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Moeda digital não pode ser disruptiva para os balanços dos bancos, diz Campos Neto

Segundo ele, uma implementação muito acelerada pode afetar a proporção de depósitos compulsórios e reduzir a capacidade de gerar crédito

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central - Agência Brasil

O presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, afirmou, nesta quinta-feira (7), que o Brasil já avançou nos estudos sobre a moeda digital, mas que "há coisas para resolver" para assegurar que não será disruptiva para os balanços dos bancos.


"Temos a moeda digital, que avançamos, mas há várias coisas que precisamos resolver para ter certeza de que não será disruptiva para os balanços dos bancos", disse em evento virtual organizado pelo BIS (Banco de Compensações Internacionais na sigla em inglês).

Em outras ocasiões, Campos Neto explicou que a autoridade monetária estuda formas de fazer com que a conversão da moeda digital não afete o balanço dos bancos.

Segundo ele, uma implementação muito acelerada pode afetar a proporção de depósitos compulsórios e reduzir a capacidade de gerar crédito.

Depósitos compulsórios são recursos dos clientes que as instituições financeiras deixam retidos no BC e que não podem virar crédito. Funciona como um seguro para diminuir a alavancagem, ou seja, que esse dinheiro seja emprestado indiscriminadamente, colocando a instituição em risco em caso de inadimplência.

Além disso, se as demandas por moeda digital e física forem diferentes, pode gerar cotações diferentes para cada uma, o que também pode afetar os balanços.

No evento, o presidente do BC afirmou que medidas como o Pix, o open finance (uma extensão do open banking) e a moeda digital foram desenhadas para se integrarem no futuro.

"No fim o que tínhamos em mente era a convergência de todas as medidas, desenhamos tudo para convergir em 4 ou 5 anos", destacou.

Ele frisou ainda que a convergência deve tornar o sistema financeiro mais competitivo e reduzir custos.

Campos Neto disse ainda que o BC viu necessidade de regular antecipadamente sistemas, como o de pagamentos instantâneos e o open banking, para evitar que as plataformas desenvolvidas pelo mercado fossem muito diferentes umas das outras, dificultando a integração.

"Quando tentamos integrar fica muito difícil. Foi o que ocorreu com recebíveis, para integrar todas as plataformas, cada um tem uma solução diferente", exemplificou.

"Para nós, é a única forma de manter tudo dentro da regulação, no mesmo guarda-chuva", completou o presidente do BC.

Campos Neto ressaltou ainda que é importante ter cooperação entre os bancos centrais no processo de digitalização financeira. Para ele, as autoridades monetárias poderiam compartilhar mais informações sobre o tema.