Nas ruas e nos escritórios, oposição ao golpe cresce no Sudão
A resistência começou antes mesmo de Burhan explicitar seu golpe em um discurso na televisão estatal na segunda-feira (25)
O golpe do general Abdel Fattah al-Burhan e a dissolução do governo de transição provocaram novos protestos nas ruas do Sudão, mas a oposição também se dá em outras frentes, por parte de diplomatas, autoridades locais e ministérios.
A resistência começou antes mesmo de Burhan explicitar seu golpe em um discurso na televisão estatal na segunda-feira (25). O Ministério da Informação foi a primeira instituição a se rebelar por meio de sua página no Facebook.
Nos estágios iniciais do golpe do general, o homem forte do Sudão desde a derrubada do ditador Omar al-Bashir em 2019, sua página reportou a prisão do primeiro-ministro Abdala Hamdok e de outros ministros e funcionários.
Cada mensagem vinha acompanhada da hashtag: "não há como voltar atrás".
A frase foi o grito de guerra dos apoiadores de um governo civil no Sudão, liderado desde agosto de 2019 por um conselho civil e militar na transição para eleições em 2023.
Na quarta-feira (27), o estado de Cartum se juntou às vozes dissidentes, mesmo com seu governador entre os detidos pelos militares.
Uma declaração assinada por "diretores gerais" e por outras autoridades estatais "condena o golpe militar do general Burhan" e garante que "não haverá retorno" à autocracia do passado.
Também encoraja a "desobediência civil" e pede que "bens essenciais", como farinha, ou equipamento médico de emergência, sejam colocados à disposição dos manifestantes.
Diplomatas se rebelam
Os diplomatas se juntaram à resistência, incluindo Noureddine Sati, embaixador do Sudão nos Estados Unidos desde 2020.
Alguns expressaram ser a favor da "revolução" e "se opor ao golpe", enquanto outros fizeram-no por escrito.
As manobras militares receberam reprimendas de seis embaixadores, incluindo os de Estados Unidos, União Europeia, China, França e Suíça.
O representante na Suíça, Ali Ibn Abi Taleb Abderrahman Mahmoud al-Gendi, descreveu o general Burhan como "o chefe das autoridades golpistas" e rejeitou "sua demissão ilegítima e inconstitucional".
Gendi também acusou as forças de segurança de implantar "a pior repressão" contra os manifestantes.
A ministra das Relações Exteriores, Mariam al-Sadiq al-Mahdi, cujo pai foi o primeiro-ministro deposto pelo golpe de Bashir em 1989, aplaudiu esses diplomatas, chamando sua posição de "uma vitória da revolução".
Ela é um dos poucos líderes civis que não foram detidos e emergiu como uma das principais vozes críticas contra Burhan.
Mesmo antes do golpe, o ministro da Indústria, Ibrahim al-Sheikh, participou de um protesto pedindo a aceleração da transferência de poder para os civis. Ele agora está entre os membros do governo presos.
Alguns de seus colegas nas Forças pela Liberdade e Mudança, uma aliança de grupos que liderou os protestos contra Bashir em 2019, ainda estão em liberdade.
Na quinta-feira (28), alguns ministros deste grupo pediram à sociedade que mantenha "protestos pacíficos" e a "desobediência civil", incluindo uma greve geral declarada pelos sindicatos do setor petroleiro.
Uma declaração de três ministros publicada na página do Facebook do Ministério da Informação e da Cultura assegura que a "resistência" aos militares deve continuar "até o fim do golpe e o retorno à legitimidade constitucional".
A mídia estatal silencia sobre a violência e a instabilidade política. Os militares tomaram as instalações da emissora estatal e ordenaram que os jornalistas da agência oficial de notícias SUNA deixassem o local.