliveira, head de renda variável da Zahl Investimentos.

Analistas atribuem o movimento principalmente à preocupação de investidores com as revisões para baixo do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro e a perspectiva de elevação da taxa básica de juros pelo Banco Central para tentar conter a inflação.

"A revisão do PIB para baixo é muito relevante para a questão fiscal, que até estava sendo deixada de lado enquanto havia expectativa de crescimento da economia para compensar a perspectiva de aumento nos gastos do governo", diz Paulo Duarte, economista-chefe da Valor Investimentos.

Analistas que há algumas semanas estimavam uma alta acima de 2% do PIB para 2022 agora já avaliam que o crescimento pode ficar abaixo de 1%.

Em mais um dado desfavorável para a Bolsa, o Itaú BBA revisou de 152 mil para 120 mil sua projeção para o Ibovespa em dezembro, queda de 21%.

"A perspectiva macro do Brasil se deteriorou", diz relatório do banco, que aponta as seguidas revisões para cima nas projeções do mercado para a taxa Selic e o IPCA (índice oficial de inflação do país) no relatório Focus.

Marcelo Sa e Matheus Marques, do time de estratégia do Itaú BBA, destacam no documento as estimativas para inflação e taxa Selic na casa de 8%, ante projeções ao redor de 5,5% para ambos indicadores, em junho.

"Os riscos fiscais também têm aumentado, frente ao desafio de conciliar o teto de gastos com a inflação mais alta, o aumento inesperado de despesas relacionadas aos precatórios e pressões para a expansão do Bolsa Família", diz o relatório do Itaú BBA.

Neste cenário, os estrategistas optaram por um ajuste do portfólio, com redução da exposição a nomes com expectativa de forte crescimento e inclusão de nomes de caráter mais defensivo.

Saíram da carteira Bradesco, Magazine Luiza e Meliúz, com a inclusão de Energisa, Eneva e Weg.

No cenário externo, impactou a Bolsa a divulgação de alta de 5,3% da produção industrial chinesa em relação ao ano anterior, ritmo mais fraco desde julho de 2020. A expectativa de analistas era de um avanço de 5,8%.

Afetado pelos casos locais de Covid-19 com o avanço da variante delta, o consumo das famílias chinesas subiu 2,5%, muito abaixo da previsão de alta de 7,0% e o ritmo mais fraco desde agosto do ano passado.

Sinais de desaceleração no maior parceiro comercial brasileiro têm impacto em grandes produtores de commodities, como é o caso da mineradora Vale, cujas ações (VALE3) caíram 2,5%, sendo as mais negociadas da Bolsa nesta quarta.

"No caso da Vale, aproximadamente dois terços de todo o minério de ferro em pelotas que ela vende é para o gigante asiático", explica Ilan Arbetman, analista de research da Ativa Investimentos.

O petróleo Brent fechou em alta de 2,47%, a 75,42 dólares (R$ 396,52), contribuindo para a elevação de 1,74% nas ações da Petrobras (PETR4).

A crise doméstica e a desaceleração chinesa impediram que o Brasil acompanhasse uma nova rodada de altas em Wall Street, com Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq avançando 0,68%, 0,85% e 0,82%, respectivamente.