Tecnologia

Leilão do 5G movimenta R$ 46,7 bilhões, abaixo do esperado pelo governo

Diversos blocos, principalmente no leilão desta sexta-feira, não foram arrematados

Leilão do 5G - Evaristo Sa/AFP

O leilão do 5G no Brasil, a quinta geração de internet móvel, movimentou R$ 46,79 bilhões, de acordo com balanço da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) divulgado, nesta sexta-feira (5), após o fim do certame inciado na véspera.

O valor movimentado foi ligeiramente menor que o potencial da licitação, de cerca de R$ 50 bilhões. Diversos blocos, principalmente no leilão desta sexta-feira, não foram arrematados. Essas faixas poderão ser leiloadas no futuro, como “sobras” do leilão do 5G.

Do total movimentado, a maioria vai ser destinada para investimentos obrigatórios que precisarão ser feitos pelas operadoras de telefonia. Entre esses investimentos estão levar 5G para cidades sem atratividade econômica, internet nas escolas públicas e nas rodovias federais, e a construção de uma rede privativa para o governo federal.

O Tesouro Nacional ficará com cerca de R$ 2 bilhões. Houve um ágio de cerca de R$ 5 bilhões. Esse ágio também se transformará em investimentos obrigatórios. O ágio em relação ao preço mínimo do leilão foi de 317%, que se converterá em investimento.

No leilão, as empresas disputaram as chamadas faixas de frequência, que são como avenidas por onde trafegam os dados da internet. O governo destacou que esse foi o segundo maior leilão do país, atrás apenas do leilão do pré-sal.

"O leilão superou todas as nossas expectativas. São seis novas operadoras no mercado. É o segundo leilão da história do Brasil",disse o ministro das Comunicações, Fábio Faria.

Com ágio de mais de 13.000% em um dos lotes, o leilão atraiu as grandes operadoras do setor e novatas dispostas a investir em frentes de negócio que serão abertas pela implementação da tecnologia no país.

Claro, Vivo e TIM confirmaram o favoritismo que já era esperado pelos investidores e arremataram os lotes mais importantes da faixa de 3,5GHz, de atuação nacional, considerada o filé mignon da disputa. Em todo o mundo, a faixa do 3,5GHz é o coração do 5G.

De acordo com o cronograma do certame, o morador das capitais do país deve começar a contar com o serviço até julho de 2022. Essa faixa tem como obrigação de investimento levar 5G em municípios com mais de 30 mil habitantes, instalar infraestrutura de fibra óptica em municípios, adaptar antenas parabólicas de sinais de TV e criar a rede pública para o governo.

A decisão de criar investimentos obrigatórios é uma forma de o governo garantir que a tecnologia vai chegar a locais onde não há atratividade econômica. Por isso, os valores de investimentos nas áreas são “descontados” do leilão.

O certame previa a licitação de dois tipos de faixas: nacionais — que foram arrematadas majoritariamente pelas grandes teles — e regionais, que atraem principalmente empresas locais ou que atuam em um determinado nicho de negócios.

Das seis novas empresas que passarão a atuar no segmento de internet móvel, cinco devem operar blocos regionais.

Uma das novidades do leilão foi a vitória da Winity, que vai operar uma faixa de âmbito nacional, de 700 MHz (que é na prática uma sobra do leilão do 4G, de 2014). A empresa faz parte do portfólio do Pátria Investimentos, grupo com grande experiência em telecomunicações, antigo dono da Highline, que foi vendida ao fundo americano Digital Bridge, em 2019.

Nas faixas regionais, ainda de 3,5 GHz, empresas como Brisanet, Cloud2U, e Consórcio 5G saíram vitoriosas na disputa com novas entrantes na rede móvel. Elas atuam em equipamentos ou internet com fibra óptica e agora passarão a atuar também em rede móvel. Sercomtel e Algar, que já atuam no segmento, também levaram blocos regionais.

A Brisanet foi a responsável pelo maior ágio registrado em todo o certame, de 13.741% pelo lote regional do Nordeste. A empresa, com sede em Pereiro, no Ceará, é a maior provedora independente de internet por fibra óptica e atua neste segmento no interior do Nordeste. Ela arrematou também lote que contempla o Centro-Oeste (excetuando setores de Goiás e Mato Grosso do Sul, pelo qual ofereceu ágio de 4.054%).

O bloco regional mais disputado foi o da Região Sul. O Consórcio 5G — formado por Copel (Paraná) e Unifique (Santa Catarina e Rio Grande do Sul) venceu a Mega Net Provedor de Internet com lance de R$ 73 milhões pela faixa.

A Cloud2U venceu o bloco regional de 3,5GHz nos estados do Rio, Espírito Santo e Minas Gerais (exceto Triângulo Mineiro). A empresa ofereceu ágio de 6.266,25%. Ela será uma nova prestadora de serviço para a região e tem por trás as fabricantes brasileiras de equipamentos para redes Greatek e Skytech, com unidades em Ilhéus, Extrema e Manaus.

Os blocos de 26GHz foram os que menos atraíram interesse. A justificativa dada pela Anatel é de que o modelo de negócio dessa faixa ainda é incerto. Mesmo assim, Claro, Vivo e Tim compraram faixas. Lotes nacionais e regionais nessa faixa têm compromisso de implementação de projetos de conectividade em escolas públicas.

Algar Telecom, Fly Link e Neko levaram lotes regionais que possuem a mesma exigência. As duas últimas são novas prestadoras de serviço móvel no país e se juntam a empresas que decidiram entrar no segmento da internet móvel com o leilão do 5G.

A expectativa do mercado era de que não haveria interesse por todos os blocos da faixa de 26GHz. Por isso, os lotes que sobrarem podem ser licitados a partir do ano que vem, no chamado "leilão de sobras".  Essa faixa é a que entrega uma das principais características da tecnologia 5G: a baixa latência — menor tempo de atraso entre os dados. Mas ainda há dúvidas sobre como será feita a monetização da faixa.