E quem nunca se isolou? Trabalhadores essenciais celebram o fim de uma restrição que nunca os tocou
No momento atual, Pernambuco conta com tendência de queda nos números de casos e mortes causadas pela Covid-19
Se para quem fez isolamento a sensação agora é de receio, para quem não parou de trabalhar a sensação é de desafogo. "É muito bom ver o pessoal voltando. A sensação agora é de alívio", informou Erick José da Silva, 26, frentista. Para ele, o principal problema durante períodos de menor flexibilização da pandemia foi a insegurança.
Durante o período de lockdown, Erick entrou, por cinco meses, na parcela de trabalhadores que foram afastados do trabalho com um corte de 50% do salário permitido pela Medida Provisória do Governo Federal. Durante o afastamento, seu principal receio era não voltar mais.
“Familiares meus, em um momento da pandemia, ficaram desempregados porque a empresa não estava em condições de manter todos os funcionários. O posto continuou a funcionar, mas a gente também teve risco de ficar parado, de ficar desempregado porque o movimento era zero”, informou o frentista.
O alívio relatado por Erick tem uma justificativa válida. No momento atual, Pernambuco conta com tendência de queda nos números de casos e mortes causadas pela Covid-19. Por isso, o Governo do Estado autorizou uma maior flexibilização de serviços. Para o frentista, há uma justificativa para a redução da sua insegurança: “Depois que a vacina avançou, as coisas melhoraram bastante. O trabalho já voltou ao número normal de pessoas comprando combustíveis”, informou.
Em Pernambuco, no mês de julho, 58% dos registros de casos graves da Covid-19 foram em pessoas não vacinadas e 31,6% eram pacientes que só tomaram uma dose do imunizante, sem completar o esquema vacinal.
De acordo com o secretário estadual de Saúde, André Longo, os dados apresentam a real dimensão da importância de se vacinar. “A vacinação, com o ciclo completo, é a melhor estratégia para evitarmos casos graves e mortes pelo coronavírus”, informou em uma coletiva de imprensa realizada em agosto.
Diferente de Erick, que temeu pela baixa movimentação no seu trabalho, o motofretista Rodrigo Lopes, 31, viu a necessidade pelo seu ofício aumentar muito com a chegada da pandemia. O uso de aplicativos de entregas cresceu 149% em 2020, segundo a Mobills, startup de gestão de finanças pessoais, que analisou despesas de usuários dos três principais aplicativos de entregas no Brasil: Rappi, Ifood e Uber Eats.
Para facilitar a vida de quem ficou trabalhando de casa, Rodrigo era a pessoa responsável por entregar documentos, fazer delivery de comida e até entregas de produtos pequenos com sua moto.
“Foi algo, para mim, muito inusitado, eu nunca vivi algo desse tipo. Eu trabalhei muito, todos os dias, de domingo a domingo. Acordava, saía de casa às 9 da manhã e voltava para casa às 9 da noite, 10 horas. Era muito serviço, porque as pessoas não queriam sair de casa e o que estava mais acessível eram as motos, então as pessoas solicitavam muito o motoqueiro para fazer o serviço”, explicou.
Mesmo com a retomada, o motoqueiro ainda vê pouca movimentação de pessoas em seus dias na rua trabalhando. “Ainda tem muito comércio fechado, muito comércio quebrou durante a pandemia. Para mim, que já trabalhava antes da pandemia na rua, tem pouca gente na rua devido a isso. Mas estava pior antes. Depois que veio o plano de retomada, realmente as pessoas estão voltando a sair de casa”, informou.
Trabalhar enquanto as outras pessoas estão em restrição criou uma situação atípica também para para Irene Ferreira, 53, que trabalha como atendente em farmácia. No seu trabalho subiram as vendas de alguns produtos específicos. “Chegava muita gente procurando ivermectina e vitamina C. Depois passaram a procurar a vitamina D. Hoje tem uma queda desses produtos específicos, acho que por conta da vacina”, informou.
O cenário de retorno ainda é um gatilho para Irene, que receia uma nova alta de casos da Covid-19. “É bom ver que as pessoas estão voltando, mas eu sinto uma ansiedade muito grande com esse retorno. A Covid diminuiu, mas não acabou. Muitas vezes as pessoas andam sem máscara, sem tomar cuidado. Muitas vezes tenho que receber cliente sem máscara aqui que acham que não existe mais risco”, ressaltou.
De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), ainda que muitas dessas pessoas que estão circulando sem cuidados já tenham sido vacinadas, os imunizantes não previnem completamente a infecção ou mesmo a transmissão do vírus. “A recomendação é de que, enquanto o país caminha para um patamar ideal de cobertura vacinal, medidas de distanciamento físico, uso de máscaras e higienização das mãos - assim como a adoção do passaporte vacinal - sejam mantidas e que a realização de atividades que representem maior concentração e aglomeração de pessoas só sejam realizadas com comprovante de vacinação”, informou a fundação em boletim informativo no boletim informativo do dia 7/10/2021.
Quem também percebeu a diferença na relação com o cliente foi Rubenice Dias, 37. Operadora de caixa em um supermercado, ela foi contratada ainda durante o lockdown e presenciou a agonia das pessoas durante as compras. “O movimento era de desespero de clientes. Eles chegavam no mercado, faziam tudo muito rápido e chegavam no caixa correndo. Tínhamos que passar as compras logo. Se a gente demorava, eles reclamavam porque queriam sair de lá rapidamente”, contou.
Com a redução de casos e a flexibilização da pandemia, Rubenice acredita que iremos superar esse período traumático. “As pessoas estão circulando com menos medo. Tem muita esperança nessa vacina que a gente tomou, fica a esperança de todo mundo se vacinar, a esperança dessa doença acabar ou estacionar, a esperança de deixar de usar essa máscara horrível que tirou até o sorriso da gente. A gente não pode nem mostrar um sorriso de bom dia, de boa tarde, de boa noite para o cliente. Nossa expressão agora está sendo com os olhos. Mas eu estou feliz, espero que daqui há uns meses a gente possa voltar ao que era antigamente”, relatou a operadora.