COP26

Jovem indígena brasileira confronta Kátia Abreu sobre a "PL da Boiada", na qual ela é relatora

A senadora Kátia Abreu, então, diz não se lembrar, observando apenas a numeração, qual é aquele projeto de lei

Senadora Kátia Abreu (PP-TO) - Edilson Rodrigues / Agência Senado

Uma cena inusitada chamou atenção, nesta terça-feira (9), durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP26), que acontece em Glasgow, na Escócia. A senadora Kátia Abreu (PP-TO) acompanhava um evento no pavilhão oficial do governo brasileiro quando foi abordada por jovens que a entregaram uma caixa preta, com a inscrição: "Missão Impossível".

Ao abrir o pacote, ela se deparou, então, com uma ação contra o projeto de lei 2.159/202, o qual ela é relatora, que flexibilizaria as regras de licenciamento ambiental e deve ser votado após a convenção internacional. "PL da Boiada Não", diz o recado. Surpresa — e visivelmente sem graça — a parlamentar, então, sorriu e disse que não agiria contra a Amazônia.

—  Enquanto juventude brasileira, a gente vem falar com a senhora, lhe dar a missão, que é possível de a senhora realizar, que é barrar a aprovação da PL 2.159 — diz uma jovem indígena brasileira do coletivo Engajamundo, ao entregar a carta à senadora, em vídeo gravado em Glasgow.

Kátia Abreu, então, diz não se lembrar, observando apenas a numeração, qual é aquele projeto de lei. "É mais conhecido como o PL da Boiada", logo responde a indígena na gravação.

—  Ai, gente, que bonitinho —  diz a senadora, aos risos, que em seguida ainda beija a cabeça da ativista e complementa, antes de dar as costas e ir embora. — Pode deixar que nada faremos contra a nossa Amazônia, viu?

A chamada PL da Boiada é considerada pelos críticos como um retrocesso em relação às leis de licenciamento ambiental e, caso aprovada, poderia, segundo eles, resultar em catástrofes à natureza. Ela foi assim apelidada em referência ao vazamento de uma fala do ex-ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro, Ricardo Salles, durante uma reunião ministerial a portas fechadas, onde ele falou sobre deixar “passar a boiada” com a derrubada de exigências previstas em normas ambientais.

—  É o mais grave retrocesso em tramitação no Congresso Nacional — afirmou Mauricio Guetta, consultor jurídico do Instituto Socioambiental, que apoiou a ação. — A aprovação do PL implicará o aumento do desmatamento da Amazônia e a consequente inviabilidade do cumprimento de metas climáticas pelo Brasil. Impactará de forma irreversível em terras indígenas, unidades de conservação e territórios quilombolas. Ainda pode significar a proliferação de tragédias como as ocorridas em Mariana e Brumadinho (MG), o descontrole de todas as formas de poluição, com graves prejuízos à saúde e à qualidade de vida da população, além do aprofundamento da crise hídrica.

Kátia Abreu faz parte da comitiva brasileira em Glasgow para a COP26, e acompanhou, nesta terça-feira (9), o painel de abertura do Dia da Indústria, no pavilhão oficial do governo brasileiro no evento que contava com a presença do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, do Presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga, do Vice-presidente da Câmara dos Deputados, deputado Marcelo Ramos e o atual Ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite.