Relatório da CPI da Covid oferece um 'quem é quem' do bolsonarismo digital
A maioria é acusada de espalhar fake news e, por falta de opção jurídica mais específica, foi enquadrada no artigo 286 do Código Penal, que trata de incitação ao crime
O relatório final da CPI da Covid, apresentado nesta quarta-feira (20) pelo relator Renan Calheiros (MDB-AL), pode ser lido como um "quem é quem" do universo de influenciadores digitais do bolsonarismo.
Foram 27 com indiciamento pedido por Renan, uma conta que inclui políticos, diplomatas, empresários, jornalistas e agitadores de redes sociais.
"A disseminação das fake news na pandemia contou com uma rede organizada, com capacidade de alcance e influência política", afirma o relatório, que ainda será votado pela comissão e poderá receber emendas.
A maioria é acusada de espalhar fake news e, por falta de opção jurídica mais específica, foi enquadrada no artigo 286 do Código Penal, que trata de incitação ao crime.
É o caso, por exemplo, de Allan dos Santos, chamado de "personagem central na disseminação de fake news em acordo com o Palácio do Planalto". O relatório reproduz declarações, vídeos e tuítes de sua autoria negando a gravidade da pandemia, inclusive uma célebre dancinha em que ele diz que "corona é o caralho".
Outras pérolas afirmam que o lockdown seria um plano diabólico da China e que a OMS (Organização Mundial da Saúde) seria genocida pela posição contrária ao uso de cloroquina contra o vírus.
Também recebe destaque o jornalista Oswaldo Eustáquio, que se autoexilou no México. Durante a fase mais aguda da pandemia, fez lives defendendo o chamado tratamento precoce.
Numa delas, conversa com o virologista Paolo Zanotto, também com pedido de indiciamento pela CPI, e que é um expoente do chamado "gabinete paralelo" que assessorou o presidente Jair Bolsonaro.
Outros médicos citados são Nise Yamaguchi e Luciano Dias Azevedo, também membros dessa estrutura de aconselhamento informal ao governo, que contornou os canais oficiais do Ministério da Saúde.
Já o empresário Leandro Ruschel, que vive na Flórida (EUA), é citado no relatório, entre outros pontos, por sua campanha contra a China, lugar de origem do vírus.
Em postagens, ele também subestimou o número de mortes pela Covid-19, que chama de "vírus chinês". Além disso, espalha a tese de que o vírus foi criado em um laboratório (versão que, a bem da verdade, começou a ser levada a sério também pelo presidente americano, Joe Biden).
Bernardo Kuster, editor do jornal Brasil Sem Medo, ligado ao filósofo Olavo de Carvalho, é mencionado por sua campanha questionando a eficácia e a segurança das vacinas, mesmo depois dos estudos científicos que chancelaram a confiabilidade do imunizante.
Expoentes do bolsonarismo também citados são o jornalista Paulo Eneas, o comentarista Rodrigo Constantino e o youtuber Paulo Lisboa, entre outros.
Todos, de alguma forma, espalharam a receita de desprezo à gravidade da doença, tentativa de minar a credibilidade das vacinas, defesa da cloroquina e campanha contra medidas para mitigar as possibilidade de contágio, como isolamento social e uso de máscaras.
Estranhamente, Renan dá tratamento diferenciado a estas figuras: parte é apenas citada no relatório, e parte tem o indiciamento pedido. Não fica muito claro qual critério ele adotou, dado que a mensagem que todos espalham é basicamente a mesma.
Em redes sociais, a reação dos implicados por Renan variou do silêncio à postura desafiadora.
Um dos mais enfáticos no ataque ao relatório foi Ruschel, numa série de tuítes em que questionou as conclusões da CPI.
"Me acusam de 'incitação ao crime' por posts de Twitter que não trazem fake news, um conceito vago que passou a significar tudo aquilo que o seu oponente político defende, tampouco incitação a cometer qualquer crime! É um ataque frontal à liberdade de expressão", escreveu.
O relatório final da CPI da Covid, apresentado nesta quarta-feira (20) pelo relator Renan Calheiros (MDB-AL) pode ser lido como um "quem é quem" do universo de influenciadores digitais do bolsonarismo.
