Doação de órgãos

Dia Nacional da Doação de Órgãos é comemorado nesta segunda-feira (27); saiba como ser um doador

Todos os anos, o nono mês sedia a campanha Setembro Verde, que tem o objetivo de conscientizar a população sobre o tema

Transplante de órgãos só pode ser iniciado após consentimento da família e confirmação da morte cerebral do paciente - Pixabay

Dentre as inúmeras formas de demonstrar amor, uma das mais significativas talvez seja doar um órgão. O gesto, que pode permitir a continuidade de uma vida, ainda é cercado de muitas dúvidas, que impedem que ele aconteça com frequência.

Todos os anos, o nono mês sedia a campanha Setembro Verde, a fim de esclarecer e conscientizar a população acerca da importância do transplante de órgãos. E nesta segunda-feira (27), é comemorado o Dia Nacional da Doação de Órgãos.

De acordo com dados divulgados pela Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), a pandemia do coronavírus impactou negativamente nas doações, que caíram em 13% no primeiro semestre de 2021. A queda se deve à perda de 24,9% na efetivação da doação. De acordo com dados do Registro Brasileiro de Transplantes (RBT), 1.126 pessoas estão na fila de espera por um transplante de fígado e mais de 45 mil pessoas aguardam por um transplante de órgãos sólidos e de tecidos.

Em Pernambuco, no entanto, o cenário é diferente. Até julho de 2021, segundo a Secretária Estadual de Saúde (SES-PE), foram realizados 724 transplantes de órgãos e tecidos em Pernambuco (CT-PE), o que representa um aumento de 59,47% em relação ao mesmo período de 2020, quando foram realizados 454 procedimentos.

Embora tenha crescido no Estado, o cenário ainda não é o ideal, conforme explica o cirurgião Fábio Moura, especialista em transplante hepático. "A doação é, para muitos, a única chance de continuar vivendo. E o fator que mais impede a realização de transplantes é a família do possível doador", pontua Fábio. Para o profissional, muito disso se deve ao desconhecimento de como ocorre o transplante. 

"Por isso as campanhas de conscientização, como o Setembro Verde, são tão importantes. É preciso deixar claro como ocorre o processo, que respeitamos a decisão da família e que não há violação no corpo do doador", comenta.

"Doação só ocorre com consentimento da família e quando há morte cerebral", explica o cirurgião Fabio Moura | Foto: Andrea Neres/Divulgação

Só pode haver doação de órgãos quando há morte cerebral, e uma preocupação recorrente das famílias é como o corpo do possível doador será devolvido para o velório. "É muito importante que as famílias saibam que o corpo do doador não é violado e ele é entregue em perfeito estado para todo o protocolo funeral", complementa Fabio, que ressalta “a decisão final, contudo, é totalmente da família e será sempre respeitada.”

Ainda segundo o médico, um único doador pode salvar até 10 vidas com o transplante dos seus órgãos. "Se a pessoa tem vontade de ser um doador, o mais importante é cuidar da própria saúde e informar à família desse desejo. Nenhum documento é necessário para que isso aconteça, apenas a permissão dos familiares após a morte", conclui.

Transplante de Medula Óssea

Diferente do transplante de órgãos, mas tão importante quanto ele, o transplante de medula óssea também ganha destaque ao longo do mês de setembro. Por ser raro encontrar encontrar uma medula óssea não aparentada totalmente compatível — a chance é de uma para 100 mil —, é fundamental que cresçam os números de doadores voluntários.

A medula óssea é encontrada no interior dos ossos e contém as células-tronco hematopoiéticas, que produzem os componentes do sangue, incluindo as hemácias ou glóbulos vermelhos, os leucócitos ou glóbulos brancos, que também são parte do sistema de defesa do nosso organismo, além das plaquetas, responsáveis pela coagulação.

“O transplante de medula óssea é um tipo de tratamento proposto para algumas doenças que afetam as células do sangue, como as leucemias e os linfomas, mas também para algumas outras enfermidades do sistema imunológico, como as imunodeficiências primárias”, afirma a hematologista especializada em transplante de medula óssea do Hospital Santa Joana Recife, Érika Coelho, que também faz parte do do corpo clínico da Multihemo Oncoclínicas.

“No transplante alogênico o doador pode ser encontrado entre os irmãos que forem totalmente compatíveis, mas também em outros membros da família como pai, mãe e filhos que sejam parcialmente compatíveis e, assim, chamados de doadores haploidênticos. Esse transplante é conhecido como aparentado de doador alternativo”, explica a hematologista. 

Quando não há um doador aparentado totalmente ou parcialmente compatível, a recomendação é procurar um que não seja aparentado compatível em um banco de doadores, no Registro de doadores de Medula Óssea (REDOME), banco de medula Brasileiro que também se conecta com os bancos internacionais, em busca de doadores sempre que não seja possível encontrar um doador brasileiro.

“O transplante autólogo acontece quando células precursoras da medula óssea provêm do próprio indivíduo a ser transplantado e tem indicações diferentes do transplante alogênico. As células da medula ou do sangue periférico do próprio paciente são coletadas e congeladas para uso posterior”, conclui Érika Coelho.

Entenda como é o transplante de medula

O Transplante de medula óssea não é um procedimento rápido que se resume à infusão das células tronco hematopoiéticas. Após diversas avaliações clínicas e laboratoriais, com o doador já selecionado, o paciente é submetido a quimioterapia e/ou radioterapia, para em seguida receber as células tronco hematopoiéticas previamente coletadas e congeladas. A partir daí, ainda internado, recebe o suporte de antibióticos e transfusões até que a nova medula passe a funcionar.

As células coletadas são congeladas (criopreservadas) para depois serem usadas. Após a quimioterapia e radioterapia, as células são descongeladas e infundidas na veia do paciente para, naturalmente, se encaminharem para a medula óssea, iniciando a fabricação das células sanguíneas da nova medula.