Saiba o que é a tricotilomania, distúrbio no qual o paciente arranca os próprios fios de cabelo
Não há causa específica, mas costuma estar associado a fatores genéticos e neurobiológicos
Muita gente tem alguma mania em relação ao corpo. Algumas mais estranhas do que outras, mas, desde que não seja prejudicial, não há problema. No entanto, existem "cacoetes" que vão além de uma simples atitude de repetição, mas podem significar algum transtorno psicológico, como é o caso de arrancar o próprio cabelo ou fios do corpo.
Chamada de tricotilomania, essa mania é uma desordem comportamental crônica, que se caracteriza pela falta de controle dos impulsos recorrentes de arrancar fios ou tufos, tanto do couro cabeludo, como também de outras regiões do corpo, a exemplo da sobrancelha, cílios, barbas e até mesmo da região pubiana.
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O psicólogo clínico especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental Rodrigo Nery explica que o distúrbio está dentro do espectro do Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC). "Não há uma causa específica para a tricotilomania, mas em grande parte dos casos há uma associação a outras comorbidades, como uma grande carga de estresse, um transtorno de ansiedade, entre outros", afirmou Rodrigo.
Como ela se manifesta
O profissional explica ainda que há uma sensação de prazer assim que o paciente realiza o ato de arrancar o fio, mas a satisfação é momentânea, o que leva à repetição do ato. "Não há um padrão para cada pessoa. Algumas começam por fios brancos, outras pelos fios mais finos. Em cada pessoa, ela se manifesta de uma forma diferente", pontuou. "Além disso, ela pode ocorrer tanto de forma consciente, com o paciente sabendo que está arrancando o fio, como de forma inconsciente, quando ele não nota que faz aquilo repetidas vezes", emendou.
A mestranda em Química Fernanda Oliveira, 30, é uma das pessoas que convive com o problema. Desde criança, quando tinha nove anos, ela puxava o próprio cabelo, mas o diagnóstico só chegou aos 14. Durante esse tempo, ela já precisou usar acessórios para esconder as falhas no couro cabeludo. "Eu nunca parei com a mania, mas amenizou bastante quando comparado com antigamente, quando eu usava lenços e perucas para esconder os espaços vazios que ficavam na minha cabeça", desabafa. Ela já fez tratamento com um psicanalista e também já fez uso de ansiolíticos.
Apesar de ter melhorado bastante, Fernanda percebeu que a chegada da pandemia fez o hábito se intensificar novamente. "Atualmente eu participo de um grupo que reúne pessoas de todo o país e que sofrem com o mesmo problema. Tem relato de pessoas que se curaram e de gente que tem melhorado. Isso ajuda muito", complementa.
Prejuízos e tratamento
Para Rodrigo Nery, a tricotilomania pode agravar os transtornos depressivos, já que pode baixar a autoestima do paciente, que vai querer se isolar e consequentemente ficar ainda pior. "Sem falar nos danos dermatológicos, já que pode provocar pequenas lesões na pele e no couro cabeludo", destaca.
Por isso, o tratamento da tricotilomania é multidisciplinar. "O paciente vai ser acompanhado por um terapeuta e, em alguns casos, precisa de um acompanhamento psiquiátrico, que deve receitar fármacos conforme a necessidade. É indicado também que um dermatologista possa avaliar a situação das lesões para promover uma recuperação mais efetiva das áreas que sofreram", finaliza o especialista.
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