Foram 27 com indiciamento pedido por Renan, uma conta que inclui políticos, diplomatas, empresários, jornalistas e agitadores de redes sociais.
"A disseminação das fake news na pandemia contou com uma rede organizada, com capacidade de alcance e influência política", afirma o relatório, que ainda será votado pela comissão e poderá receber emendas.
A maioria é acusada de espalhar fake news e, por falta de opção jurídica mais específica, foi enquadrada no artigo 286 do Código Penal, que trata de incitação ao crime.
É o caso, por exemplo, de Allan dos Santos, chamado de "personagem central na disseminação de fake news em acordo com o Palácio do Planalto". O relatório reproduz declarações, vídeos e tuítes de sua autoria negando a gravidade da pandemia, inclusive uma célebre dancinha em que ele diz que "corona é o caralho".
Outras pérolas afirmam que o lockdown seria um plano diabólico da China e que a OMS (Organização Mundial da Saúde) seria genocida pela posição contrária ao uso de cloroquina contra o vírus.
Também recebe destaque o jornalista Oswaldo Eustáquio, que se autoexilou no México. Durante a fase mais aguda da pandemia, fez lives defendendo o chamado tratamento precoce.
Numa delas, conversa com o virologista Paolo Zanotto, também com pedido de indiciamento pela CPI, e que é um expoente do chamado "gabinete paralelo" que assessorou o presidente Jair Bolsonaro.
Outros médicos citados são Nise Yamaguchi e Luciano Dias Azevedo, também membros dessa estrutura de aconselhamento informal ao governo, que contornou os canais oficiais do Ministério da Saúde.
Já o empresário Leandro Ruschel, que vive na Flórida (EUA), é citado no relatório, entre outros pontos, por sua campanha contra a China, lugar de origem do vírus.
Em postagens, ele também subestimou o número de mortes pela Covid-19, que chama de "vírus chinês". Além disso, espalha a tese de que o vírus foi criado em um laboratório (versão que, a bem da verdade, começou a ser levada a sério também pelo presidente americano, Joe Biden).
Bernardo Kuster, editor do jornal Brasil Sem Medo, ligado ao filósofo Olavo de Carvalho, é mencionado por sua campanha questionando a eficácia e a segurança das vacinas, mesmo depois dos estudos científicos que chancelaram a confiabilidade do imunizante.
Expoentes do bolsonarismo também citados são o jornalista Paulo Eneas, o comentarista Rodrigo Constantino e o youtuber Paulo Lisboa, entre outros.
Todos, de alguma forma, espalharam a receita de desprezo à gravidade da doença, tentativa de minar a credibilidade das vacinas, defesa da cloroquina e campanha contra medidas para mitigar as possibilidade de contágio, como isolamento social e uso de máscaras.
Estranhamente, Renan dá tratamento diferenciado a estas figuras: parte é apenas citada no relatório, e parte tem o indiciamento pedido. Não fica muito claro qual critério ele adotou, dado que a mensagem que todos espalham é basicamente a mesma.
Em redes sociais, a reação dos implicados por Renan variou do silêncio à postura desafiadora.
Um dos mais enfáticos no ataque ao relatório foi Ruschel, numa série de tuítes em que questionou as conclusões da CPI.
"Me acusam de 'incitação ao crime' por posts de Twitter que não trazem fake news, um conceito vago que passou a significar tudo aquilo que o seu oponente político defende, tampouco incitação a cometer qualquer crime! É um ataque frontal à liberdade de expressão", escreveu.
Outro mencionado, o empresário Luciano Hang, que deu um dos depoimentos mais caóticos da CPI, desta vez foi surpreendentemente sóbrio, comportamento bem diferente de sua personalidade espalhafatosa. Chegou a se dizer honrado por ter de alguma forma participado da comissão.
O fato de terem sido citados no relatório pode trazer mais complicações jurídicas a pessoas que já estão na mira do Supremo Tribunal Federal sob acusação de espalhar fake news e patrocinar atos contrários à democracia.
Para parte deles, a menção pela CPI será usada como uma espécie de medalha, a ser exibida na próxima eleição. Muitos dos alvos de Renan, afinal, não escondem ter projeto político para o ano que vem.