Empresas perdem R$ 284 bi em valor de mercado com ameaça ao teto de gastos
A estatal Petrobras perdeu R$ 24,15 bilhões no período, liderando a lista dos prejuízos, seguida pelas empresas Vale (-R$23,9 bi), Magazine Luiza (-R$ 12,3 bi), Rede D'Or (-R$ 8,1 bi) e Ambev (-R$ 7,55 bi)
As empresas listadas na Bolsa de Valores brasileira perderam R$ 284 bilhões em valor de mercado em três dias após o governo revelar que poderá furar o teto de gastos para aumentar o valor do novo Bolsa Família.
Na última segunda-feira (18), as ações na Bolsa valiam R$ 4,984 trilhões. Ao final do pregão desta quinta-feira (21), o valor caiu para R$ 4,700 trilhões, segundo dados levantados pela desenvolvedora de sistemas de análise financeira Economatica.
A estatal Petrobras perdeu R$ 24,15 bilhões no período, liderando a lista dos prejuízos, seguida pelas empresas Vale (-R$23,9 bi), Magazine Luiza (-R$ 12,3 bi), Rede D'Or (-R$ 8,1 bi) e Ambev (-R$ 7,55 bi).
O Ibovespa, índice de referência da Bolsa, vem afundando desde terça (19). Na ocasião, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), preocupado com a popularidade às vésperas da campanha eleitoral, determinou que o benefício seja de R$ 400, acima dos R$ 300 estimados anteriormente.
Para cumprir a determinação de Bolsonaro, o governo precisaria furar o teto de gastos -regra que limita o crescimento das despesas públicas.
Para driblar a regra, o governo e seus aliados no Congresso inseriram na PEC (proposta de emenda à Constituição) que adia o pagamento de precatórios uma mudança na correção do teto de gastos que, na prática, expande o limite das despesas federais.
O conjunto das alterações previstas cria um espaço orçamentário para despesas de R$ 83 bilhões no ano eleitoral de 2022. A manobra causou uma debandada no time do ministro Paulo Guedes (Economia).
O próprio ministro, porém, havia falado, nesta quarta-feira (20), em licença para gastar fora do teto. A adesão de Guedes à proposta piorou o cenário, na avaliação dos investidores.
A Bolsa fechou em queda de 2,75%, a 107.735 pontos, a menor pontuação desde 23 de novembro. O dólar subiu 1,88%, a R$ 5,6670, nesta quinta, a maior cotação desde 14 de abril.
Em meio à turbulência gerada pelas declarações do ministro, os juros futuros aumentaram os prêmios, com o DI para janeiro de 2025 em alta de quase 60 pontos-base, a 11,48% ao ano.
A percepção do mercado sobre o risco de inadimplência do país, medido pela valorização dos contratos de CDS (Credit Default Swap) com prazo de vencimento de cinco anos, avançou 6,05%, a 226,20 pontos, o patamar mais alto desde março.
Para analistas, Guedes jogou a toalha ao abrir espaço para a ala política do governo decidir sobre o aumento de gastos, deixando de ser a última barreira para a implosão do alicerce fiscal do país.
"A situação de perda do alicerce fiscal pode gerar mais inflação, que gera mais alta nos juros, e a gente entra naquele ciclo conhecido de Brasil", afirmou Rodrigo Marcatti, especialista da Veedha Investimento.
"Se tem uma coisa que o mercado não gosta é de governo que dá guinadas populistas e flerta com a irresponsabilidade fiscal, ainda mais tratando-se de um país emergente como o Brasil", diz Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora.