Mudanças climáticas

Transição para energias limpas é 'muito lenta', adverte AIE

Agência também pediu mais investimentos em fontes renováveis para evitar a mudança climática

Usina de Energia Eólica - Divulgação/Ari Versiani/PAC

A Agência Internacional de Energia (AIE) advertiu, nesta quarta-feira (13), que a transição para energias limpas é "muito lenta" e pediu mais investimentos em fontes renováveis para evitar a mudança climática e "turbulências" no mercado energético.

A duas semanas da abertura da reunião de cúpula do clima COP26 da ONU e em plena escalada dos preços da energia elétrica na Europa, a agência apresenta, em seu relatório anual, "sérias advertências diante da direção que o mundo está seguindo" nesta questão.
 

O relatório deste organismo da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) reconhece a emergência de uma nova economia de baterias, hidrogênio, ou carros elétricos, mas este progresso é contrastado pela "resistência do 'status quo' e das energias fósseis".

"O progresso das energias limpas é muito lento para posicionar as emissões globais em uma queda sustentada a zero até 2050, o que permitiria manter o aquecimento global abaixo de +1,5ºC", afirma a agência.

Petróleo, gás e carvão ainda estão na origem de 80% do volume total da energia consumida e são responsáveis por 75% dos desequilíbrios climáticos, completa o relatório.

Até o momento, os compromissos climáticos anunciados pelos Estados permitiriam, se cumpridos, alcançar até 2030 apenas 20% da redução total de emissões de gases do efeito estufa necessária para manter o aquecimento sob controle.

"Os investimentos em projetos energéticos descarbonizados devem triplicar em dez anos para (alcançar) a neutralidade de carbono em 2050", afirmou o diretor da AIE, Fatih Birol.

Como a crise da covid-19 freou os progressos na eletrificação, especialmente na África subsaariana, o financiamento dos países emergentes é chave, de modo que possam se equipar para evitar as centrais de carvão.

"Risco de turbulências" 

A agência apresenta três cenários de futuro.

No primeiro, os Estados continuam como atualmente: as energias limpas são desenvolvidas, mas o aumento da demanda e a indústria pesada mantêm os níveis atuais de emissão.

Neste caso, o aquecimento chegaria a +2,6ºC na comparação com a era pré-industrial, longe do +1,5ºC que garante um impacto administrável do clima.

No segundo cenário, os países cumprem seus compromissos, e mais de 50 deles, incluindo os da União Europeia, alcançam a neutralidade de carbono. Nesta situação, a demanda de combustíveis fósseis alcançaria o teto em 2025, e o aumento das temperaturas seria de +2,1ºC.

A terceira opção, a única para não superar +1,5ºC, é a neutralidade de carbono mundial. Ela "exigirá mais esforços, mas oferece vantagens consideráveis para a saúde e para o desenvolvimento econômico", argumenta a AIE.

O financiamento adicional "é menos significativo do que parece", acrescenta.

Quase 40% das reduções "são autofinanciadas" pela eficiência energética, pela luta contra os vazamentos de metano, ou pelos parques de energia solar, ou eólica, onde a tecnologia é mais competitiva.

A AIE também destaca que o atual déficit geral de investimentos não afeta apenas o clima, mas também os preços e o abastecimento. Este quadro antecipa mais "turbulências" no mercado, porque a oferta de energia limpa não satisfaz o aumento de demanda.

"Projeta o risco de turbulências mais intensas nos mercados mundiais de energia", destaca Birol. 

"Não investimos o suficiente para atender às necessidades futuras, e esta incerteza nos prepara para um período volátil. A forma de responder é clara: investir, de maneira maciça e rapidamente, em energia limpa para atender às necessidades de curto e longo prazo", completou.

Em caso contrário, "o risco de uma volatilidade desestabilizante apenas aumentará com o tempo", afirma o relatório, que insiste na importância de uma transição "acessível a todos os cidadãos". 

Por isso, Birol pede aos líderes da COP26 de Glasgow "que trabalhem para fazer dos anos 2020 a década do uso em larga escala de energias descarbonizadas, um mercado com potencial para criar milhões de empregos".