Música

Ayrton Montarroyos: "Curei depressão com analista e psiquiatra, não foi com a música"

Cantor pernambucano, em meio a lançamentos digitais e projetos na televisão, assume desgaste emocional que lhe tomou durante a pandemia

Ayrton Montarroyos, cantor - Luan Cardoso

Era para falar sobre música, mas há um mundo real que paira por entre artistas que não atropelam suas próprias humanidades e se confessam vulneráveis. “É duro assumir isso, nem me sentia pronto e chegava no estúdio esgotado emocionalmente, às vezes cheio de remédio (...) Foi tudo muito difícil, muito difícil”.

Para o cantor pernambucano Ayrton Montarroyos, a realidade da pandemia foi dolorosa - tal qual segue (ainda) para uma maioria que, da arte ou da vida, se esvaiu pela delicadeza do momento e corajosamente expressou fragilidades, como ele, em conversa com a Folha de Pernambuco, iniciada para contar sobre a sequência de lançamentos digitais que desde junho vem integrando seu acervo de interpretações. 

Caê, Tom e chorinho
O último dos lançamentos, “Caetano Veloso Além do Transa”, traz repertório do cantor e compositor baiano e é o terceiro de cinco discos disponibilizados digitalmente pela Biscoito Fino.

“A pandemia não me trouxe nada de muito bom... eu curei depressão com analista e psiquiatra. Não foi com a música”, complementa. “A Música de Tom”, quarto álbum da série será disponibilizado em 28 de setembro e “Chorinho, Essência Brasileira”, fecha o projeto em outubro. 
 

Disco com repertório de Caetano Veloso foi lançado recentemente nas plataformas digitais

 

Tudo começou com lives
O primeiro álbum, dedicado a Lupicínio Rodrigues, e o segundo a Dona Ivone Lara, assim como o mais recente e os demais que virão, foram extraídos de uma série de lives apresentadas no canal da gravadora no Youtube, ocasião em que cantou e contou histórias da música brasileira - com maestria e propriedade que cabem a estudiosos.

“Tenho um carinho especial pela história do Brasil e como músico acho que a nossa canção perpassa momentos históricos importantes. 

Com a pandemia, as pessoas ficariam sem ir a teatros, e essas lives poderiam ser de grande proveito”, explicou o menino que aos 20 anos ganhou notoriedade no global The Voice (2015).

“O Ayrton lá do programa... é engraçado olhar para ele (...). Continuo com uma pontinha daquele jovem, mas transformado para outras coisas e com muitos fios brancos nos cabelos. Daquele tempo, a música, o amor e a vontade de fazê-la seguem constantes”, ressalta.

Para cantar Lupicínio e dar (sua) interpretação a Dona Ivone Lara, Ayrton impôs o que ele chama de “arte especialista”. “Como intérprete, é minha função descobrir coisas. Gosto de apresentar memórias, na minha voz”.

Crédito: Divulgação


Do lado oposto a uma geração que desconhece cancioneiros memoráveis dos tempos idos da Era do Rádio e outros atuais e o tanto quanto irretocáveis, ao lado de instrumentistas de peso como João Camarero, Cainã Cavalcanti e Edmilson Capelupi, o cantor pernambucano deu tom personalizado às faixas que compõem a série assinada por Thiago Marques Luz. 

Dar a volta por cima
Em paralelo aos lançamentos, o pernambucano segue “dando a volta por cima” à fase nefasta que assombra o mundo - e um Brasil tomado por estranhezas. Ainda este ano entra em estúdio para gravar o terceiro álbum e vai somar à trajetória sua estreia em um folhetim, a próxima global das 19h “Quanto Mais Vida Melhor”, com duas músicas. 

“A pedido da Som Livre gravei minha primeira canção em inglês ‘I Can’t Get You Out Off My Head’, contou. “E Então”, do primeiro disco em 2017, também integra a trilha da trama. “E estou conversando com um canal de televisão para um programa de entrevistas para falar sobre arte com figuras da música. Tem coisa bonita vindo por aí”, adiantou. 

<iframe width="560" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/NpWAg31xQKA" title="YouTube video player" frameborder="0" allow="accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture" allowfullscreen></iframe>

A efervescência cultural de São Paulo levou Ayrton do Recife há cinco anos. Outrora levado pelo alvoroço que lhe cercou pelo vice-campeonato no The Voice, o fato serviu como impulso para trilhar caminhos “do lado de lá”.

“Vim pela facilidade de trabalho e porque depois do programa, não me fazia bem ter virado uma celebridade. Isso é divertido em um filme, mas na vida da gente não é muito engraçado”, confessa, exaltando, no entanto, a saudade da “terrinha” com o que “só aqui que tem, só aqui que há”.

“Há algum tempo estou sem ir ao Carnaval, e toda vez que vou passo a acreditar que o Brasil pode dar certo e que a grande revolução vai ser feita dentro de uma festa como aquela”.