Fusão de partidos

DEM e PSL aprovam fusão, e TSE vai analisar criação do possível maior partido da Câmara

A ideia da sigla é também ter um nome próprio para disputar a Presidência da República e lançar candidatos ao governo de ao menos dez estados

Justiça TSE - Marcello Casal Jr/Agência Brasil

O DEM e o PSL aprovaram a fusão dos partidos em convenções realizadas na manhã desta quarta-feira (6), num processo que resultará na criação de uma nova sigla, a União Brasil. O novo partido teria uma bancada de 81 deputados federais, ante 53 do PT, na segunda colocação.

A ideia da sigla é também ter um nome próprio para disputar a Presidência da República e lançar candidatos ao governo de ao menos dez estados.

No DEM, a decisão foi tomada pro aclamação, mas o ministro Onyx Lorenzoni (Trabalho) e os delegados do Rio Grande do Sul votaram contra o estatuto do novo partido. No PSL, houve aprovação por unanimidade. A votação no partido foi feita por cédulas de papel, como determina o estatuto.

Em ambos os partidos, foram debatidos aspectos do estatuto da União Brasil.

A partir da determinação das convenções, será formada uma comissão instituídora, que enviará o processo de fusão do DEM e do PSL ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral). A expectativa é que o partido seja oficializado pela Justiça até fevereiro.

"Vamos determinar bom senso para procurar o melhor caminho, a melhor saída, de composição para os estados a fim de que a União Brasil chegue a 2022 com a possibildade de ser o partido mais vitorioso nas urnas respeitando a história", afirmou o presidente do DEM, ACM Neto.

Logo no início da convenção, antes de votar contra o estatuto, Onyx pediu que o colegiado já decidisse sobre o apoio à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ou a liberação de aliança a candidato que não seja apoiado oficialmente pelo partido, o que foi rejeitado.

"O pleito foi precocemente deduzido. É com todo respeito que assim afirmo, mas o certo é que ainda não chegou o momento para que possamos nos debruçar sobre esse tema. Ainda não chegou o momento para que o partido possa decidir sobre as eleições de 2022", disse Neto.

Onyx ainda pediu alteração no estatuto da União Brasil para mexer na composição da comissão executiva e do diretório nacional do futuro partido, o que também foi rejeitado.

Mais tarde, na convenção da União Brasil, Onyx voltou a pedir que houvesse deliberação sobre o apoio a Bolsonaro, o que foi rechaçado pela cúpula da nova sigla e, irritado, deixou o local, como mostrou a coluna Painel, da Folha de S.Paulo.

O governador Ronaldo Caiado (DEM-GO) também solicitou mudança no estatuto para que todas as decisões da União Brasil só sejam tomadas por deliberações colegiadas aprovadas por três quintos da executiva nacional do novo partido.

Uma vez consolidada a fusão, a tendência é que o PSL, que tem 53 congressistas na Câmara, perca cerca de metade da bancada, formada por apoiadores de Bolsonaro (eleito pelo PSL).
O DEM também deverá perder apoiadores. A expectativa de ambas as siglas, porém, é que outros quadros migrem para a nova legenda.

Nesta quarta, o presidente do PSL, Luciano Bivar, afirmou que o cenário a respeito do tamanho da bancada da sigla só ficará claro após a janela partidária das eleições -período em que deputados podem migrar de partido sem serem punidos-, que ocorre em abril de 2022.

A ideia dos dirigentes do provável novo partido é lançar candidato à Presidência ou apoiar formalmente um nome que não seja Bolsonaro.

Nesse movimento, o DEM trabalhará para manter na legenda o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), que tem sido assediado pelo PSD. E tentará atrair nomes relevantes, como Geraldo Alckmin (PSDB-SP), ex-governador de São Paulo, e Romeu Zema (Novo-MG), governador de Minas Gerais.

A respeito da permanência de Pacheco, o presidente do DEM disse que o senador ainda não se posicionou.

"A nossa expectativa é que ele continue no partido, mas apenas ele pode se manifestar sobre seu futuro e seu destino", disse Neto nesta quarta.

A cúpula do DEM decidiu negociar a fusão para ter um "corpo que pudesse carregar seu conteúdo", como afirmaram caciques da legenda à reportagem reservadamente, após a perda de filiados de destaque em 2021 e a rejeição da volta das coligações partidária pelo Senado.

De um lado, o PSL deverá ter um dos maiores tempos de televisão em 2022, além de ter um robusto fundo eleitoral e partidário.

Do outro, o DEM, um partido que já teve momentos áureos no governo Fernando Henrique Cardoso, mas que hoje, com uma bancada de 28 deputados, não tem a importância que já teve um dia.

Na avaliação de dirigentes do DEM, a fusão de ambas as siglas (com a incorporação do DEM ao PSL), além de uma questão de sobrevivência devido a mudanças nas regras eleitorais, tem por objetivo garantir a relevância dos dois partidos após as eleições de 2022.

Isso porque o PSL foi nanico por cerca de 25 anos, desde a sua fundação, em 1994, até 2018, quando abrigou Bolsonaro na disputa pela Presidência da República.

A onda bolsonarista fez o partido eleger a segunda maior bancada da Câmara e, com isso, ter a segunda maior fatia da verba pública partidária e eleitoral a partir de 2019.

Porém, sem Bolsonaro, que rompeu com a sigla ainda em 2019, o PSL dificilmente terá desempenho perto do que conseguiu em 2018, mesmo com os cofres de campanha cheios.

As eleições municipais de 2020 foram uma prévia. O partido elegeu 90 prefeitos, nenhum deles em grandes cidades.

Já o DEM está longe dos áureos tempos dos anos 1980 e 1990, quando sob o nome de PFL (Partido da Frente Liberal) chegou a ter a maior bancada da Câmara e a presidir as duas Casas do Congresso, além de ter a Vice-Presidência da República.

Com a chegada do PT ao poder, o partido trilhou o caminho da oposição e acabou entrando em declínio.

Em 2007, na tentativa de se renovar, trocou o comando e mudou o nome para Democratas. Em 2014, chegou ao fundo do poço, tendo eleito apenas 21 deputados federais.

O partido ganhou um novo fôlego após o impeachment de Dilma Rousseff (PT), em 2016, e com a eleição de Rodrigo Maia (RJ) para a presidência da Câmara. Em 2019, venceu também o Senado, com Davi Alcolumbre (AP).

Além de perder o ex-presidente da Câmara, a sigla também viu a saída de Rodrigo Garcia (PSDB), vice-governador de São Paulo, e ainda teme que Pacheco deixe a legenda e vá para o PSD.