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61% das empresas listadas na Bolsa não têm mulheres na diretoria

Das 408 empresas listadas, 61% não possuem uma única representante feminina entre seus diretores estatutários

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Um estudo divulgado nesta quarta-feira (6) pela B3, a Bolsa de Valores do Brasil, mostrou que a maioria das companhias de capital aberto no país não tem mulheres em cargos de direção.

Das 408 empresas listadas, 61% não possuem uma única representante feminina entre seus diretores estatutários, 25% têm apenas uma e somente 6% das organizações contam com três ou mais mulheres em cargos de direção.

Quando observada a presença nos conselhos de administração, os números são um pouco melhores. De todas as companhias, 45% não têm mulheres nessas posições, enquanto 32% possuem somente uma. As empresas com três ou mais conselheiras representam 6% do total.

Os dados constam do levantamento "Mulheres em Ações", feito pela B3 em junho deste ano, a partir das informações que as próprias companhias enviam à Bolsa.

"É uma fotografia triste de se ver, sobretudo quando estamos falando de empresas que são listadas, porque a gente está lidando com um recorte social que já é muito privilegiado", afirmou Marina Copola, fundadora do Women on Board, durante a divulgação do estudo em evento promovido pelo IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa).

Segundo ela, chama a atenção o fato de 61% das companhias não terem nenhuma representante feminina entre seus diretores estatutários. "A diretoria é mais difícil de ser mensurada, acompanhada e também sofre de mais opacidade, mas esse número é emblemático e bastante difícil de engolir", disse.

A situação não melhora entre as empresas que fazem parte do Novo Mercado, segmento de adesão voluntária da Bolsa destinado a negociação de ações de companhias com boas práticas de governança corporativa.
Das 190 empresas listadas nesse segmento, 89% tinham uma ou nenhuma mulher entre os diretores. Companhias com três mulheres ou mais representam apenas 3% do total.

Em relação ao conselho de administração, a proporção de empresas com três mulheres ou mais sobe para 7% entre as listadas no Novo Mercado -número ainda baixo.

Para Rogério Santana, diretor de relacionamento da B3, que também participou do evento de divulgação do estudo, é decepcionante ver que os resultados do levantamento apontam para um cenário muito diferente do que é a realidade do Brasil, onde as mulheres representam mais da metade da população.

"Há toda uma transformação que a gente tem visto [na sociedade] e quando olhamos a alta liderança das empresas, infelizmente os percentuais ainda são muito baixos", disse.

Segundo ele, as companhias recém-chegadas à Bolsa demonstram uma maior preocupação com o tema, mas esse interesse ainda não se reflete em resultados melhores.

"Se a gente fizesse um recorte das empresas que abriram capital recentemente, o número não seria muito diferente", afirmou.

O diretor disse que a B3 tem procurado entender por que essa preocupação não se transforma em ação.
"O principal ponto que a gente ouve é que a empresa está passando por uma transformação tão agitada e tão acelerada no processo de abertura de capital que, por mais que ela planeje fazer uma discussão mais estruturada de diversidade e inclusão, isso acaba ficando em segundo plano."

A diretora de emissores na B3, Flavia Mouta, disse que, apesar das revelações do estudo, há avanços neste tema, com algumas empresas desenvolvendo iniciativas para dar maior diversidade nos conselhos e na diretoria.

"Mas temos uma longa estrada a percorrer, antes de avançar em novas etapas, como para incluir minorias, como negros e pessoas com deficiência física", disse ela a jornalistas.

A própria Bolsa no mês passado fez uma captação de 700 milhões de dólares no exterior em bônus de dez anos atrelados a algumas metas, incluindo diversidade.

A companhia terá que elevar dos atuais 27,2% para pelo menos 35% o percentual de mulheres em seus cargos de liderança até o fim de 2027 ou pagar juros maiores para investidores sobre esses papéis.

Na visão de Marina Copola, da Women on Board, um dos principais pontos para fazer com que essa agenda avance no mundo corporativo é a informação.

"A gente precisa trazer mais à tona essa discussão e continuar aprofundando e mantendo uma periodicidade para mensurar os avanços", afirmou.

"Se a gente não estiver falando de regras específicas, seja da Bolsa ou uma mudança de lei, acho que é só mesmo os outros participantes do mercado e os investidores fazendo pressão para esse panorama mudar."