SERGIO MORO

Prestes a se filiar ao Podemos, Moro enfrenta resistências na sigla

Principal desconfiança em relação ao ex-juiz está na bancada da Câmara, com a qual se reuniria ontem; reunião foi adiada

Sergio Moro - arquivo

Com filiação anunciada no Podemos para disputar as eleições do ano que vem, o ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sergio Moro enfrenta resistências na sigla, sobretudo na bancada da Câmara. Entre os dez deputados federais da legenda há bolsonaristas, um lulista e outros que ainda preferem aguardar uma conversa com Moro.

O ex-juiz teria um encontro ontem com a bancada do partido, em Brasília, mas a reunião foi adiada para a próxima terça-feira, véspera do evento para sua filiação ao partido. Nas redes sociais, os deputados sequer postaram o anúncio de sua chegada à sigla, que traz uma foto de Moro com a inscrição “Juntos, podemos construir um Brasil justo para todos”.

Pelo menos três deputados são muito próximos do Palácio do Planalto: José Medeiros (MT), Diego Garcia (PR) e Léo Moraes (RO). A expectativa é que Moro dispute a Presidência da República e enfrente o presidente Jair Bolsonaro, que deve concorrer à reeleição.

Vice-líder da bancada, o deputado José Nelto (GO) é um dos mais próximos ao ex-ministro. Ele diz que a chegada de Moro ao partido é uma “conquista”, mas que é uma incógnita a reação dos colegas:

"Sim, na bancada tem bolsonaristas. O José Medeiros é um bolsonarista doente, até mais que os filhos do presidente. Se tem desconforto, cada um vai com sua ideologia", comenta. Também integrante da ala bolsonarista do partido, Diego Garcia é muito próximo da primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

Na outra ponta, o “petista” da bancada, o deputado Bacelar (BA), reagiu com desconfiança à chegada de Moro ao partido.

"Não será um alinhamento automático ao Moro. Precisamos ouvi-lo. O país vive uma divisão entre civilização e barbárie e ele defendeu e fez parte desse governo. Precisa fazer um mea-culpa", disse Bacelar, que confirmou sua simpatia pelo ex-presidente Lula.

Mais moderado na bancada, Roberto de Lucena (SP) diz preferir aguardar a conversa que a bancada terá com Moro, semana que vem, para avaliar:

"O Moro é um bom quadro, sem dúvida. Qualquer partido de centro no Brasil teria satisfação em recebê-lo. Agora, eu e os demais estamos aguardando a oportunidade de ouvi-lo para entender exatamente qual é o espaço que ele vai ocupar nesse processo. Qual proposta que tem para o país. Depois, a bancada vai se reunir e discutir o assunto", disse.

Moro jantaria na noite de ontem com deputados do PSL, mas o encontro foi desmarcado após pressão de dirigentes da sigla, segundo a colunista de O GLOBO Bela Megale. Os caciques não querem associar o PSL ao apoio à candidatura de Moro. Aliados do ex-juiz avaliaram que não era o momento de elevar a pressão e concordaram em cancelar a agenda.

A reunião aconteceria em Brasília e estava sendo organizada pelo deputado Junior Bozzella (PSL-SP), um dos principais apoiadores de Moro na legenda. Também estava prevista a participação do general Santos Cruz, que foi ministro do governo Bolsonaro. Segundo Bozzella, as conversas acontecerão individualmente.

O ex-juiz está em Brasília para uma série de encontros políticos. Na manhã de ontem, Moro se encontrou com o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), que também tem entre suas bandeiras o combate à corrupção. Na conversa, o ex-ministro se colocou como pré-candidato à Presidência da República.

"Foi um conversa preliminar onde ele se colocou disposto a participar da disputa presidencial. Agora, Moro terá que mostrar conhecimento em outras áreas, além da pauta ética", disse o senador, que também é pré-candidato à Presidência.

Em sua rodada de encontros políticos, Moro vai participar do congresso do MBL este mês em São Paulo. O ex-juiz anunciou em vídeo que participará do evento e “entrevistará” Danilo Gentili sobre uma suposta candidatura do humorista à Presidência.

O MBL foi um dos movimentos que apoiou Moro ao longo da Lava-Jato. Em 2019, no entanto, houve atritos entre o ex-ministro e integrantes do movimento, após virem à tona mensagens em que Moro criticava o grupo por um protesto contra o então ministro Teori Zavascki, do STF. (Colaborou Camila Zarur)