Política

Desigualdade é tema marginal das campanhas eleitorais na América Central

Desemprego e pobreza são questões praticamente inexistentes nas campanhas eleitorais da Nicarágua, Honduras e Costa Rica

Desigualdade social - Léo Motta/Arquivo Folha

Pobreza, desemprego e desigualdade são questões praticamente ausentes das campanhas eleitorais da Nicarágua, de Honduras e da Costa Rica, apesar do aumento da exclusão social pela crise sanitária da Covid-19 - revela uma pesquisa acadêmica divulgada na quinta-feira (28).

Na Nicarágua, que realizará eleições em 7 de novembro, o presidente Daniel Ortega e sua esposa, Rosario Murillo, "controlam o cenário eleitoral para garantir sua continuidade no poder", sem propostas para "resolver" o grave problema de pobreza sofrido pela população, afirma o estudo do Centro de Pesquisas em Comunicação da Universidade da Costa Rica.

"A população tinha grandes expectativas com este processo, mas, à medida que avançava, foram murchando (...) Há insatisfação e falta de vontade de ir às urnas", afirma a analista nicaraguense Elvira Cuadra, durante conferência de apresentação do estudo, em San José. 

A Nicarágua é um dos países mais pobres da América Latina. Vive uma crise política deflagrada em 2018 com protestos que foram duramente reprimidos pelo governo. Os confrontos entre manifestantes e forças policiais deixaram mais de 300 mortos. 

A pesquisa acompanhou as publicações dos candidatos, dos partidos e da imprensa nas redes sociais ao longo de dez semanas. Na Nicarágua, a coleta de dados foi difícil, porque a maioria dos partidos não tem conta no Facebook, nem em outras redes sociais, e dois grupos de oposição com perfis foram excluídos da corrida eleitoral. 

O estudo mostra que, no caso de Honduras e da Costa Rica, apenas 8,5% e 6,8% das publicações dos candidatos, respectivamente, referem-se a temas associados à exclusão.

Em Honduras, as publicações dos partidos políticos referentes aos temas de pobreza e desigualdade não ultrapassaram 13% durante o período de monitoramento.

A analista hondurenha Leticia Salomón lembrou que, "além de a pandemia ter potencializado a crise de saúde e de educação, emprego, subemprego e desemprego se agravaram".

"A imigração cresce de forma alarmante", afirmou. "Mas há recursos para atender à defesa, ou seja, gastos com os militares", lamentou. 

Na Costa Rica, onde 27 candidatos disputam a presidência, o grande desafio (e urgência) é apresentar propostas para reverter indicadores, como um índice de desemprego que chega a 18% e um setor informal que passou de 40% para 46% da População Economicamente Ativa (PEA). 

A despeito da gravidade do contexto socioeconômico, o número de publicações referentes a temas como pobreza e desigualdade varia entre os candidatos: de 0,82% a 27,87%. 

As eleições em Honduras serão em 28 de novembro e, na Costa Rica, em 6 de fevereiro de 2022.