Clima

No Beaujolais, terreno é usado como cobaia contra mudança climática

O espaço no Château de l'Éclair funciona como um campo de experimentação em grande escala

Região de Beaujolais na França - Philippe Desmazes/AFP

Redes antigelo, modificação da altura dos caules, implantação de novas cepas: na vinha de Beaujolais, um terreno é usado como "cobaia" para testar diferentes às mudanças climáticas, como o objetivo de ajudar os cultivadores a se adaptarem aos sobressaltos do clima.

O sol escaldante que domina a vinha neste fim de tarde de setembro ilustra o tema da operação "terreno aberto" conduzida neste dia pela Sicarex, o órgão técnico a serviço dos vinhos de Beaujolais: "descoberta das diferentes alavancas de adaptação à mudança climática". 

O espaço no Château de l'Éclair funciona como um campo de experimentação em grande escala, visando a "produzir referências técnicas objetivas para guiar as escolhas" dos viticultores, explica seu diretor, Bertrand Chatelet. 

A constatação, resumida por Chatelet, foi estabelecida: as mudanças climáticas "são períodos muito contrastantes, extremos: quando chove, é muito tempo e muito, com tempestades violentas, geadas fortes, ou temperaturas mais altas em fases mais longas, o que influencia a composição das uvas, em açúcar e em acidez".

Como enfrentar isso? 

Procedentes de várias das 12 denominações do Beaujolais, uma faixa de cerca de 50 km que se estende ao norte de Lyon, viticultores e estudantes percorrem este terreno, às vezes muito escarpado, em busca de pistas.

Em um ponto, por exemplo, há fileiras de vinhas embutidas em redes antigranizo. Ao mesmo tempo em que protegem os grãos das precipitações, estas redes também produzem um "efeito de sombreamento", explica Taran Limousin, do Instituto da Vinha e do Vinho (IFV, na sigla em francês), parceiro da Sicarex.

"A radiação cai 30%, e os bagos sofrem menos estresse hídrico. Transpiram menos, precisam de menos água e, por isso, bombeiam menos para o solo. Em caso de seca, é uma vantagem", completa.

Instalar este dispositivo custa, no entanto, cerca de 15 mil euros por hectare, sem conta a mão de obra.

Algumas fileiras adiante, testa-se a altura da sebe. Em geral, o tronco mede 60 cm, mas ali, chega a 90 cm. Ao reduzir a quantidade de folhas e, portanto, a fotossíntese, "o objetivo é prolongar o ciclo da videira", detalha Jean-Yves Cahurel, do IFV. 

Assim, uma maturação mais tardia deslocaria a colheita para um período "menos quente", e o necessário equilíbrio entre açúcar e acidez seria mais bem respeitado. Os primeiros testes são considerados "animadores".

Outra margem de manobra: a intervenção na própria cepa. Extraídos do conservatório da Sicarex, as vinhas de Gamay - a principal cepa em Beaujolais - que não eram mais usadas, porque apresentavam uma maturação tardia são, por exemplo, selecionadas e replantadas.

Do mesmo modo, nos testes sobre as cepas resistentes ao míldio e ao oídio (doenças causadas por fungos) - que exigem, portanto, menos produtos fitossanitários -, serão selecionadas aquelas que também apresentarem uma maturação tardia.

"É importante encontrar a cepa que responde aos dois problemas: ambiental e climático", afirma Sylvain Paturaux, de 41 anos, que assumiu, em 2020, uma propriedade na denominação Fleurie. 

O aspecto mais inédito, nas terras do gamay-roi e do chardonnay, continua a ser a experiência de introdução de cepas típicas do sul do vale do Rhône.

Em Quincié-en-Beaujolais, a 450 metros de altitude, o Château de Varennes plantou 1,8 hectare, de uma área total de 20 hectares, para uma primeira colheita por estes dias.

"Daqui a dez anos, com o aquecimento, esse tipo de cepa ideal para o sul também será ideal para o norte", acredita o responsável Pierre-Olivier Sauvaire, lembrando-se da colheita escaldante, a 36°C, em 2020. 

Para o proprietário da fazenda, Nicolas Gauvin, a dimensão climática não foi, no entanto, prioritária nessa abordagem. Tratava-se, "antes de mais nada, de expandir nossa oferta, com cepas que permitam buscar uma clientela amante do Côtes-du-Rhône".

Além disso, as futuras garrafas não poderão ser comercializadas sob a denominação Beaujolais-Village, e sim na IGP (Identificação Geográfica Protegida) "condado rhodaniano".