Opinião

O Recife que sonhamos e queremos

Há um Recife que sonhamos e queremos. Uma cidade para as pessoas. Onde elas possam usufruir do espaço urbano. Para que essa seja uma realidade, é preciso planejamento urbano sustentável. É preciso olhar para o futuro, pensar soluções inovadoras de sustentabilidade, mas sem esquecer de preservar o passado desta Veneza brasileira que caminha para quase 500 anos. Que reúne casarios históricos desde seu centro, aos bairros da zona Norte, como Casa Forte e Poço da Panela, aos da zona Oeste, como a Várzea. Para ter êxito, o planejamento de uma cidade precisa ser feito ouvindo os que a habitam, seus moradores.

A Fundação Joaquim Nabuco se insere nesse debate. Vem estruturando e realizando projetos que integram as comunidades em ações sustentáveis e culturais para a cidade. Na primeira quinzena de novembro, chegaremos ao bairro do Recife, com a abertura da nossa terceira sala de cinema, o Cinema do Porto. O início para a retomada da movimentação do entorno daquela área urbana hoje relegada. O mesmo empenho estamos tendo em relação à defesa da preservação do Mural Batalha dos Guararapes, de uma obra do genial Francisco Brennand hoje em completo abandono na Rua das Flores, para que seja revitalizada e fique no lugar concebido.

Uma área recifense formada por um anel urbano pleno de iconicidades, que teria início com as igrejas centenárias, a Faculdade de Direito, o Teatro de Santa Isabel, o Liceu de Artes e Ofícios, o Tribunal de Justiça, o Palácio do Governo, o Jardim do Campo das Princesas e suas esculturas de bronze, o antigo prédio do Diario de Pernambuco. Mas que se encontra abandonada, transformada em abrigo noturno dos desabrigados. Mas adiante, na Praça Maciel Pinheiro, temos a casa da renomada e amada escritora Clarice Lispector também em completo abandono. A Fundaj também está empenhada em abraçar esse espaço, reutilizá-lo e criar um centro cultural.

Entre as ações em curso, temos um trabalho permanente da Biblioteca Blanche Knopf com a Biblioteca do Coque. Para muito além da doação de livros, integramos crianças da comunidade no projeto Para ler o seu Bairro, visto pelas professoras como “um divisor de águas” para seus alunos por possibilitar que fortaleçam suas identidades ao entenderem melhor a história de onde vivem. Histórias que as crianças pesquisaram, escreveram e foram transformadas em livros. Um trabalho que envolveu, só na primeira edição, quase 270 alunos da rede municipal de ensino do Recife com ajuda de professores, pesquisadores e moradores de 11 comunidades distintas, entre elas, o Coque.

No Natal passado, trouxemos como tema a esperança. Fizemos duas árvores, uma no campus Gilberto Freyre, em Casa Forte, outra no Engenho Massangana, no Cabo de Santo Agostinho, construídas com com garrafas recicladas e decoradas com folhagens de árvores diversas com bordados feito à mão por crianças e adultos das comunidades do Areal, no bairro de Apipucos, no Recife; Camela, no distrito do município de Ipojuca, e Massangana, vizinha ao engenho.

Neste ano faremos o Natal  dos Bons Ventos. Inspirados pela poesia “Congresso dos Ventos” do grande poeta pernambucano Joaquim Cardoso, usaremos o catavento como símbolo da renovação das boas novas para 2022. E mais uma vez faremos um trabalho junto com a comunidade, com oficinas educativas com crianças do Coque, do Areal e do Poço da Panela. Serão três dias de programação sempre integrando a população, sempre aberta a todos. Pois a cidade é de todos. É para todos. Dever ser pensada e construída por cada um de nós.


*Advogado, membro da Academia Pernambucana de Letras e presidente da Fundação Joaquim Nabuco

 


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