Terrorismo

Atentado contra ônibus militar deixa 14 mortos em Damasco

O ataque, que não foi reivindicado por nenhum grupo até o momento, é o mais violento na cidade desde o atentado executado pelo Estado Islâmico, em março de 2017, que deixou pelo menos 30 mortos

Ataque terrorista com dois dispositivos explosivos fixados ao veículo deixou ao menos 14 mortos - AFP

Um atentado contra um ônibus militar em Damasco deixou pelo menos 14 mortos nesta quarta-feira (20), o ataque mais violento do tipo em vários anos na capital da Síria.

Uma hora depois, um bombardeio do exército matou 13 pessoas, incluindo 10 civis, na província de Idlib, o último grande reduto jihadista e rebelde da região noroeste do país, informou a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

Às 6H45 (0H45 de Brasília), um ônibus militar que circulava perto de uma ponte estratégica da capital "foi alvo de um ataque terrorista com dois dispositivos explosivos fixados ao veículo, o que provocou as mortes de 14 pessoas e deixou vários feridos", informou a agência estatal SANA.
 

A agência oficial síria SANA informou "um atentado terrorista que utilizou dois dispositivos explosivos contra um ônibus sobre uma ponte na capital síria". O ataque também deixou três feridos.

As imagens divulgadas pela agência mostram um ônibus em chamas e uma equipe trabalhando para desativar um terceiro explosivo na mesma área.

Damasco não é tão afetada pela violência da guerra síria, especialmente desde que militares e milícias aliadas tomaram o controle em 2018 do último reduto rebelde perto da capital.

O ataque, que não foi reivindicado por nenhum grupo até o momento, é o mais violento na cidade desde o atentado executado pelo grupo extremista Estado Islâmico (EI) contra o Palácio de Justiça em março de 2017, que deixou pelo menos 30 mortos.

Bombardeio em Idlib 

Quase uma hora depois da explosão, o exército bombardeou a cidade de Ariha, na província de Idlib, severamente castigada pela guerra.

A ação, que matou 13 pessoas, incluindo ao menos um combatente, aconteceu em uma área movimentada da cidade no momento de entrada nas escolas, segundo o OSDH. Três vítimas eram crianças.

"À 8 da manhã, acordamos com os bombardeios. As crianças ficaram aterrorizadas e gritavam, não sabíamos o que fazer nem para onde ir", declarou à AFP Bilal Trissi, pai de duas crianças e que mora perto do local atacado.

"Bombardearam o nosso bairro, o mercado. Crianças morreram. Não sabemos por quê, de que somos culpados?", questionou.

Este é um dos ataques mais violentos desde a entrada em vigor de uma trégua em Idlib, em março de 2020, mediada por Rússia e Turquia, os dois principais personagens estrangeiros no conflito sírio.

Muitos rebeldes e jihadistas procedentes de outras áreas se reagruparam nesta província, dominada pelo grupo extremista Hayat Tahrir Al Sham (HTS), integrado por líderes do ex-braço sírio da Al-Qaeda.

 Reconquista do regime 

Os dois eventos abalam as mensagens do governo de que os 10 anos de guerra no país ficaram para trás e a estabilidade está garantida para iniciar o mais rápido possível os projetos de reconstrução e investimento.

O regime do presidente Bashar al-Assad se esforça para sair do isolamento internacional e registrou alguns progressos recentemente.

Meio milhão de pessoas morreram no conflito, que começou com a brutal repressão dos protestos iniciados em 2011 no âmbito da Primavera Árabe, segundo os dados do OSDH.

A guerra também provocou o maior deslocamento forçado pela violência desde a Segunda Guerra Mundial. Metade dos 22 milhões de habitantes sírios de antes do conflito se viram forçados a deixar suas casas em algum momento.

A posição de Assad ficou por um fio quando suas forças controlavam apenas um quinto do território sírio, mas a intervenção militar da Rússia em 2015 permitiu o início de uma longa e violenta reconquista do país.

Apoiado ainda pelo Irã e por milícias aliadas, o exército recuperou quase todas as principais cidades da Síria, embora as forças curas apoiadas pelos Estados Unidas ainda controlem o nordeste.

O autoproclamado califado do Estado Islâmico, que impôs sua lei brutal em várias partes da Síria e Iraque, perdeu espaço até desaparecer no início de 2019.

O que restou do EI no leste da Síria passou à clandestinidade, mas continua atacando o governo e suas forças aliadas, especialmente em zonas desérticas.

Agora, o principal objetivo do governo é a região de Idlib. O regime de Assad insiste na intenção de reconquistar todo o território, incluindo esta província rebelde.