Escassez global freia a recuperação da Alemanha
Estes problemas dificultam as atividades do setor manufatureiro, que é o pilar da economia alemã
A economia da Alemanha crescerá 2,4% em 2021, uma recuperação abaixo do esperado, devido aos problemas registrados nas redes de abastecimento mundiais de matérias-primas e componentes industriais - concluíram os principais institutos econômicos do país.
Estes problemas "dificultam no momento a atividade do setor manufatureiro", pilar da economia alemã, afirmaram as influentes organizações econômicas.
Em abril, os institutos (DIW, IFO, IFW, IWH e RWI) previram uma alta de 3,7% do Produto Interno Bruto (PIB) alemão este ano, após a queda de 4,9% registrada em 2020, provocada pela pandemia da Covid-19.
Também antecipam que, em 2022, "a economia alemã deve retornar a uma utilização normal de suas capacidades", o que fará o PIB crescer 4,8%, antes de desacelerar a 1,9% em 2023.
"O PIB aumenta de forma clara desde o retrocesso das infecções na primavera" (hemisfério norte), afirmaram os organismos em um comunicado.
"Mas, para o setor manufatureiro, os problemas de abastecimento freiam a produção", completou o texto.
"A atividade do setor de serviços continuará abaixo do nível habitual no inverno, apesar do reduzido número de contágios", projetam os institutos.
"A economia alemã está mais conectada com a economia internacional e é mais dependente que muitos outros países da União Europeia", declarou à AFP Carsten Brzeski, economista do banco ING.
"Por isso, voltará ao nível de antes da crise mais tarde que a maioria dos outros países", completou.
Um estudo do banco público KFW aponta que quase metade das empresas alemãs (48%) enfrenta problemas com as entregas.
Próximos meses difíceis
"A escassez atrasa a recuperação econômica", confirmou à AFP Jens-Oliver Niklasch, analista do banco LBBW.
A pandemia desestabilizou as cadeias mundiais de abastecimento e provocou gargalos nos mercados de componentes eletrônicos, madeira, plásticos e aço.
As consequências foram sentidas especialmente na Alemanha, cuja indústria exportadora é fundamental.
"Há um efeito de diminuição na produção e no nosso volume de negócios", declarou à AFP Ralph Wiecher, economista-chefe da organização de ferramentas mecânicas VDMA.
A produção industrial caiu 4% em agosto, enquanto os pedidos registraram queda de 7,7%.
As exportações, que não paravam de subir desde abril de 2020, caíram 1,2%.
O setor automobilístico, pulmão da economia alemã, enfrenta grandes dificuldades pela escassez de semicondutores.
"A economia alemã deve se preparar para um outono difícil", advertiu recentemente a organização industrial BDI.
Uma pesquisa da consultoria Inverto mostrou que 75% dos líderes empresariais acreditam que a crise vai durar mais 18 meses.
Negociações políticas
A escassez pode ter outra consequência para a economia alemã: mais inflação.
Pressionada pelo aumento do preço da energia, a inflação chegou a 4,1% em setembro, o nível mais elevado desde 1993.
"Se observarmos as perspectivas para o trimestre de inverno (verão no Brasil), podemos falar de estagflação", advertiu Jorg Kramer, economista do Commerzbank, ao comentar o coquetel explosivo de crescimento fraco e forte inflação.
Este seria um cenário similar ao período posterior ao choque do petróleo nos anos 1970.
No plano político, o contexto econômico difícil pode complicar ainda mais as já complexas negociações entre os partidos políticos para a formação de um novo governo na Alemanha, após as recentes eleições legislativas.
O Partido Social Democrata (SPD), que venceu as eleições, e o Partido Verde defendem uma política de gastos públicos generosos para impedir uma redução abrupta da recuperação, interrompendo, momentaneamente, as regras nacionais e europeias de contenção do déficit fiscal.
O Partido Democrático Liberal (FDP), que também participa das negociações, deseja reforçar a disciplina fiscal. Nesse sentido, os liberais exigem uma redução de impostos que deixaria o Estado federal sem recursos para financiar programas de apoio econômico.