Igreja reconhece possível aparição, e Irmã Adélia pode se tornar a primeira santa pernambucana
Religiosa pode vir a se tornar a primeira santa pernambucana
A Igreja Católica reconheceu oficialmente ontem, pela primeira vez, que Irmã Adélia, quando criança, pode ter presenciado a aparição de Nossa Senhora em Cimbres, no município de Pesqueira, Agreste de Pernambuco. A presumível aparição ocorreu em 1936 e a admissão foi realizada agora, 85 anos depois.
O reconhecimento foi registrado em uma Carta Pastoral escrita pelo bispo diocesano de Pesqueira, Dom José Luiz Salles, que será enviada ao Vaticano, em Roma, no próximo mês. O documento será incluído no processo de beatificação e canonização de Irmã Adélia, aberto em 2019 pela Diocese, e que pode fazer da religiosa, falecida em 2013 aos 90 anos de idade, a primeira santa nascida em Pernambuco.
“A carta pastoral tem uma parte histórica, tem uma parte teológica, uma parte bíblica e uma parte pastoral. Na parte pastoral, é a palavra do bispo dizendo que aquele lugar tem sinais de sobrenaturalidade, que o povo de Deus pode ali acorrer para celebrar e viver a sua fé”, comentou o bispo.
O documento também descreve milagres atribuídos à Irmã Adélia e, segundo Dom José, demonstra que a experiência vivida pela religiosa não contradiz a fé católica. “Com a carta, agora, a igreja oficializa aquilo que ela já tinha decidido, torna-se oficial, e vai ajudar muito o processo porque é a palavra do bispo dizendo que a experiência que essa religiosa teve é uma experiência válida, não contradiz a fé, que ali (Cimbres) é um lugar de crescimento das pessoas”, disse. “É um lugar que o povo de Deus pode ir, pode rezar, pode fazer as suas devoções”, acrescentou.
Superiora provincial do Instituto das Religiosas da Instrução Cristã no Brasil, mesma congregação de Irmã Adélia, a Irmã Cleonice Santos conviveu com a religiosa e recorda-se do momento em que ela compartilhou a experiência com as demais freiras.
“Quando eu era noviça foi exatamente na ocasião que Irmã Adélia sentiu-se apelada por Deus para romper com o silêncio diante de um câncer já em processo bastante acelerado. E foi quando ela solicitou a superiora provincial e a superiora geral para compartilhar conosco, as suas irmãs, essa experiência espiritual que ela teve juntamente com a Maria da Conceição. E ela foi muito ungida ao dizer, e dizia de uma forma muito transparente e profunda, sobre essa experiência que as duas tiveram com Nossa Senhora da Graça”, comentou.
Cleonice afirmou, também, que, após a conversa, Irmã Adélia e mais 23 religiosas foram à Cimbres e, lá, Adélia teria sido curada do câncer. “O médico havia dado três meses de vida devido ao quadro clínico dela e de fato ela ali teve uma experiência com Maria também e ela dizia que ela pedia a Nossa Senhora que se ela a quisesse viva para cumprir a missão dela de ser servidora dos pobres, ela lhe desse a graça da cura. E se não, se ela já tivesse cumprindo a missão, que ela também se colocaria nas mãos de Deus para fazer a oferta da vida dela”.
Além da cura da própria Irmã Adélia, a superiora relata que muitas pessoas também afirmam terem sido curadas por ela. “Como a gente vem acompanhando de perto o processo, há muitos relatos, muitos relatos mesmo, vários registros, depoimentos em vídeo, de várias pessoas que já foram curadas. Relatos de crianças, de adultos, e, assim, é tocante ouvirmos tantas pessoas que se achegam a Nossa Senhora, como a própria Irmã Adélia”, frisou.
História de vida*
Irmã Adélia nasceu em Pesqueira, no Agreste pernambucano, em 16 de dezembro de 1922, com o nome de batismo de Maria da Luz Teixeira de Carvalho. No dia 06 de agosto de 1936, ao lado da também jovem Maria da Conceição, presenciou, no meio da serra, a aparição de Nossa Senhora da Graça, que salvou as meninas da aproximação de um grupo de malfeitores, guiando-as em segurança para casa.
O testemunho do primeiro milagre e as várias outras aparições da Virgem às jovens intrigaram a família, a comunidade e a Igreja. Mesmo analfabetas, respondiam em diversos idiomas aos questionamentos intermediados por elas à Maria. Desacreditadas pela ignorância dos que não queriam crer, foram perseguidas. Posteriormente, tornou-se freira do Instituto das Religiosas da Instrução Cristã, no Recife, cidade em que realizou diversos trabalhos sociais. Irmã Adélia faleceu no dia 13 de outubro de 2013, na capital pernambucana.
*Com informações do Instituto das Religiosas da Instrução Cristã