Minas opta por afastar Maurício Souza, que terá que se retratar por falas homofóbicas
No último dia 12, central da seleção fez postagem nas redes sociais sobre a orientação sexual do novo Super-Homem
O Minas Tênis Clube, pressionado por seus patrocinadores, resolveu punir o atleta de vôlei Maurício Souza. O central de 33 anos, que fez publicações homofóbicas nas redes sociais, foi afastado do elenco. Segundo a agremiação, terá de pagar uma multa e se retratar antes de ser reintegrado -mas não terá seu contrato rescindido, como muitos queriam.
Há duas semanas, o jogador manifestou seu descontentamento com o anúncio da DC Comics de que o novo Super-Homem, filho do Super-Homem original, vai se descobrir bissexual nas próximas edições dos quadrinhos. "Ah, é só um desenho, não é nada demais. Vai nessa que vai ver onde vamos parar", escreveu.
Deu-se, então, uma discussão virtual com Douglas Souza, seu companheiro na seleção brasileira e membro da comunidade LGBTQIA+. A situação cresceu a ponto de a Fiat e a Gerdau, que bancam os times feminino e masculino de vôlei do Minas, cobrarem do clube uma posição firme sobre o assunto.
A diretoria publicou na segunda-feira (25) uma nota considerada branda e tardia, na qual condenava a homofobia, mas defendia que "todos os atletas federados à agremiação têm liberdade para se expressar livremente em suas redes sociais". Apontava ainda que havia conversado "internamente" com o central.
O texto não satisfez boa parte da opinião pública e incomodou os patrocinadores. Em notas separadas, bem mais duras do que a apresentada pelo Minas, a Fiat e a Gerdau pediram na terça (26) a tomada de "medidas cabíveis". No caso da Fiat, as palavras foram em tom de cobrança por uma solução "no espaço mais curto de tempo possível".
Ainda na terça, os dirigentes tiveram uma reunião com esses patrocinadores e decidiram pelo afastamento. Houve uma reação negativa de parte do elenco. Chegou a circular a informação de que o capitão William havia redigido uma carta, assinada por todos os companheiros -entre eles o abertamente gay Maique-, ameaçando deixar a equipe se o contrato de Maurício fosse rescindido.
"Calma, gente. Eu não assinei nada!", publicou Maique, que costuma chamar o companheiro de "amigo" apesar de considerar "burrice" seu posicionamento homofóbico. "Continuo lutando pelos meus direitos e de toda a nossa comunidade. Tem coisas [com] que não compactuo e não aceito", acrescentou. "As coisas estão aí, e todo o mundo está vendo. Não tem como passar pano."
O líbero ainda republicou a nota oficial da Fiat e agradeceu: "Muito obrigado, seguimos juntos lutando". Antes, Douglas Souza, que está atuando no Vibo Valentia, da Itália, havia publicado mensagem semelhante, celebrando o posicionamento das empresas. E atletas como Carol Gattaz, que defende a equipe feminina do Minas, adotaram o mesmo tom.
"Homofobia é crime. Racismo é crime. Respeito é obrigatório. Está na lei, garantido pela Constituição. Já toleramos desrespeito, gracinhas e preconceitos disfarçados de opinião por muito tempo. Chega!", escreveu Gattaz, que já teve relações públicas com mulheres. "Homofobia é crime", repetiu a ex-jogadora Fabi Alvim, bicampeã olímpica.
Apoiador do presidente Jair Bolsonaro, com quem se encontrou recentemente em Brasília, Maurício Souza tem um histórico de declarações e publicações consideradas homofóbicas. A mais recente, pela repercussão, causou um incômodo maior nos patrocinadores do Minas, cuja pressão sobre os dirigentes não foi meramente protocolar.
A solução encontrada foi o afastamento temporário. Uma solução que incomodou os defensores de Souza, que apontaram uma "ataque à liberdade de expressão". E uma solução que incomodou quem esperava uma punição mais severa, que pudesse servir de exemplo e evitar novas manifestações preconceituosas.
"O famoso não vai dar em nada, né? Toda vez a mesma coisa. Cansado disso, de sempre ouvir falas criminosas, e no máximo o que rola é uma 'multa' e uma retratação nas redes sociais", afirmou Douglas Souza, que disputou os Jogos Olímpicos ao lado de Maurício. "Todos os dias, todas as horas, um dos nossos morre. E o que temos? Uma retratação."
Até a publicação deste texto, Maurício ainda não tinha se manifestado sobre a punição. Antes do desenrolar da questão nesta terça, ele havia insistido que manteria sua posição. "Hoje em dia, o certo é errado, e o errado é certo... Não se depender de mim. Se tem que escolher um lado, eu fico do lado que eu acho certo! Fico com minhas crenças, valores e ideias", avisou.