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Líderes da pré-COP afirmam que é necessário fazer mais para conter o aquecimento global

Manifestantes protestam contra ações que prejudicam o meio ambiente - Rodger Bosch / AFP

A última reunião preparatória para a 26ª Conferência do Clima da ONU terminou neste sábado (2), em Milão, na Itália, com um esforço dos principais líderes para demonstrar otimismo, depois de "conversas construtivas", mas sem conseguir esconder que atingir os objetivos não será tarefa fácil. A COP-26 acontece entre 1º e 12 de novembro, em Glasgow, na Escócia.


No centro do debate está a necessidade de limitar o aumento da temperatura global em 1,5ºC. "Havia um verdadeiro senso de urgência na sala. Houve um consenso de que precisamos fazer mais para manter o 1,5ºC ao alcance", disse Alok Sharma, presidente da COP-26, após a conclusão dos trabalhos.

Outro consenso, segundo ele, é de que é preciso avançar em relação aos planos nacionais -as Contribuições Nacionalmente Determinadas, ou NDCs, na sigla em inglês- para reduzir as emissões de gás carbônico, especialmente para os países do G20. O grupo das 20 maiores economias, do qual o Brasil faz parte, é responsável por cerca de 80% das emissões globais.

Também no topo da lista está a promessa da parte dos países ricos em disponibilizar US$ 100 bilhões anuais para aqueles em desenvolvimento.

Adiada em um ano por causa da pandemia, a conferência de Glasgow é bastante aguardada porque é nela que os países devem dar um passo adiante em relação aos seus compromissos para controlar a crise climática, conforme o Acordo de Paris, assinado em 2015 por cerca de 200 nações. Em Milão, a pré-COP recebeu representantes de 50 países.

Além de fazer avançar o limite de 1,5ºC, o objetivo da presidência britânica da COP é obter um acordo sobre a meta de neutralizar as emissões até 2050.

Para Roberto Cingolani, ministro da Transição Ecológica da Itália, a pré-conferência foi bem-sucedida e fez avançar alguns debates desde julho, quando ministros ambientais do G20 se reuniram em Nápoles, na Itália.
"O que mudou desde então foi o relatório do IPCC [de agosto], que revelou números realmente sérios e preocupantes. Se continuarmos com a velocidade atual de emissão de gás carbônico, nós não apenas vamos atingir os 2ºC, como provavelmente vamos chegar aos 3ºC", afirmou.

"O senso de urgência, de julho para cá, se tornou gigante. Hoje os representantes chineses disseram claramente que entendem que o 1,5ºC é a necessidade do presente. Isso foi mencionado agora, mas não três meses atrás", disse Cingolani. "Os números não mentem e são melhores do que a pressão política."
Pela manhã, antes do fim dos trabalhos da pré-COP, o enviado dos EUA para assuntos climáticos, John Kerry, havia antecipado o tom de que as reuniões foram "úteis e construtivas", mas que muito trabalho deverá ser feito nos próximos 30 dias e durante a COP-26.

"O G20 precisa mostrar que realmente quer o que foi combinado em Paris. Que nós estamos comprometidos em manter o aumento da temperatura bem abaixo dos 2ºC, para, espera-se, atingir o 1,5ºC. Bem abaixo significa bem abaixo. A meta não são os 2ºC", afirmou o americano.

Ele também sinalizou um bom momento de diálogo entre os EUA e a China, os dois maiores emissores de CO2 do mundo. E destacou um avanço na postura da Índia, que está considerando mudar sua NDC para incluir 450 GW de energia renovável. "Se eles fizerem isso, estarão em sintonia com a manutenção do 1,5ºC. É possível de ser feito."

No entanto, em sua fala, já acenou para a próxima COP, em 2022. "A crise não vai terminar em Glasgow, não é um momento único. O Egito já foi selecionado como candidato para a COP-27."

Considerado um dos responsáveis pelo fracasso dos acordos da COP-25, em Madri, o Brasil foi representado em Milão por uma delegação de quatro pessoas. Segundo Marta Giannichi, secretária da Amazônia e Serviços Ambientais, do Ministério do Meio Ambiente, o Brasil chegará a Glasgow com uma postura construtiva.

A conferência será realizada no momento em que o Brasil está sob pressão da comunidade internacional pela devastação ambiental e pelas queimadas recordes no país sob a gestão de Bolsonaro.

"Vamos para a Glasgow assim como chegamos nessa pré-COP: de uma maneira extremamente construtiva, proativa e dispostos a conversar, seja multilateralmente ou bilateralmente. Vamos com o espírito de encontrar convergências", disse à Folha. Segundo ela, boas conversas foram travadas em Milão com Japão, Argentina, México, Suíça e União Europeia.

Na COP-25, em dezembro de 2019, as negociações terminaram sem acordo em relação à regulamentação do artigo 6 do Acordo de Paris, sobre a criação de um mercado de carbono para incentivar ações de mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. O Brasil foi o principal bloqueador do consenso.

À época, o ministro do Meio Ambiente era Ricardo Salles, então chefe da delegação em Madri. Com uma gestão marcada por ações que enfraqueceram mecanismos de proteção das florestas, Salles deixou o cargo em junho deste ano, alvo de inquérito por suposto favorecimento a empresários do setor de madeiras por meio da modificação de regras com o objetivo de regularizar cargas apreendidas no exterior.

Seu substituto, Joaquim Álvaro Pereira Leite, não esteve em Milão. "Defendemos que a discussão do artigo 6 deve ser feita como um pacote, e os países têm que ter um pouco mais de flexibilidade. O Brasil já se afastou bastante de sua posição original, principalmente em Madri. Estamos cedendo", afirmou Giannichi.

"O que está sendo cobrado da gente, pela presidência da COP-26, é que a gente tenha proposições que se mantenham dentro daquilo que é esperado do bem abaixo dos 2ºC, no limite de 1,5ºC."