Exportações

Embargo chinês à carne do Brasil completa dois meses e prejuízo pode chegar a US$ 2,1 bi em dezembro

A suspensão dos embarques para a China foi decidida pelo próprio governo brasileiro, depois do registro de dois casos atípicos de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB)

Entidades ligadas ao agronegócio e ao comércio exterior estimam que, se as compras do produto não forem retomadas até dezembro, deixarão de ser vendidos ao país asiático até US$ 2,1 bilhões - Divulgação/Abiec

O embargo às exportações de carne bovina brasileira pela China completou dois meses, nesta quinta-feira, e não tem data para terminar. Entidades ligadas ao agronegócio e ao comércio exterior estimam que, se as compras do produto não forem retomadas até dezembro, deixarão de ser vendidos ao país asiático até US$ 2,1 bilhões. 

A suspensão dos embarques para a China foi decidida pelo próprio governo brasileiro, depois do registro de dois casos atípicos de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), mais conhecida como vaca louca, em Minas Gerais e Mato Grosso. Dois dias depois, a  Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) manteve o status do Brasil de país “com risco insignificante”  para a doença. A conclusão é que não houve contaminação entre os bovinos, e sim uma mutação em um único animal. 

Para o governo brasileiro, diante disso, a expectativa era que a China retomada o quando antes as compras de bovinos do Brasil, o que não aconteceu até agora. O Ministério da Agricultura informou que tem mantido negociações com as autoridades chinesas, por meio de reuniões virtuais.  

“O lado brasileiro tem fornecido, com celeridade, informações complementares atendendo às solicitadas das autoridades chinesas. As discussões têm sido produtivas, mas não há ainda data de retorno das exportações brasileiras de carne bovina para aquele país”, destacou a pasta, em resposta ao GLOBO. 

José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), estima que o setor terá um prejuízo em torno de US$ 2,1 bilhões no período de outubro a dezembro deste ano. Apesar de o embargo ter começado no dia 4 em setembro, as estatísticas para o mês não foram alteradas.  

— Parte desse prejuízo será amortizado com exportações para outros países. O Brasil vai buscar mercados alternativos, mas corre o risco de perder o mercado chinês, se não houver o produto para vender —disse Castro.  

Ele destacou que o preço da tonelada de carne vem caindo cerca de 10% de um mês para outro. Em agosto, o valor era de US$ 5.679, caiu para US$ 5.790 e baixou, em outubro, para US$ 5.233.  

A Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) projeta um prejuízo de até US$ 1,8 bilhão até dezembro. O vice-presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Corte da entidade, Chico da Paulicéia, disse que o embargo prejudica toda a cadeia produtiva e que o governo deveria estudar “com carinho” a possibilidade de um crédito emergencial para o setor.  

— Neste momento, há confinamentos e está tudo paralisado — afirmou.  

No mês passado, em videoconferência com o chanceler Carlos França, o ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi, disse acreditar que o impasse em torno do embargo às exportações brasileiras de carne bovina seria resolvido “rapidamente”.  Segundo uma fonte do governo, o tema é complexo e as discussões são basicamente técnicas. Espera-se a normalização nos próximos dias.

Antes da conversa de França com o ministro chinês, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, enviou carta a Pequim, oferecendo-se para ir ao país conversar pessoalmente sobre o assunto. A pasta também autorizou os frigoríficos habilitados a exportar para a China a armazenar a carne produzida até o dia 4 de setembro, quando as exportações para o país asiático foram suspensas, em contêineres refrigerados. Essa prática não é permitida, por razões sanitárias, e foi aberta uma exceção que vai valer por 60 dias.