Crise aumenta no partido conservador alemão após derrota nas urnas
"Perdemos. Ponto final", declarou o líder da juventude da CDU, Thilman Kuban.
O partido conservador de Angela Merkel está em crise, com pedidos para a renúncia de seu presidente, Armin Laschet, após a derrota nas eleições legislativas, o que complica ainda mais os esforços para reivindicar a formação de um futuro governo.
Líder da União Democrata-Cristã (CDU), que registrou o pior resultado nas urnas desde 1949, com menos de 30% dos votos, Laschet não admite a derrota e não aceita abrir mão da sucessão de Merkel.
"Estamos dispostos a iniciar negociações para criar uma coalizão com o Partido Verde e o FDP (Partido Democrático Liberal)", terceiro e quarto colocados nas eleições, respectivamente, afirmou o impopular político.
O ex-jornalista que se tornou presidente da região de maior população da Alemanha sabe que sua carreira ficaria estagnada em caso de admissão de derrota.
"Ponto final"
Laschet acredita que pode conseguir formar o governo caso os social-democratas, que venceram por pequena margem a aliança conservadora no domingo, não alcancem um acordo com os ecologistas e, sobretudo, com os liberais, partido de direita com um programa muito diferente da centro-esquerda.
Mas, desde domingo (26), Laschet recebe muitas críticas do campo conservador.
"Quem pode fazer Armin Laschet compreender que acabou? É muito preocupante a indiferença com que tenta dissimular seu fracasso político", criticou nesta terça-feira (28) o jornal Süddeutsche Zeitung.
É provável que a primeira reunião do grupo conservador no Bundestag, ainda nesta terça, se transforme em uma espécie de tribunal para julgar aquele que encarna a erosão de um bloco que perdeu nove pontos na comparação com as eleições anteriores, em 2017. Um resultado que na época já foi considerado decepcionante.
Michael Kretschmer, ministro-presidente do land (estado) da Saxônia, iniciou as hostilidades: "Os eleitores afirmaram de maneira clara que a CDU não é a primeira opção. Agir como se nada tivesse acontecido nos levaria à ruína", advertiu o governante do território que integrava a ex-Alemanha Oriental.
"Não acredito que possamos pretender dirigir o próximo governo", acrescentou outro cacique do partido, Norbert Röttgen.
"Perdemos. Ponto final", declarou o líder da juventude da CDU, Thilman Kuban.
Diante da rebelião interna, Laschet se viu obrigado a fazer promessas e admitiu que a CDU, um dos partidos mais antigos da Europa, no poder durante os últimos 16 anos, precisa de "renovação" em todos os níveis.
Seu discurso a respeito da futura coalizão também mudou um pouco. Laschet se limita agora a afirmar que "nenhum partido tem um mandato claro para formar o governo", tanto a CDU como os social-democratas do SPD.
Mas estas interpretações não foram suficientes para reduzir a pressão sobre Laschet. Pelo contrário.
Até mesmo um de seus principais apoiadores no partido, o veterano líder do estado de Hesse, Volker Bouffier, abandonou o pupilo ao reconhecer que a união conservadora "não pode pretender assumir a responsabilidade do governo".
Outro governante regional próximo a Laschet, Daniel Günther, também se distanciou do candidato.
Os deputados da base exigiram diretamente a renúncia de Laschet, responsável por uma campanha fracassada, apesar da participação de Merkel na reta final.
"Eu gostaria de uma tomada de consciência. Perdeu, demonstre discernimento, evite mais danos à CDU e renuncie", afirmou a jovem deputada Ellen Demuth, da região de Renânia-Palatinado.
A opinião pública alemã parece decidida. Uma pesquisa do instituto INsa para o jornal Bild mostra que 58% dos entrevistados consideram que a CDU-CSU não tem legitimidade para formar o próximo governo.
Laschet parece concentrar todas as dúvidas e descontentamento: 51% dos eleitores conservadores querem sua renúncia à presidência do partido, menos de um ano após sua eleição para o cargo.