Eduardo Bolsonaro critica Google por homenagem a Paulo Freire: 'Não estranhem se o próximo for Lula'
Filho do presidente acusou o buscador de apoiar a decisão judicial que proibiu a União de atentar contra a dignidade do Patrono da Educação Brasileira, cujo centenário é celebrado neste domingo (19)
A homenagem do Google a Paulo Freire, Patrono da Educação Brasileira, cujo centenário é celebrado neste domingo (19), revoltou bolsonaristas. Quem acessa a página de pesquisa do Google, dá de cada com o rosto do educador pernambucano no logotipo do buscador. Há mais de duas décadas, o Google altera temporariamente seu logotipo para comemorar efemérides e homenagear figuras históricas notáveis. No entanto, segundo o deputado federal Eduardo Bolsonaro, ao estampar o rosto do autor de "Pedagogia do oprimido", o Google se manifesta a favor da decisão da Justiça que proibiu a União de atentar contra a dignidade do educador.
“ONG entra na justiça por razão ideológica; juíza dá razão à ONG, jornal enaltece a causa; Google a apóia. Olhe quantos atores ideológicos envolvidos, cientes ou não que servem a uma ideologia, e perceba o qnto temos q caminhar. N estranhe se o próximo Google for c/ cara do Lula”, tuitou o Zero Três.
Na última quinta-feira (16), a Justiça Federal do Rio de Janeiro acolheu a argumentação do Movimento Nacional de Direitos Humanos (a ONG referida por Eduardo) de que o governo federal trabalha para desqualificar “Paulo Freire, educador e filósofo brasileiro, com falas ofensivas e em contraposição ao pedagogo ser Patrono da Educação brasileiro”. A decisão da juíza Geraldine Vidal é limitar, isto é, publicada em caráter de urgência, e determina pagamento de multa no valor R$ 50 mil para cada dia em que a União descumprir a medida.
Após o tuíte do Zero Três, militantes bolsonaristas começaram a ofender Freire nas redes sociais e atacar o Google. Uma militante, que se descreve como “mãe, publicitária, cantora, cristã e conservadora”, criticou o buscador por homenagear o educador e não Jesus Cristo: “Tem método! Lixos!”. A hashtag #PauloFreireLIXO também passou aser compartilhada pelos bolsonaristas. Alguns militantes aproveitaram para elogiar Olavo de Carvalho, guru ideológico da extrema-direita brasileira, e descrevê-lo como um “antídoto” à pedagogia freireana.
Neste sábado, bolsonaristas já haviam se manifestado, nas redes sociais, contra a decisão judicial que os proibiu de desqualificar Freire publicamente. Sergio Camargo, presidente da Fundação Palmares, defendeu a proibição do método freireano: “A autoridade do professor em sala de aula precisa ser restabelecida, assim como o ensino da norma culta da língua portuguesa, para ficar só nisso”, tuitou. SecretárioNacional de Incentivo e Fomento à Cultura, André Porciuncula disse que “o resultado da implementação em larga escala da ideologia de Paulo Freire na cultura nacional equivale a um desastre nuclear”. “Gerações de militantes semianalfabetos rebaixaram não só o padrão estético cultural, mas toda a amplitude do nosso guarda-roupa da imaginação moral”, concluiu.
Nascido no Recife em 1921, Freire é o intelectual brasileiro mais lido no mundo. Ganhou projeção nacional durante o governo João Goulart, ao ser chamado para integrar o Ministério da Educação após um bem-sucedido trabalho de alfabetização de adultos realizado em Angicos, no Rio Grande do Norte. Após o golpe militar de 1964, o método freireano passou a ser acusado de doutrinação marxista e o educador partiu para o exílio no Chile. De lá, seguiu para os Estados Unidos e depois para a Suíça e rapidamente ganhou projeção internacional com sua pedagogia libertadora.
De volta ao Brasil em 1979, participou da fundação do Partido dos Trabalhadores. Entre 1989e 1991, foi secretário de Educação da cidade de São Paulo durante a gestão de Luiza Erundina. Freire faleceu em 1997 e, a partir das manifestações pelo impeachement de Dilma Rousseff, em 2015, voltou a ser alvo da extrema-direita e de movimentos com o Escola Sem Partido, que reciclaram as acusações de doutrinação marxista espalhadas pela ditadura militar. O presidente Jair Bolsonaro já se manifestou a favor de anular o título Patrono da Educação Brasileira, concedido a Freire em 2012, e chamou o educador de “energúmeno”.