Paulo Neto volta aos palcos em show virtual, com interação e novidades para o público
Em "Clareou", cantor e compositor pernambucano fez sua estreia na plataforma Neo em apresentação online e interativa
Havia plateia, camarotes e camarim. Paulo Neto interagiu, acompanhou (e foi acompanhado) pelos movimentos da câmera e olhou nos olhos de quem o assistia do lado de cá em seu primeiro show virtual – uma excentricidade em tempos de pandemia.
A apresentação, apesar de online, não foi à distância, ao menos não da forma comum a que artista e público têm se submetido nos tempos atuais. De casa, não raras foram as vezes em que sentir-se em frente a um palco - de um teatro ou de uma casa de espetáculos - era a sensação comum e talvez tenha sido justamente por essa possibilidade de compartilhar sentimentos que o cantor e compositor pernambucano tenha aceitado o convite para apresentar “Clareou”, show realizado na última quinta-feira (7) de um estúdio em São Paulo, para convidados, na plataforma Neo Idea, criada por Cláudio Abuchaim e com o selo Analaga, de Dudu Borges.
“Foi muito forte fazer tudo isso. Não fiz show durante a pandemia , este foi o primeiro, e lidar com as pessoas do outro lado... A plataforma sugeria que eu interagisse com elas e as câmeras me acompanhando me aproximavam muito de quem estava assistindo. E eu também ouvia as pessoas. Foi uma experiência poderosa, inclusive de voltar a sentir a energia de preparar um show, com sentido e troca”, contou Paulo.
Ao lado de Guilherme Kafé (violão e guitarra) e de Nanda Guedes (sanfona/percussão) e com repertório pensado em detalhes para a apresentação, Paulo Neto trouxe de inéditas – que devem integrar seu próximo disco – além de cancioneiro que passeou por Dominguinhos, Erasmo Carlos e Belchior. Este último, inclusive, foi um nome que ele percorreu por pelo menos seis anos, em shows e dedicações.
“Eu reuni muitas atmosferas para essa apresentação, com canções que passavam por diversos lugares e atendia a pedidos de quem me acompanha nas redes, por exemplo. Foi uma mescla de autorais e de outras que as pessoas quiseram ouvir. A plataforma traz essa possibilidade de experimentar repertórios”, complementa ele, que deve se apresentar mensalmente neste mesmo formato.
“Trazer para o espaço virtual uma ideia de show, e com esse impacto da pandemia, faz a gente entender que muitas coisas vão seguir no virtual. Consegui reunir pessoas de vários lugares do Brasil e de fora (EUA, Portugal). Não teria conseguido se fosse com público presencial. Acho que vamos seguir alternando entre um formato e outro”, destaca o pernambucano que soma pelo menos duas décadas de trajetória na música e dois discos de carreira, o primeiro deles como intérprete, “Dois Animais na Selva Suja da Rua” (2015) e o segundo de músicas autorais, “Rosário de Balas” (2017). “Além do terceiro disco que já está sendo pensado, é possível que tenhamos o registro dos anos em que trabalhei com repertório dedicado a Belchior”, adianta.
Com narrativa que instigava a uma curiosa experiência de proximidade, o decorrer do show esbanjou um Paulo Neto flutuante entre cantorias habilidosas – em voz, arranjos e gestos - e a humanidade que se invoca em emoções de estreias.
Ora dedicando canções, ora sendo grato, inclusive, pela dádiva de estar ali vivo (artística e pessoalmente), diante de um público “afetuoso e responsável em dar seguimento à sua arte”, havia no palco um artista (re)começando e se fazendo entender, em um espaço que não necessariamente é favorável a reações calorosas e fraternas. “Mainha já parou de chorar?”. Dona Elisabete, de Condado, Mata Norte de Pernambuco, estava emocionada, à distância (?), assistindo e aplaudindo o filho artista, disruptivo.