Alerta

Avanço do mar ameaça o Recife, uma das cidades mais suscetíveis à crise climática no planeta

Praia de Boa Viagem, no Recife - Alexandre Aroeira/Folha de Pernambuco

“Cidade aquacêntrica de alguns milhões de habitantes”. É assim que o projeto colaborativo Recife Exchanges chama a capital pernambucana, a mais vulnerável das capitais brasileiras às mudanças climáticas e ao avanço do nível do mar. No ranking global, a “Veneza Brasileira”, cortada por rios e mangues e banhada pelo Oceano Atlântico, ocupa o 16º lugar, segundo relatório mais recente do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado em agosto.

As próprias características geográficas do território do Recife, que cresceu dando as costas para as suas águas, potencializam o seu status de risco. A combinação de baixa topografia, intensa urbanização, alta densidade demográfica, histórico de ocupação desordenada e elevados valores ecológicos, turísticos e econômicos transformam a cidade em um caso raro de suscetibilidade à crise climática, com a possibilidade, até mesmo, de ficar submersa caso nada seja feito. 

O IPCC indicou que a atividade humana está provocando alterações no clima do planeta de forma sem precedentes e, além disso, algumas das mudanças já atingiram um patamar irreversível. Entre as principais considerações apontadas pelo relatório, estão o aumento do nível médio do mar, que subiu mais rápido desde 1900 do que em qualquer outro século nos últimos 3 mil anos; e a elevação da temperatura da superfície terrestre, mais rápida desde 1970 do que em qualquer outro período de 50 anos visto nos últimos 2 mil anos. 

O professor Marcus Silva, do Departamento de Oceanografia e vice-coordenador do Centro de Estudos Avançados da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), destaca que uma das principais preocupações para o Recife neste contexto de mudanças climáticas é que a cidade está muito próxima do nível do mar e todas as soluções precisam partir desse ponto. 

“O Recife tem uma densidade demográfica muito alta e a ocupação é muito próxima da costa. Isso gera um estresse muito grande, porque toda a infraestrutura da cidade está muito próxima do mar, o que causa problema de abastecimento, geração de energia e tratamento de esgoto”, cita o professor, que ainda sentencia: “A gente tem muito ribeirinho, uma população pobre que mora nessa situação. Temos toda uma planície que acompanha os rios e a economia da cidade gira em torno de ilhas”.

Cortado por rios e mangues e banhado pelo Oceano Atlântico, o Recife cresceu de costas para as suas águas (Foto: Arthur de Souza/Folha de Pernambuco)

O professor também destaca que não será uma solução única que irá resolver os problemas do Recife, mas a busca por um conjunto de fatores para avaliar e adaptar a cidade ao longo dos anos. Trata-se, portanto, de uma realidade que precisa ser pensada e encarada pelos diversos atores da sociedade.

Além disso, o alerta de entidades e autoridades para as mudanças climáticas e seus transtornos não é algo tão novo, como lembra Marcus Silva. Desde a década de 1970, pelo menos, existe uma tentativa mundial de virar a chave para redução das emissões de CO2, mas muitas nações do mundo não tinham noção da corresponsabilidade. 

“Não podemos perder a esperança. Estamos recebendo a consequência da imprudência de gerações anteriores, mas essa geração da gente tem o poder de transformar e não adianta jogar a responsabilidade para frente. Ninguém quer arcar com qualquer custo e termina transferindo a responsabilidade para outra gestão, outro momento. A gente ocupou um território que era marinho e agora a gente está pagando esse preço”, alertou o professor.

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