América Latina

Castigada pela Covid, líderes da AL participarão online da Assembleia Geral da ONU

O presidente Jair Bolsonaro, que chegou a Nova York no domingo (19), será o primeiro a falar no fórum multilateral na terça-feira (21)

Entrada no prédio da ONU, em Nova Iorque - TIMOTHY A. CLARY / AFP

Uma parte dos presidentes da América Latina participará de forma remota da Assembleia Geral da ONU, a partir desta terça-feira (21), em uma edição que será marcada por temas como a Covid-19 e o meio ambiente e que acontece de forma presencial após um ano de ausência pela pandemia.

Ao longo desta semana, estão previstos dois fóruns específicos para analisar os desafios do meio ambiente (nesta segunda, 20) e a preparação para possíveis futuras pandemias (na quarta-feira, 22).

Em uma América Latina duramente atingida pela pandemia, o grito lançado sábado (19), no México, pelos países da região na Cúpula da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), não deixa margem para dúvida.
 

"Tem país que ainda não tem vacina. É injusto, abusivo (...). Que nunca mais algo assim volte a acontecer na América Latina e Caribe!", frisou o chanceler mexicano, Marcelo Ebrand, em seu balanço da reunião. 

A região da América Latina e Caribe é a mais afetada, em seu conjunto, pela pandemia do coronavírus, com 34% dos casos e 28% das mortes em nível global, quando representa 8,4% da população mundial.

Na Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), presidentes, ministros do setor e outras autoridades da região debaterão entre hoje e sexta-feira (24) os desafios impostos pela Covid-19 às Américas. 

Órfã de lideranças regionais, segundo a cientista política peruana radicada no Chile Lucía Dammert, "é difícil saber como o cenário regional será revitalizado", para se enfrentar os desafios. 

A fase pós-covid-19 pode representar essa "oportunidade" para os temas regionais, "mas, principalmente, vai gerar uma oportunidade nas relações mais globais, especialmente com os países produtores de vacinas, como a China", afirmou. 

Nem Brasil, nem México, as duas maiores potências regionais, nem Argentina, assumiram qualquer liderança regional, tão "necessária", lamentou Lúcia. 

Sem lideranças regionais 

O presidente Jair Bolsonaro, que chegou a Nova York no domingo (19), será o primeiro a falar no fórum multilateral na terça-feira (21).

Como ele mesmo antecipou, recentemente, pretende levar para a Assembleia Geral a defesa do marco temporal para a demarcação das terras indígenas, atualmente em estudo no Supremo Tribunal Federal e muito criticado por ambientalistas e por lideranças indígenas.

Durante sua estada em Nova York, o presidente brasileiro vai-se reunir com primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, e com seu homólogo polonês, Andrezj Duda.

Depois do discurso, continuará presente para ouvir o presidente dos Estados Unidos, Joe  Biden, que sobe à tribuna logo depois. Nenhum encontro entre os dois está previsto. 

Também estão na agenda de terça-feira o colombiano Iván Duque e o peruano Pedro Castillo, que encerra em Nova York sua primeira viagem internacional como presidente. Passou pelo México e por Washington, D.C.. 

O presidente peruano se reunirá com o secretário-geral da ONU, António Guterres; com a autoridade máxima do Banco Mundial (WB), David Malpass; e com a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Gueorguieva.

Segundo a ONU, também comparecerão os presidentes da Costa Rica, Carlos Alvarado; e da Argentina, Alberto Fernández. No caso deste último, sua presença segue no ar, devido à profunda crise política em seu país.

Também foram anunciadas as presenças do cubano Miguel Díaz-Canel e do venezuelano Nicolás Maduro. 

Maduro surpreendeu ao participar da Celac, na capital mexicana, após um ano sem sair da Venezuela. Em março do ano passado, o governo americano ofereceu uma recompensa de US$ 15 milhões pela captura do líder venezuelano, acusado de terrorismo e de tráfico de drogas, o que abre dúvidas sobre sua viagem a Nova York. 

O presidente de El Salvador, Nayib Bukele, cancelou sua presença e enviará uma mensagem gravada. O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, será representado por seu chanceler, Marcelo Ebrand. O nicaraguense Daniel Ortega também não irá.

Atos, e não palavras 
Os líderes "devem traduzir as palavras em ação para os mais vulneráveis", tuitou o secretário-geral da ONU.

"Devem demonstrar que o multilateralismo é a única via para um futuro melhor para todos", acrescentou.

A migração também será outro tema dos bastidores nesta edição da Assembleia.

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, vai-se reunir na próxima quinta-feira (23) com os chanceleres dos países da América Central e do México para discutir os desafios da migração. 

E, amanhã (21), tem encontro marcado com o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Carlos Alberto França.