Arte Plural abre duas novas exposições nesta terça-feira (9)
"Falar imagens. Ver palavras" e "A tessitura do gesto" contam com curadoria de Bruna Pedrosa
Duas exposições com olhares diversos para a criação artística ocupam, simultaneamente, a Arte Plural Galeria (APG). As mostras "Falar imagens. Ver palavras" e "A tessitura do gesto", ambas com curadoria da pesquisadora Bruna Pedrosa, ficam em cartaz de hoje até 29 de janeiro.
Montada no andar térreo da galeria, a coletiva "Falar imagens. Ver palavras" reúne trabalhos de nove artistas. Fotografias de Alexandre Severo (In Memoriam), Fred Jordão, Gustavo Bettini, Hélia Sheppa, Priscilla Buhr e Josivan Rodrigues dividem espaço com telas de Filippe Lyra e Renato Valle, além de gravuras e relicários de Sebastião Pedrosa.
A relação entre palavra e imagem é fio condutor do trabalho curatorial desta exposição. Bruna Pedrosa recorre ao mito grego de Eco e Narciso para conceituar a exposição. "A história fala desse lugar onde palavra e imagem nunca coincidem exatamente. Acredito que a arte é a responsável por criar uma comunicação entre esses dois universos", explica Bruna.
A disposição das obras no espaço expositivo foi pensada para gerar uma série de brincadeiras, que a curadora prefere não revelar ao público. "Nem todos vão perceber necessariamente da mesma forma. Não sou a favor de dar respostas prontas para o público, porque isso pode acabar limitando o olhar e as interpretações", aponta.
Com exceção de Josivan Rodrigues, que foi especialmente convidado para a ocasião, todos os artistas presentes na coletiva integram o casting na galeria. A maior parte das obras escolhidas está sendo exposta pela primeira vez. Algumas foram produzidas durante o período da pandemia e refletem questões do isolamento social, como a passagem do tempo. Em "Os dias nunca são iguais", Fred Jordão traz imagens produzidas de um mesmo ponto, em dias e horários diferentes. Já com "Hoje não" Priscila Buhr retrata pequenos detalhes do cotidiano dentro de casa, ao lado do filho e da mãe.
Entre linhas e retalhos
"A tessitura do gesto", que ocupa o segundo piso da Arte Plural, é assinada por Juliana Maia. Pernambucana radicada em São Paulo desde 2009, ela se dedica às técnicas da tecelagem, do bordado e da costura em seus trabalhos. É no têxtil que ela encontra motivo e suporte para a sua fruição artística.
"Na tecelagem, eu me interesso muito pela construção. Não estou preocupada com o resultado final, mas com a caminhada e as etapas. O comum é tecer e já ir construindo no próprio tear os desenhos e ornamentos. Eu faço apenas pedaços de tapetes ou de tecidos, saio do tear e vou construindo à mão o restante. O que me deixa impressionada é construir a partir das linhas", revela.
A maneira como Juliana ressignifica o material têxtil está explícita em "Das casas em que passei e que nunca existiram", que a artista encara como um projeto contínuo. Dos lugares por onde passa, ela vai coletando linhas, retalhos e outros fragmentos, recriando espaços imaginados a partir dessas junções.
Com "Um tanto por dia", Juliana dá ao público a possibilidade de acompanhar o seu processo criativo. A obra - um painel de tecido de 2,5m x 1,40m - será construída ao longo dos primeiros 16 dias da exposição. Sempre no período da tarde, a artista marcará presença na galeria e trabalhará inserindo elementos em trechos delimitados por linhas, formando pequenas obras individuais. "Não sei o que vai acontecer e acho isso muito instigante", comenta a artista.
Para Bruna Pedrosa, há pontos de diálogo entre as duas exposições que correm em paralelo. Isso fica mais evidente em uma das obras de Juliana, que apresenta cartas escritas com linhas de costura. "A própria palavra texto vem de tecer. Então, de uma forma não intencional, as duas propostas acabaram coincidindo de certa maneira", pontua Bruna.