'Nós não vamos parar', diz advogada de médicos que fizeram dossiê sobre Prevent Senior
Bruna Morato se reuniu com os senadores da CPI para abastecê-los com mais informações
Representante do grupo de médicos que denunciou uma série de supostas irregularidades contra o plano de saúde Prevent Senior, a advogada Bruna Morato diz que o grupo está disposto a ir até o fim para provar que as informações do dossiê são verdadeiras, mesmo com as ameaças que vem sofrendo após a divulgação das denúncias.
Desde que o caso veio à tona em reportagem da Globonews, esta é a primeira vez que a advogada fala sobre o dossiê produzido por ela com base nos relatos e documentos entregues pelos médicos.
A denúncia acusa o plano de coagir os médicos a aplicar o tratamento precoce, sem comprovação científica, e a transformar os pacientes "em cobaias" para "atender a supostos interesses políticos partidários".
— Eles (os médicos que denunciaram) sabem que a nossa vida vai virar um inferno, mas nós não vamos parar. Vamos até o fim para mostrar que a história que a gente contou é verdadeira. Essas pessoas morreram e o que fizeram nos hospitais é terrível.
A Prevent nega qualquer irregularidade. Ela informa que "não fez experiência científica, mas uma compilação de dados de atendimento de pacientes entre 26 de março e 4 de abril de 2020". Ainda segundo a empresa, "não houve fraude nesta compilação", e a companhia "não tem qualquer envolvimento com políticos ou gabinetes paralelos".
Morato discorda:
— Prevent Senior entrou dentro do pacto com o governo federal para fornecer os números e o embasamento que o gabinete paralelo queria para dizer que o tratamento precoce funcionava.
A advogada disse ter ouvidos dos diretores da empresa que "esse pacto também envolvia uma blindagem depois para fazer todo o tipo de experiência sem autorização".
— Centenas de pessoas morreram. E isso tem que ser investigado pelas autoridades — diz a advogada.
Na terça-feira, a advogada desembarcou em Brasília para se reunir com os senadores da CPI e abastecê-los de informações e dados que corroboram as denúncas. Nesta quarta-feira, os parlamentares vão interrogar o diretor-executivo da Prevent, Pedro Batista Júnior.
Perguntado sobre as denúncias que ouviu da advogada, o senador Randolfe Rodrigues disse que o que saiu até agora sobre o caso é "apenas a ponta do iceberg".
Segundo Morato, a intenção dos médicos não era prejudicar a imagem da empresa, mas convencer a direção dela de que era preciso interromper os testes feitos sem autorização das autoridades de saúde e o consentimento dos pacientes.
— O que eles queriam pedir era que parassem com as experiências cujo tratamento precoce foi apenas a ponta de um imenso iceberg de irregularidades que não respeitavam os parâmetros éticos ou critérios técnicos — afirmou a advogada que foi contratada por doze médicos para fazer às denúncias chegarem à cúpula da empresa.
Com a CPI da Covid-19 em andamento e colocando em xeque os estudos realizados na Prevent Senior que "comprovavam" a eficácia dos medicamentos do tratamento precoce, o grupo de médicos ficou alarmado com a possibilidade de eles serem responsabilizados pelo "erro da empresa".
— Eles tinham medo que descobrissem as experiências, os óbitos, as subnotificações, que alguns mortos não estavam entrando na contagem oficial do governo — disse a advogada.
Morato contou que soube que os testes continuaram sendo feitos até abril deste ano, "não só com a cloroquina, mas com celulas-tronco, ozonioteriapia e outros tratamentos".
— Em apenas 12 dias nove pessoas morreram segundo a planilhas de testes (revelada pela GloboNews). O que eu estou dizendo é que nesses 400 dias de pandemia centenas de pessoas morreram na rede e esses casos não foram investigados.
No início de agosto, antes de encaminhar o dossiê à CPI, ela conta que chegou a procurar a equipe jurídica da empresa para tentar resolver o caso internamente, mas não houve conversa.