Chile

Confrontos entre policiais e manifestantes mapuches termina em um morto no Chile

O Ministério Público abriu uma investigação "para esclarecer o que aconteceu injustamente nesta violência desproporcional"

Policiais prendendo um manifestante nos protesto a favor do povo mapuche em Santiago, no Chile - Martin Bernetti/AFP

Os confrontos, no domingo (10), entre a polícia e manifestantes durante uma marcha em Santiago a favor do povo mapuche, terminaram com um saldo de um morto, 10 detidos e 17 feridos - informaram as autoridades.

A vítima fatal, Denisse Cortés, de 43 anos e advogada da Defensoria Popular, participava da manifestação com os mapuches quando se aproximou dos policiais para falar.

Um grupo de encapuzados lançou fogos de artifício e "um deles atingiu a manifestante que estava com os 'Carabineros' (policiais)", relatou o chefe da polícia da região metropolitana, Enrique Monras.

A mulher foi transferida para o Hospital de Urgências de Santiago, onde foi operada.

"Infelizmente, a paciente morreu durante a intervenção à tarde", informou o hospital, em um comunicado do hospital.

O Ministério Público abriu uma investigação "para esclarecer o que aconteceu injustamente nesta violência desproporcional", declarou o ministro do Interior, Rodrigo Delgado. 

O protesto também deixou 17 "carabineros" feridos em diversos graus, nove pessoas foram presas por distúrbios, e uma, por porte de arma, segundo a polícia.

Convocada pelas redes sociais, a "Marcha pela Resistência Mapuche e pela Autonomia dos Povos" reuniu cerca de mil pessoas perto da Plaza Italia, no centro da capital chilena, incluindo vários representantes de comunidades mapuches.

Quando a marcha se dirigia para a Alameda, principal avenida de Santiago, a polícia dispersou o protesto com um forte contingente de policiais apoiados por canhões d'água e gás lacrimogêneo.

Os manifestantes responderam com paus e pedras em confrontos que duraram pelo menos 40 minutos, segundo um jornalista da AFP no local.

Durante a marcha, foram observados cartazes com inscrições como "Wallmapu (território mapuche) livre", ou "eles não vão deter nossa legítima luta", uma alusão ao conflito histórico entre os indígenas e o Estado chileno. Esta população nativa exige a restituição de terras no sul do país, as quais consideram suas por direito ancestral e que foram entregues a particulares, principalmente a silvicultores.

As reivindicações mapuches ganharam força nos protestos após a eclosão social nas ruas chilenas, em 18 de outubro de 2019. 

A Convenção Constituinte - que marca 100 dias nesta terça-feira (12) desde que começou a redação de uma nova Constituição para o país - é presidida pela acadêmica mapuche Elisa Loncon. Do total de seus 155 membros, 17 são representantes de dez povos indígenas.

Sete constituintes representam o povo mapuche, que espera resolver as demandas indígenas na nova Carta Magna. 

A falta de uma solução para as reivindicações mapuches causou uma escalada da violência na última década nas regiões de La Araucanía, Biobío e Los Ríos, com ataques incendiários a propriedades privadas e a caminhões.

Também veio à tona a presença de organizações do narcotráfico e de milícias de autodefesa, bem como de operações policiais montadas para culpar os indígenas.