Mercado

Construção civil prevê crescimento de 5% em 2021

A melhora das atividades do setor nos últimos três meses, o incremento do financiamento imobiliário, a demanda consistente, o avanço do processo de vacinação e a desaceleração do aumento de preços trazem otimismo para o setor

Construção Civil prevê crescimento de 5% em 2021 - Arthur de Souza/Folha de Pernambuco

Prever o caminho da economia brasileira para os próximos meses, e até anos, é um estudo feito constantemente por especialistas. Ainda que estejamos enfrentando uma pandemia, há um setor econômico que tem conseguido bons resultados, mesmo diante de todas as dificuldades impostas: a construção civil. A expectativa para este ano é que o setor apresente um crescimento de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. O número foi apresentado no estudo Desempenho Econômico da Indústria da Construção, realizado pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).

Em setembro, o nível de atividade da Construção voltou a ficar positivo (50,5 pontos) após apresentar pequeno recuo em agosto deste ano (49,7 pontos). Segundo a CBIC, todas as expectativas do setor permanecem positivas para os próximos seis meses: nível de atividade, novos empreendimentos, compras de insumos e contratações (número de empregos). Alguns fatores dão base para a expectativa positiva do segmento.

Para a economista da CBIC, Ieda Vasconcelos, a melhora das atividades do setor nos últimos três meses, o incremento do financiamento imobiliário, a demanda consistente, o avanço do processo de vacinação, a desaceleração do aumento de preços dos materiais de construção, mesmo que modesta, e a continuidade de pequenas obras e reformas são algumas das razões que ajudam a justificar a projeção atual. “Quando desagrega esse nível de atividade por nível da construção, observamos que os três segmentos estão acima de suas medidas históricas: construção de edifícios, obras de infraestrutura e serviços especializados para a construção”, destacou Ieda.

Segundo o presidente da Associação de Empresas do Mercado Imobiliário de Pernambuco (Ademi-PE), Avelar Loureiro, o ano de 2021 já está contratado. “Apesar da crise, o mercado residencial teve certa resiliência. A taxa de juros imobiliária relativamente baixa há um ano, abaixo da taxa Selic, deu sustentação. O mercado para moradia está aquecido e continuará”, analisou Loureiro.

Empresas estão aquecidas

O Índice de Confiança do empresário da Indústria da Construção permanece em patamar positivo em outubro, sendo sustentado pelas expectativas em relação aos próximos meses. Os empresários da construção aguardam maior nível de atividade nos próximos seis meses e projetam novas contratações.

A Tolive Incorporadora mantém seu planejamento de lançamentos. Em dezembro do ano passado, a empresa lançou o empreendimento residencial Tolive One, na Ilha do Leite, área central do Recife, com 120 apartamentos. Em 10 meses, 90% dos apartamentos estavam vendidos. Em novembro, a Tolive lançará mais um empreendimento residencial com 122 apartamentos, na Beira Rio, Zona Norte do Recife.

“Consideramos o momento muito favorável. Continuamos otimistas com o mercado e vamos continuar com nosso planejamento. Esse que lançaremos agora em novembro terá o Valor Geral de Vendas ainda maior, de R$ 45 milhões. Pretendemos lançar outro empreendimento em dezembro de 2022”, comentou Felipe Pacífico, CEO da Tolive Incorporadora.

O mercado de trabalho formal da construção também vem se destacando e registrando resultados positivos há oito meses consecutivos. Dados do Novo Caged, divulgados pelo Ministério do Trabalho, mostraram que o setor gerou, de janeiro a agosto de 2021, quase 238 mil novos postos de trabalho com carteira assinada. Com estes números, a indústria da construção registra o melhor patamar de mão de obra desde o final de 2015, chegando a 2,5 milhões de trabalhadores com carteira assinada em agosto deste ano.

A Rio Ave está acreditando no mercado. Tanto na área comercial como na área de engenharia, a empresa está conseguindo manter um fluxo de contratações de funcionários. “Fizemos um movimento de contratação forte porque verificamos um cenário positivo. Estamos conseguindo manter um fluxo de funcionários porque quando encerramos a construção de um empreendimento, já estamos praticamente iniciando outro”, comentou Wellington Rodrigues, diretor de Engenharia da Rio Ave.

Obras no empreendimento da Rio Ave, Alameda Brunehilde Trajano. Foto: Arthur de Souza/Folha de Pernambuco
 

Em 2020, a Rio Ave lançou um empreendimento empresarial em Boa Viagem, Zona Sul do Recife, o Alameda Brunehilde Trajano, com previsão de entrega para 2024. Um outro lançamento da empresa, em março deste ano, foi o residencial Terraço Jaqueira, na Zona Norte do Recife. E no próximo mês lançará um residencial no Paiva. Em 2022, mais de dois lançamentos também estão previstos.

“A Rio Ave vendeu 90% do estoque deste ano e vendeu 90% do lançamento da Jaqueira feito em março. Nosso planejamento está mantido e estamos crescendo a empresa”, comentou Márcio Fernandez, diretor de Mercado da Rio Ave.

As incertezas e obstáculos

Apesar das boas perspectivas, o mercado está bem atento a algumas dificuldades que estão sendo enfrentadas. A falta e o aumento dos custos dos materiais continuam sendo os principais problemas da Indústria da construção. A dificuldade foi apontada, no 3º trimestre deste ano, por 54,2% dos empresários pesquisados pela Sondagem Indústria da Construção, realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) com o apoio da CBIC.

“Várias indústrias têm sido afetadas pelo desarranjo da cadeia produtiva e do fluxo de mercado por causa da pandemia. Muitos produtos ficaram e ainda estão em falta no mercado, principalmente o aço, além do cobre, alumínio e produtos ligados à elétrica, por exemplo. Acredito que aproximadamente dentro de um ano se normalize e haverá uma descompressão de preços”, avaliou Loureiro.

Entre os maiores problemas apontados por empreendedores do segmento, o aumento da taxa de juros foi o que ganhou maior força na passagem do 2º para o 3º trimestre de 2021. De acordo com o presidente da CBIC, José Carlos Martins, os dados comprovam que o setor poderia crescer ainda mais se não fossem os aumentos das taxas de juros e dos materiais. 

“Os números apresentados comprovam que a indústria da construção é realmente uma Ferrari com freio puxado. Estamos andando bem, mas poderíamos andar muito mais. Difícil achar outro setor que sofreu uma inflação como o nosso, e o tanto que esse fator inibiu nossa capacidade de contribuir com o crescimento do PIB”, destacou.

“Os componentes custos altos e renda, este último por causa da inflação alta que faz as pessoas perderem o poder aquisitivo, podem atrapalhar nos próximos meses, tirando um pouco da tração do mercado”, disse Loureiro.

Obras públicas

Em relação ao cenário das obras públicas, o Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Pernambuco (Sinduscon-PE) afirma que os altos custos dos materiais ainda atingem o setor. “Estamos tendo custos altíssimos dos insumos atrelados ao dólar. Apesar disso, para o momento, estamos indo bem, mas precisa de mais investimentos também”, registrou Antônio Cláudio, vice-presidente do Sinduscon-PE.